GERALDO RAMON PEREIRA
17:20 26/04/2018
Conhecido como Gê da Viola, o poeta-violeiro, Geraldo Ramon Pereira nasceu em Maracaju, MS, no dia 7 de outubro de 1939. Vive em Campo Grande desde um ano de idade. Formado inicialmente em Odontologia, depois estudou na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, SP, onde se especializou em Fisiologia Médica e Biofísica, fazendo depois pós-gradução na Unicamp. Professor tiular aposentado da UFMS, é autor de 8 livros publicados, dois CDs com música regionais. Jornalista, coordena o Suplmento Cultgural do Jornal Correio do Estado. Autor de mais de 250 sonetos. Site: www.gedaviola.com.br
CABELUDO
Já estou cheio de tudo …
Ninguém corta cabelo
e só eu sou cabeludo!
No entanto, essa mania
de não ir mais ao barbeiro
só lhe traz economia …
E por outra, lá em casa
todos entraram na roda:
minha irmã usa apenas “saia-cinto”
porque diz que está na moda …
Meu irmão nem usa cueca!
E sou eu quem paga por tudo,
por ser humilde cabeludo
filho de um pai careca!
A CULPA É DE VOCÊS
Me fizeram bonitão:
alto, forte, esbelto,
cabeludo, um pão…
Me criaram com toddy,
caldo de carne, vitaminas …
Vejam se pode:
Essas boas meninas,
afinal, não estão nem aí
e gamam no papai aqui!
Depois, me deram um carrão:
tala larga, rodas Fittipaldi,
vidros raibã, aquele som …
Tudo de bom:
Ora, bolas:
E agora vocês me perturbam
com esse falatório indiscreto,
dizendo que eu sou culpado
de tão jovem lhes dar um neto!
E eu nem aí estou:
antes ser um “papai jovem”
do que “coroa vovô”!
CONSELHOS DO “VELHO”
—Escute o “coroa” aqui:
zíper só vive enguiçando,
é bem melhor o botão …
Calça larga vai arrastando
e suja toda no chão;
siga, pois, a minha seita:
calça — só de boca estreita;
braguilha — somente com botão.
—Meu chapa, que cafonice …
Quantas vezes já lhe disse
que tempo na vida é ouro:? .. .
E se de repente a polícia
pegar a gente com malícia,
sossegado, nalgum matão …
Como fazer, no apuro,
pra vestir calça estreita no escuro
e abotoar tanto botão?! …
Vai-e-volta
Meu Deus, ei-la de volta! E tão mais bela
E tão diaba e tão santa em sua graça,
Que a luta em vão para esquecer-me dela
Só pôs fogo à paixão que me devassa!
A um tempo, ela me cura e traz sequela,
E quanto mais machuca, mais me enlaça…
Da vida minha é dúbia sentinela,
Se a mim volta, me alegra e me desgraça!
Imploro então que logo vá-se embora,
Que minha dor carregue mundo afora,
Que agora vou sorrir com ela ausente…
Mas tão logo a expulso aos olhos meus,
Eis-me de novo suplicando a Deus
Que à minha vida a traga novamente!
Boa-ventura
Rosa é do amor, espinho é desventura;
Deserto é sede, oásis é alento;
A mão divina às vezes refulgura
Plasmada em elo de ouro e sofrimento!
Assim, teceu-nos Deus uma Escritura
Tão cheia de contraste e amor-tormento;
A vida esconde em si a sepultura,
Cada alegria agoura algoz lamento!
Perdão, Senhor, por esta investidura
Do meu efémero ao teu ab aeterno:
Acho que exageraste na amargura
Da mãe que perde o filho amado e temo.
Seria a vida santa Boa-ventura
Se o convívio “mãe-filho” fosse eterno!…
Comente esta notícia
compartilhar