Calor e umidade explicam chuva em um bairro e zero gota d´água em outro
8:50 24/12/2018
[Via Campo Grande News]
As chuvas, intensas ou não, são o tipo de coisa esperada aos fins de ano, quando ocorre a passagem da primavera para o verão. Em Campo Grande, pancadas do fenômeno têm aliviado o calor em bairros aleatórios, mas ausência em outros pontos chama a atenção de moradores. No Bairro Nova Campo Grande, por exemplo, moradores não veem uma gota d’água há 15 dias.
De um lado poças d´água, do outro a poeira no nariz. A explicação para isso, segundo o meteorologista Natálio Abrahão, que atua na Estação Uniderp, é a junção do calor à umidade, comuns na primavera e verão. “As chuvas são mais frequentes em forma de pancadas isoladas, devido mais ao calor e a umidade relativa, que sobem mais. Dessa forma pode chover em um bairro e menos em outros”, explica Natálio.
Apesar da explicação, o meteorologista pontua que a resposta é dada a partir de análises amplas. “[A estação] sempre irá dizer que choveu na Capital e não em um local e outros não. Sempre foi assim”, finalizou.
O impressor Gilmar Lobato, de 31 anos, mora no Bairro Pioneira e nesta segunda-feira (24) visitava a mãe no Bairro Nova Campo Grande. Ele aproveitou para cortar a grama. “Eu acho engraçado, porque no sábado mesmo choveu forte lá em casa e aqui nenhuma gota. A dificuldade aqui é que quando não chove a poeira castiga. Meus filhos, de 3 e 10 anos, também moram aqui na região e o nariz já começa a escorrer, já fica doentes, é complicado”, disse.
Gilmar mora no Bairro Pioneira e se impressionou com a situação do bairro onde a mãe mora. (Foto: Kísie Ainoã)
A dona de casa Vera Maria Lopes, de 59 anos, conta que sem chuva já começa a tosse. “Ontem deu sinais de iria chover, mas aquilo tudo passou em volta da gente e foi embora. Eu até pensei que fosse amanhecer chovendo. O lado bom é que já deu uma refrescada”, disse.
A moradora Matilde Oliveira de Matos, de 78 anos, reclama da situação, mas pontua que as plantas são as que mais sofrem e precisam de atenção especial. Ela mesmo agradece a mangueira que protege sua casa do sol.
“Com o calor eu não sofro tanto, tenho sorte de morar em baixo de uma baita árvore, mas as plantinhas sofrem sem chuva”, disse a moradora.
O pedreiro Ivo Martins Souza, de 57 anos, é otimista. Ele cuida de uma plantação de mandioca e vê o lado bom até na estiagem. “Menos chuva é menos mato. É claro, é ruim ficar muito tempo sem chuva, mas tem o lado bom”, disse.
Em entrevista ao Campo Grande News, a meteorologista Catia Braga, à época, coordenadora técnica do Cemtec (Centro de Monitoramento de Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul) já havia explicado que toda essa mudança no clima se deve as “Ilhas de Calor”.
Um dos fatores é a formação do SCM (Sistema Conectivo de Mesoescala) constituído por aglomerados de nuvens que apresentam área de continua precipitação. Neste caso, as nuvens de posicionam na vertical, maiores que o comum, e em determinados locais onde o micro-clima está favorecendo o calor.
“Existe essa ilha de calor. O asfalto acumula uma temperatura muito alta e, por causa da poluição que a gente tem nos grandes centros, isso acaba favorecendo as nuvens mais carregadas, então elas têm um potencial para transtorno nas grandes cidades”, explica a especialista em clima.
Cátia pontua que no centro da cidade faz mais calor e chove um pouco mais que nas áreas rurais vizinhas; além disso, nessas áreas são também mais comuns as enchentes após algumas chuvas.
Como evitar as ilhas de calor? Uma das formas é a manutenção de áreas verdes nos centros urbanos, pois a vegetação altera os índices de reflexão do calor e favorece a manutenção da umidade relativa do ar. Os materiais usados na construção, como o asfalto e o concreto, servem como uma espécie de refletor para o calor produzido na cidade, isso aumenta o calor.
Bairros pouco arborizados também tendem a ser mais quentes que bairros residenciais de luxo, com poucas construções e muitas áreas verdes. Isso explica porque chove muito mais nesses locais.
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