Há 5 anos “preso a máquina”, Eurico é número 25 na lista de espera por um rim
9:50 03/01/2019
[Via Campo Grande News]
Expectativa é uma palavra da qual Eurico Moreira da Silva entende bem. Há 4 anos aguardando por um transplante de rim, ele já enfrentou duas paradas cardíacas, passou 10 dias em coma e chegou a ter morte cerebral cogitada pelos médicos. Na segunda reportagem sobre a corrida contra o tempo de quem espera um doador, a história é de Eurico, que viu os números da fila de espera caírem lentamente de 380 pessoas para 25, aumentando as possibilidades de que 2019 seja de fato o começo de uma nova vida para quem depende da máquina de hemodiálise há 5 anos.
Rotinas de hospital já são conhecidas de longa data por Eurico, que lida com a diabetes tipo 1 desde os 6 anos de idade, fazendo com que os cuidados com a saúde e alimentação fossem hábitos desde cedo, o que ainda assim não foi o suficiente para impedir que o quadro de diabetes desencadeasse os problemas renais que ele teve já na vida adulta.
Um dia, Eurico teve os primeiros sintomas de algo não ia bem. Ele se lembra de sentir enjoos muito fortes e sem explicação, o que o levou até o pronto atendimento do Hospital Sírio Libanês, onde ficou internado por uma semana e saiu direto para o tratamento dos rins.
No caso dele, a primeira tentativa dos médicos foi a diálise peritoneal, um procedimento em que um cateter é colocado na parte inferior do abdômen e pode ser usada para “limpar o sangue”, possibilitando que o paciente possa realizar o processo sozinho ou com a ajuda de alguém próximo, com a vantagem de não “ficar preso a máquina de hemodiálise”.
Pouco tempo depois, por uma inflamação no local, ele precisou retirar o cateter e “entrar de vez na máquina”, onde passa cerca de 4 horas por dia durante 3 vezes na semana, a única coisa que capaz prolongar a vida de Eurico até o transplante.
“A sensação é a de ter um espinho na pele, com o qual você precisa aprender a lidar, porque é o que te mantém vivo. Hoje, eu sou dependente da máquina, para viajar eu preciso agendar as sessões em outra unidade de tratamento, não posso ir para cidades que não tenham a hemodiálise, fazer viagens ao exterior e nem ficar mais de 2 dias sem fazer o tratamento”, conta.
Com a imunidade baixa, há cerca de 2 anos Eurico teve pneumonia. A consequência foram 2 paradas cardíacas, 10 dias em coma induzido. “Me lembro de ter acordado com a minha mãe sentada ao meu lado, eu vi todos os eletrodos grudados em mim, a primeira impressão é que eram buracos. Eu não fazia ideia do que tinha acontecido e perguntei para minha mãe se tinha sido baleado, foi aí que ela me contou o que aconteceu, mas não me lembro de nada”, relata.
Hoje Eurico não carrega sequelas do coma ou das paradas cardíacas e continua otimista na fila. Para que o transplante de rim seja realizado é necessário mais de 90% de compatibilidade e que as condições de saúde do paciente sejam boas, qualquer agravante como doenças hepáticas, cardiovasculares ou infecciosas não tratadas são impedimentos para a operação, por isso ele monitora de perto o estado de saúde, mantendo os exames em dia.
Há 2 meses a fila não anda, mas Eurico não perde as esperanças. Ele precisa ficar atento ao telefone, já que a qualquer momento pode receber uma ligação do hospital em São Paulo, avisando da possibilidade do transplante.
“Quando entramos na hemodiálise, as vezes achamos que vai ser um processo rápido e pior parte é sempre ter que lidar com a angústia da espera, porque acaba não sendo rápido. Ela prolonga a vida do paciente, mas a cura é só com o transplante. Por isso aceitar o tratamento é importante, no começo dói, as vezes temos efeito colateral e são anos em que a sua vida depende da máquina, mas precisamos continuar em frente, seguir a vida e levar essas 4 horas sem se deixar abater. É um tempo que conhecemos gente nova, podemos ler, estudar, fazer ser produtivo para não deixar a vida parar.”, explica otimista.
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