Campo Grande

Experimentar arte contemporânea é como provar um novo sabor de sorvete

Circuito MS

9:50 19/10/2018

[Via Campo Grande News]

De portas abertas para o Parque das Nações Indígenas e com entrada gratuita, a intervenção no MARCO (Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul) “F5” começa hoje com oficinas, música, poesia, exposições e interações propostas para as pessoas enxergarem de uma maneira diferente a vida e a arte. O evento vai até domingo (21).

“Toda arte é interativa, você vai sair daqui e vai interpretar de acordo com a sua vivência, ela só é arte quando existe contato entre humano e objeto”, explica Natacha Figueiredo Miranda, artista e arquiteta que também faz parte da organização do evento. É daí a origem curiosa do nome “F5”, que vem da proposta de criar um espaço que integre arte e a tecnologia, e aberto para a interação dos visitantes.

Interação das crianças que brincavam no parque com as obras de arte em montagem (Foto: Natacha Figueiredo)Interação das crianças que brincavam no parque com as obras de arte em montagem (Foto: Natacha Figueiredo)

A exposição apresenta Pinel (Natacha Figueiredo Miranda), Aracnídeos Globais (Sol Ztt), Terrorismo Visual (Figgy Isa), Posters (Signor Eduardo), Lè’dgar Gyan (Nattalia Pompeo), Poemas Cibernéticos (Vini Willyan), Surrealismo Mecatônico (Atlantte Mecatrônico Surreal e Mariana Arndt), Ni Una Mas (Márcia Albuquerque e Paola Goya Kohagura).

Quando o Lado B visitou o Marco para conversar com os artistas, o processo de montagem ainda não havia acabado, pelo contrário, prometia levar a noite toda. Ainda assim, a sensação de “inacabado” não decepcionou ou deixou qualquer vazio.

Durante às 2h de observação, ao contrário do que muita gente pensa, percebemos que arte contemporânea não é assim tão distante do dia-a-dia. Ela está na colaboração dos amigos ajudando um ao outro na hora de colocar de pé as estruturas, na conversa dos bastidores, na porta de vidro que servia de moldura para a vista do parque, dos passarinhos do lado fora, nas vigas que mantém o museu em pé, nas cores e na falta delas. Principalmente, estava na experiência de ver o começo de tudo e na curiosidade pelo desfecho.

Estrutura montada pelas artistas Natacha Figueiredo e  Sol Ztt antes da intervenção do público (Foto: Kimberly Teodoro)Estrutura montada pelas artistas Natacha Figueiredo e Sol Ztt antes da intervenção do público (Foto: Kimberly Teodoro)

Pinel, por exemplo, é uma estrutura montada por Natacha com barras de alumínio sustentadas por fios de aço, leve e versátil. É uma técnica de arquitetura que pode servir para construir casas e manter pontes de toneladas em pé, mas que dessa vez, em uma escala menor, estará ao alcance do toque.

A obra já foi exposta em outros formatos, misturando tecnologia ao cenário, na tentativa de um “desabafo”, de transmitir a ideia do momento do “surto de ansiedade e depressão”, o sufoco de estar preso ou livre dentro de uma estrutura lúdica. Um pouco das experiências anteriores está no vídeo no fim da matéria.

“Outro dia me perguntaram se eu não tinha medo de expor que essa experiência (de surtos psicológicos) causasse repulsa ao invés da empatia nas pessoas. Mas por esse lado, se eu levo uma pessoa em uma favela e ela vê pessoas passando fome e lutando para sobreviver e não se comove, se não gera empatia, se ela sente repulsa por pessoas nessa situação, o problema maior está aonde?”, relata Natacha.

Os aracnídeos também são estruturas arquitetônicas projetas com ajuda de tecnologia e trabalho manual (Foto: Arquivo Pessoal)Os aracnídeos também são estruturas arquitetônicas projetas com ajuda de tecnologia e trabalho manual (Foto: Arquivo Pessoal)

Aracnídeos Globais, da artista Sol Ztt, surgiu da vivência de viagens de mochila pelo mundo, da troca de experiência com outras pessoas na mesma situação e na percepção de que a mobilidade é uma tendência cada vez maior, seja pelo estilo de vida de quem viaja pelo mundo morando em barracas e hosteis, ou pela necessidade de atender desabrigados em desastres naturais. As chamadas tesouras, que ela usa em seus “aracnídeos”, hoje são arte, mas também são estruturas capazes de se transformarem em casas, que de sua própria maneira continuarão sendo arte.

Quando as luzes foram acessas, a aproximação das crianças que brincavam no parque foi a maior prova de que a distância entre pessoas comuns e arte é pensamento ultrapassado. A reação natural foi a curiosidade captada para olhos infantis pelas estranhas esculturas de madeira e metal que estavam disponíveis para elas naquele momento, como estarão a partir de hoje para quem passar por lá. A experiência foi o contato com o novo, foi a descoberta e o interesse que muitas vezes “gente grande” já perdeu.

“Arte é vivência, é participação e estamos buscando despertar isso nas pessoas. Por que não podemos experimentar a arte como alguém que prova um novo sabor de sorvete?”, define Natacha. É tudo o que as crianças descobriram quando todas as outras portas do Marco já haviam fechado e a única luz acessa era a da exposição ainda em construção.

 

Curiosas, as crianças foram convidadas a participar e interagir com as montagens (Foto: Natasha Figueiredo)Curiosas, as crianças foram convidadas a participar e interagir com as montagens (Foto: Natasha Figueiredo)
Projeção, luz e som fazem parte da experiência do Pinel montado por Natacha (Foto: Arquivo Pessoal)Projeção, luz e som fazem parte da experiência do Pinel montado por Natacha (Foto: Arquivo Pessoal)

Oficinas – No sábado, das 8h às 12h e, das 14h às 17h, com continuação no domingo de 8h às 12h, serão realizadas as oficinas “Desconstruindo Aracnídeos”, com a proposta de colocar o público em contato com as obras e o entendimento sobre como a estrutura funciona, para que as pessoas possam montar, desmontar e rearranjar os nós mudando a obra em exposição.

A oficina “Atualizando Pinel” contará com experimentos de prototipagem física (construção de um modelo de “teste”) e digital, do aprendizado dos alunos a obra também será transformada e “atualizada”.

O custo das oficinas é de R$ 100,00 para estudantes e R$ 200,00 para funcionários, o valor será revertido para cobrir os custos de material utilizado no evento.

Programação – Sexta-feira (19) , às 19h a abertura terá a participação de Figgy Isa com a performance Terrorismo Visual.  Apresentação da “DJ GaBits” (Gabriela Pazini), e da banda “Os Quaaludes”.

Sábado (20), além das oficinas, também está previsto a exibição dos filmes: Corpo manifesto, produzido em São Paulo e as produções regionais O amor e o resto – da culinária ao caos e o teaser T’amo na rodoviária, pelo cineclube TransCine, com a participação de Mariana Sena Madureira Figueiró.

Às 20h30 a banda Elefante Mudo fehca as atividades do dia.

Domingo (21), o encerramento do evento terá as obras “atualizadas” com a participação dos público das oficinas, e às 19h a despedida conta com show da banda Cocho Elétrico.

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