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Porto Esperança pode se tornar ponto turístico em Mato Grosso do Sul

Circuito MS

8:00 06/09/2021

Com construção de estrada, Porto Esperança surge como ponto turístico de MS para o futuro

“A água veio e levou

Porto Esperança ficou

Sem esperança de amor”

Cantado nos versos (acima) do poeta, publicitário e compositor Chico Lacerda, um dos fundadores do Grupo Acaba, o distrito de Porto Esperança é um lugar isolado em pleno século 21, embora distante apenas 80 km de Corumbá.

A falta de acesso por terra e o inviável transporte fluvial deixaram seus moradores à margem, literalmente, dos serviços essenciais – invisíveis e sem dignidade.

Depois de quase um século, o pequeno povoado situado na margem esquerda do Rio Paraguai vai ganhar uma estrada, a ser construída pelo governo do Estado, para chegar à BR-262, rodovia que demanda à Capital do Pantanal e que interliga aquela gente humilde ao mundo, conquista que os mais antigos deixaram de sonhar.

Afinal, foram tantas promessas não cumpridas.

Natalina Mendes, líder comunitária, chorou com a chegada do governador Reinado Azambuja e sua comitiva, de helicóptero, no dia 10, para assinar a ordem de serviço para implantação de 11,2 km de uma estrada encascalhada com resíduos de minério de ferro cedidos pela mineradora Vale.

“Estão trazendo prosperidade, uma maneira ilustre de viver a vida”, disse ela.

Trilhos da vida

As lágrimas de Natalina acumulam anos de luta, vida precária e sem um horizonte que apontasse mudanças no ritmo de uma comunidade que parou no tempo, sem perspectivas.

Porto Esperança surgiu depois da Guerra do Paraguai (1864-1870) e prosperou como transbordo de cargas e de passageiros com a chegada da ferrovia Noroeste do Brasil, em 1914.

“Eram tempos efervescentes, o trem e os navios a vapor traziam vida à região, que teve a maior mesa arrecadadora de Mato Grosso”, conta, com orgulho, Moacir Lacerda, irmão de Chico Lacerda, nascido na vila na cheia de 1951. Também poeta, engenheiro e fundador do Acaba, as composições de Moacir falam do lamento, do cotidiano e da infância na terra natal.

O povoado prosperou, dependente daqueles modais de transporte. Contava com cartório, delegacia e agência dos Correios.

Os trilhos partiam de Bauru (SP) e chegavam à beira do rio trazendo pessoas e mercadorias, as quais seguiam de navios para Corumbá e para Cuiabá. Fernando Viera era uma dessas embarcações, velha canhoneira da Marinha adaptada para o transporte de passageiros após a guerra.

Tempos difíceis

A construção da ponte ferroviária Eurico Gaspar Dutra sobre o Rio Paraguai, inaugurada em 1947 e trafegável a partir de 1952, decretou a decadência do porto, na época com cinco mil habitantes.

Com o novo traçado da ferrovia para Corumbá, concluído na década de 1950, contornando o povoado, este perdeu seu poder econômico e os seus encantos, como previu reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, em 1948.

A alternativa de renda passou a ser o Trem do Pantanal, que parava na Estação Inocêncio, a 5 km da vila.

“A gente vendia de tudo, peixe frito, chipa. Quando o [transporte de] passageiro parou [em meados da década de 1990] foi um Deus nos acuda. Muitos, como eu, passaram a viver da pesca, mas foram tempos difíceis”, conta um dos mais antigos moradores, Sérgio Matos, 70 anos, aposentado.

O fim do “passageiro” esvaziou o distrito, muita gente foi embora. Restou o rio para ir à cidade. Porém, o custo da viagem a Corumbá é de R$ 300 – barco até a BR-262 e ônibus. Por décadas, o lugar amargou o abandono e o isolamento.

Hoje, 130 famílias vivem unicamente da pesca e da ajuda humanitária da prefeitura, que, periodicamente, leva assistência médica e cidadania.

“A água veio e levou

Os trilhos da Noroeste

E as viagens de vapor”

FUTURA ESTRADA

Em 2013, a empresa agropecuária Brahman Beef Show sitiou a vila, alegando que suas terras chegavam à beira do rio.

Coagidos, alguns moradores venderam suas casas e seus ranchos de palafitas e foram impedidos de usar a estrada velha de acesso à BR-262, aberta pela comunidade.

Com apoio do deputado Evander Vendramini, o direito à propriedade foi garantido, em ação do Ministério Público Federal.

Os tempos de prosperidade, no entanto, estão de volta com a futura estrada e a estação de tratamento de água construída pela Sanesul, o maior benefício recebido depois da energia elétrica, em 2001.

“Isso aqui tem muita história, não pode acabar”, diz o líder comunitário José Domingos, 55 anos, que ousou escrever uma carta ao governador pedindo a estrada.

BOCA DE ARMAU

Teve prospecção da Petrobras, nos anos 1950, em busca de petróleo no Pantanal. O cancioneiro Mário Zan compôs a música “Seriema” nas suas barrancas.

A mãe do controvertido narrador Galvão Bueno nasceu naquelas paragens, onde Martinho da Vila, malandro pescador, compôs “Jaguatirica”. Há quem garanta que os Rolling Stones passaram por lá, e Mick Jagger ganhou o apelido de “boca de armau”.

CORUMBÁ, CIDADE DO PANTANAL

Próxima a Porto Esperança, Corumbá já tem um nome consolidado no turismo brasileiro. O município de Mato Grosso do Sul, conhecido também como Cidade Branca, tem 60% do seu território formado pelo Pantanal.

Apesar das constantes queimadas na região, ainda há muito do bioma que pode ser explorado pelos turistas.

A cidade em si, abriga uma série de construções históricas que contam uma parte da história de Corumbá, que no passado já foi o terceiro maior porto fluvial da América Latina.

Os casarões ainda estão na região do Porto Geral, de frente para o Rio Paraguai, onde é possível passear de chalana e aproveitar a culinária típica pantaneira.

Outro ponto interessante da cidade é o Cristo Rei, que recentemente foi reformado.

Elencado pelo governo do Estado como um dos 12 pontos turísticos mais importantes de Corumbá, o Cristo Rei do Pantanal voltou a receber a visita de turistas e de moradores da região em agosto deste ano.

Todas as 72 estátuas que simbolizam a via-sacra, as 14 estações ao longo da subida, além da imagem do próprio Cristo, de 12 metros de altura, foram restauradas. De lá, durante a cheia do rio, é possível ver um pouco do esplendor do Pantanal.

A Cidade Branca ainda tem inúmeras curiosidades, como a Praça da Independência, que começou a ser erguida em 1915 e originalmente seria um zoológico.

Via Correio do Estado

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