Agro

“Sobe e desce” do dólar impacta do preço do pão à produção agrícola

Circuito MS

7:50 25/08/2018

[Via Campo Grande News]

As variações do dólar registradas nos últimos meses, e que se intensificaram na última semana, trazem reflexos que vão do começo do dia, no café da manhã, ao planejamento da viagem de férias, passando por setores essenciais, como o agronegócio. Nesta semana, com os rumores provocados pelas pesquisas eleitorais para presidente, a moeda norte-americana chegou a ficar cotada a R$ 4,12, terceiro maior valor desde o Plano Real.

O reflexo no bolso de quem paga contas em Real é direto. Há setores, como o agronegócio, que são afetados tanto de forma positiva quanto negativa, pois o dólar é a moeda que serve para balizar custos de produção, com fertilizantes e defensivos agrícolas importados. Ou seja, com o dólar mais caro, o custo de produção aumenta ou vice-versa.

 Para o “cidadão comum”, o impacto é certo nos indices inflacionários. No mês passado, a inflação recuou em Campo Grande e fechou em 0,33%, já com algum reflexo da valorização da moeda norte-americana. A variação nos preços acumulou alta de 2,44% durante o ano e de 4,05% nos últimos 12 meses, perto do teto do CMN (Conselho Monetário Nacional) de 4,5%.

O coordenador do Nepes (Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômicas e Sociais), professor Celso Correia de Souza, afirma que ainda não há um balanço da inflação de agosto, mas já se pode dizer que o pão e derivados do trigo terão diferença de preços.

Recomendação – Celso pontua que o país importa muito grão, por isso, sofre influência do dólar. Porém, alerta, neste momento, a preocupação também deve abranger o uso do cartão de crédito e na escolha de pacotes turísticos, quando as viagens nacionais se tornam melhores opções.

“Nós importamos trigo e grande parte da gasolina. Isso desde que houve a opção de exportar petróleo e importar parte do combustível. Mas vêm outros setores, como o turismo e uso do cartão de crédito. Quem está comprando muito no cartão sofrerá os impactos no próximo mês, mas empresas domésticas de turismo também lucram com isso, já que os pacotes internacionais saltam de preço. Para os consumidores vai ficar mais barato viajar para o nordeste do que para o exterior”, disse.

Panificadoras já sofriam impactos desde junho e, devido a isso chegou a iniciar agosto com alta de 10% no quilo do pão francês com salto de R$ 12,50 para R$ 14,02. (Foto: Fiems)Panificadoras já sofriam impactos desde junho e, devido a isso chegou a iniciar agosto com alta de 10% no quilo do pão francês com salto de R$ 12,50 para R$ 14,02. (Foto: Fiems)

De acordo com o presidente do Sindepan (Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria), Marcelo Novaes, o impacto não é novidade. Segundo ele, o setor já estava sofrendo impactos desde junho e, devido a isso chegou a iniciar agosto com alta de 10% no quilo do pão francês com salto de R$ 12,50 para R$ 14,02.

“Os impactos com a alta (dólar) são imediatos, mas também existe a época de estiagem nas plantações de trigo. A gente importa trigo da Argentina (que é vendido em dólar) e eles estão com pouca farinha e problema na economia. Desde, então, estão esperando um bom momento para colocar no mercado e tudo isso altera o preço. Outro fator seria algumas transportadoras, que já utilizam uma nova tabela de preços de frete”, disse.

O transporte também atinge o setor de restaurantes. O presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Juliano Battistel Kamm Wertheimer, ressalta que 100% das mercadorias usadas nos estabelecimentos são transportadas.

“Primeiramente, o próprio preço do petróleo, que reflete no preço do transporte. Como nossas mercadorias são 100% transportadas, percebemos o impacto no preço do frete. Muitos produtos são importados e indexados ao dólar, no caso do salmão, e até os vinhos, que mesmo importados do Chile e Europa vêm em dólar. O que o empresário pode fazer é tentar substituir os produtos importados por nacionais, sem comprometer a qualidade. É claro, que mesmo com a tentativa de manter qualidade e preço justo, lá na ponta acaba se passando o custo para o cliente”, disse.

Por outro lado, o diretor da SetLog (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul), Dorival Oliveira, pontua que o frete dentro do país continua igual, não é o vilão da subida dos preços neste momento, pois a variação cambial não afeta os transportes internos. “O que vai ficar mais caro para esse setor, é o preço da matéria prima que ele está adquirindo e é importada, portanto na ora de fazer o pagamento em dólar, ele vai precisar de uma maior quantidade de reais para pagar”, disse.

Ainda segundo Dorival, o Setlog orienta que os transportadores respeitem os preços mínimos constantes da tabela de custo de frete mínimo, pois com a prática contra a lei, não conseguirá resultado suficiente para pagar as despesas que terá para realizar o transporte.

“Os empresários que se utilizam de transporte terceirizado, sabem que o valor do frete é o menor dos custos em sua planilha de produção, diferente do que a mídia vem afirmando que a utilização da tabela de preços mínimos do frete causou inflação é mentira, pois o frete representa em média 1,5% dos preços finais dos produtos industrializados, então um reajuste mesmo que de alta monta no valor do frete não faria diferença nenhuma na composição final do preço dos produtos”, finaliza o diretor.

A maioria dos fretistas já começou a incorporar os novos preços. Uma audiência pública foi marcada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para o dia 27 de agosto entre representantes do setor produtivo e dos caminhoneiros. A CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos) defende um preço mínimo a ser praticado, já a CNI (confederação da indústria) e a CNA (da agricultura) propõem uma tabela com preços de referência.

E no agronegócio? A analista técnica do Sistema Famasul, Eliamar Oliveira, explica que a elevação do dólar impacta tanto positivamente, como negativamente, no setor agropecuário de Mato Grosso do Sul.

“Se, por um lado, o dólar valorizado contribui para a manutenção dos bons preços da soja e do milho no mercado interno, mesmo em momentos no qual a Bolsa de Chicago registra cotações em queda, como temos visto nos últimos pregões”, explica.

Além disso, segundo Eliamar, o dólar valorizado mantém o cenário favorável para as exportações tendo em vista que os produtos ficam mais competitivos no mercado externo.

“Por outro lado, tal cenário reflete negativamente na produção à medida que encarece o componente que responde por mais de 46% dos custos de produção de grãos, os insumos (fertilizantes, adubos, defensivos), isso porque o Brasil importa entre 70% e 75% do que é consumido”, explica.

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