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Grupo deixa Natal e virada do ano de lado, para cruzar o Atlântico com ajuda

Circuito MS

11:50 19/12/2018

[Via Campo Grande News]

Quando entramos em dezembro, a maioria das pessoas já tem uma noção do que vai fazer no Natal e na virada do ano. Alguns planejam ficar em casa com a família ou encontrar os amigos, outros pretendem viajar para a praia, ou acampar com a galera da firma. Mas com certeza, pouca gente passa o ano inteiro arrecadando dinheiro para chegar a um país pobre da África.

Em Campo Grande, um grupo de 16 pessoas vai contra a tradição. Eles se organizaram durante todo o ano, tiraram visto, arrecadaram dinheiro para passagens, hospedagem e alimentação, colocaram a saúde em dia, entre outras exigências da aventura, para atravessar o Atlântico até uma ilha de Guiné-Bissau, país no Noroeste do continente africano.

O time é formado por médicos, enfermeiros, dentistas, pastores adventistas, psicólogos, pedagogos e outros profissionais que atuam na área da assistência social. Ninguém vai a passeio, o jeito que essa turma encontrou para curtir as férias foi trabalhando pelo bem do outro. E essa não é a primeira vez que eles fazem isso – na virada do ano passado eles fizeram a mesma coisa.

Grupo leva ajuda humanitária a comunidade isolada de Guiné-Bissau. (Foto: Arquivo Pessoal)Grupo leva ajuda humanitária a comunidade isolada de Guiné-Bissau. (Foto: Arquivo Pessoal)

E apesar de ter a missão de também levar o evangelho aos habitantes da ilha, de acordo com o organizador do projeto, Claudeci Vieira, a igreja não banca a viagem do grupo – cada um dá seu jeito para pagar os custos de sua ida ao país. Ele explica ainda que nem todo mundo do grupo é da igreja – “nós estamos buscando pessoas. Não queremos olhar igreja, religião, simplesmente queremos pessoas que estejam dispostas a trabalhar pelo outro”.

Mas ele acrescenta que quem estiver pensando em se voluntariar deve levar em consideração algumas observações: “não precisa ser evangélico, mas a pessoa precisa se adaptar à algumas regras. O missionário não pode, por exemplo, puxar uma garrafa de cerveja, acender um cigarro. A gente tá indo lá pra melhorar a saúde daquelas pessoas, temos que dar um bom exemplo. A gente também tem hora pra dormir, pra acordar, tem que cuidar da saúde física” considera Claudeci.

O lugar escolhido para a expedição, batizada de Missão Andrews em homenagem ao primeiro missionário da Igreja Adventista do Sétimo Dia, foi a ilha de Bubaque, região extremamente carente daquele país.

Lá as comunidades, chamadas de tabancas, se mantém à base do extrativismo – pescam e coletam bananas, que com o arroz compõem a base da alimentação da ilha, onde as pessoas geralmente fazem uma única refeição por dia, devido à escassez dos alimentos. A hospedagem também não oferece nenhum luxo aos voluntários. Claudeci nos conta que conseguiram uma espécie de alojamento adaptado para o grupo num pequeno hotel da cidade, onde podem montar redes e colchões para dormir.

Além de remédios e roupas, missão presta apoio pedagógico às comunidades da ilha. (Foto: Arquivo Pessoal)Além de remédios e roupas, missão presta apoio pedagógico às comunidades da ilha. (Foto: Arquivo Pessoal)

Na ilha, o grupo leva assistência social às famílias, que vivem ali em condições precárias. O trabalho deles consiste, resumidamente, em fornecer atendimento social, medicamentos e roupas, além de oferecer palestras em escolas. Desta vez, porém, a missão tem um objetivo extra: instalar uma bomba d’água, movida à energia solar, no poço que eles restauraram na comunidade.

Para isso, estão contando com o apoio do professor Doutor Ruben Godoy, do curso de Engenharia Elétrica da UFMS. Mas o trabalho não acaba aí – além da bomba, eles ainda precisam instalar as placas solares e a caixa d’água para o armazenamento. A meta é ter água potável para todos da região, e Claudeci faz questão de registrar: não só para os membros da igreja local.

Sobre a escolha de abrir mão das férias, deixar de lado os feriados aqui no Brasil e embarcar nessa missão intercontinental, ele é enfático: “o que me tira daqui é o amor pelas pessoas. Receber uma criança com dor de dente, e a gente conseguir extrair, limpar, e ela sair feliz, agradecida.

Uma senhora trazer uma criança com uma ferida na perna, a gente poder limpar a ferida, curar a criança, e no final da semana ela estar jogando bola na rua, isso me motiva. Ver a alegria, a gratidão nas pessoas”, conta ele, que além de passar o natal e a virada do ano, vai passar o aniversário na ilha.

A estudante de Odontologia, Bruna de Mattos, atendeu população juntamente com a mãe, no início de 2018. (Foto: Arquivo Pessoal)A estudante de Odontologia, Bruna de Mattos, atendeu população juntamente com a mãe, no início de 2018. (Foto: Arquivo Pessoal)

A estudante de Odontologia Bruna de Mattos, de apenas 21 anos, que já esteve na ilha de Bubaque, diz que a experiência transformou sua vida, e não apenas do ponto de vista religioso. “Compartilhar o amor de Deus, não apenas indo lá levar o evangelho, mas ajudar com as necessidades daquelas pessoas”. Ela conta também que foi surpreendida com o que viveu na missão.

“Eu acho marcante que aquele velho ditado é muito real: ‘quem doa é quem mais recebe’. Eu fui pra lá achando que ajudaria, com meu conhecimento em odontologia, e acabei sendo a mais beneficiada, pelo amor e pela gratidão daquelas pessoas, que é uma coisa que a gente não encontra mais hoje em dia”, relata ela, que está embarcando novamente para Guiné-Bissau, dessa vez sem a companhia da mãe, que é dentista.

Claudeci, que é pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, também traz na memória experiências marcantes, de quando esteve em Guiné-Bissau pela primeira vez. “Nosso grupo havia comprado bastante banana e quando passamos por uma comunidade, no caminho, nós fomos comendo e jogando as cascas no chão. Mas quando nós olhamos pra trás, nós vimos que algumas crianças estavam recolhendo e comendo as cascas de banana que a gente havia jogado no caminho. Aquilo partiu o meu coração, e foi ali que eu decidi que a gente teria que voltar àquele lugar, que a gente ainda tinha muito o que fazer ali”, relembra.

Claudeci explica que para a última ida ao país o grupo arrecadou muita roupa e sapato. A alegria de quem recebeu foi enorme, assim como o valor pago pelo transporte. Agora, com a lição aprendida, a prioridade é levar medicamento, que além de ser extremamente necessário, é mais barato que roupas para ser transportado internacionalmente. “Vamos ter que pagar muito excesso de bagagem. E nós preferimos pagar em medicamentos e suplementos nutricionais. A prioridade agora é a saúde”.

E quem quer ajudar, mas não sabe como, a Missão Andrews ainda não conseguiu toda a quantia de medicamentos necessária para o período em que estarão na ilha. Eles ainda estão recebendo doações em medicamento e em dinheiro, e conforme explicou o organizador do projeto, “não importa se é muito ou pouco. Se cem pessoas doarem dez reais, já teremos mil reais; se mil pessoas doarem um real, teremos mil reais, e isso faz muita diferença”, afirma.

Para ajudar, basta ligar para os números (67) 98117-0502 ou (67) 9239-3858, ou ainda, procurar o perfil da Missão Andrews nas redes sociais.

Missão pretende retornar, a cada ano, para melhorar vida de comunidade carente em país africano. (Foto: Arquivo Pessoal)Missão pretende retornar, a cada ano, para melhorar vida de comunidade carente em país africano. (Foto: Arquivo Pessoal)

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