Diante de extermínio de abelhas urbanas, projeto quer salvar enxames
13:50 21/03/2019
[Voa Campo Grande News]
Fundamentais para toda a cadeia alimentar por serem as maiores responsáveis pela polinização, as abelhas estão desaparecendo. Com este panorama, projeto em Campo Grande quer salvar enxames que se instalam na cidade para ajudar a reverter o quadro e gerar renda para pequenos produtores.
“Eu e um parceiro somos preocupados com o sumiço das abelhas”, conta Adriano Adames de Souza, apicultor há 25 anos. O desaparecimento dos insetos é relacionado à mortandade devido o uso de agrotóxicos nas lavouras e acaba prejudicando a polinização, essencial para a reprodução vegetal.
É um fenômeno mundial, denominado de síndrome Distúrbio do Colapso das Colônias, conhecida pela sigla em inglês CCD (Colony Collapse Syndrome). Segundo a Embrapa, “o desaparecimento de abelhas no mundo é resultado de diversos problemas, entre os quais destacam-se o uso de agrotóxicos; a perda dos habitats em decorrência dos diversos usos da terra; patógenos e parasitas que atacam as colônias e as mudanças climáticas”.
“Temos acompanhado nas mídias esse problema que acontece no mundo todo. E Mato Grosso do Sul é um dos estados que têm maior mortandade de abelhas pelo uso indiscriminado de agrotóxicos”, afirma Adriano. “Eu tenho colmeias em locais que têm agricultura e as abelhas conseguem conviver tranquilamente. Mas tem muitos produtores que usam superdosagem e acaba prejudicando”, explica.
Abelhas na cidade – “Encontramos na cidade um problema grave de extermínio de abelhas. Tem muita abelha urbana. Traz problema para a população, oferece risco mesmo. Pessoas podem morrer com a picada de algumas espécies”, alerta Adriano. “Mas sem as abelhas, ocorre a perda da polinização”, adverte. Desmatamento e aumento da temperatura podem explicar porque as abelhas deixam o meio rural e migram para as cidades.
Movido por iniciativa própria, Adriano coletou entre 200 a 300 enxames de abelhas de diversas espécies em 2018, mas ele alerta que se perde muito mais do que isso. Dados do Corpo de Bombeiros mostram que no ano passado a corporação atendeu a 1.565 chamados relacionados aos insetos, resultando numa média mensal de 130. Em 2019 foram realizados 431 atendimentos do tipo.
De acordo com Adriano, o Corpo de Bombeiros extermina os enxames quando são acionados. A corporação, por sua vez, informa que não tem a estatística de quantos abelheiros são salvos e quantos são exterminados. O apicultor realiza a captura das abelhas tantas vezes quantas lhe é possível, mas não consegue atender a toda a demanda. O Corpo de Bombeiros confirma que existe uma parceria informal com alguns apicultores que removem os enxames “de acordo com a necessidade e interesse dos mesmos”.
Para agilizar e facilitar o trabalho Adriano devolveu um equipamento para coletar as abelhas. “Não foi eu que inventei. Eu fiz depois de ver outros equipamentos pela Internet nos Estados Unidos. Mas não tem nada parecido no Brasil”, conta Adriano. Uma caixa de tela é posicionada dentro de uma caixa de madeira que possui um dispositivo semelhante a um aspirador, mas com potência de empuxo adequado para não ferir as abelhas.
Ainda, com a ajuda da esposa de um amigo, ele desenvolveu trajes 100% à prova de ferroadas. “Com 25 anos trabalhando com abelhas, já levei muitas ferroadas”, explica a motivação. Vários materiais foram testados, até chegar ao resultado final, que une dois tecidos telados que permitem a ventilação e tem a espessura que o ferrão não atravessa. Assista, no fim desta matéria, um vídeo que mostra o procedimento e os trajes.
Devoção – “Diante de tudo isso, comecei a idealizar algo que eu pudesse fazer minha parte”, conta Adriano, que além de profissão, tem a apicultura como uma devoção. Além de salvar os enxames e doar as colmeias para pequenos agricultores, ele se preocupa com aqueles que estão iniciando a atividade.
O zelo de Adriano foi percebido pela gerência da Incubadora Municipal Edward Norman Hanson, onde Adriano é incubado e leva as matérias-primas de suas colmeias para passarem por beneficiamento, inspeção e envase. “Adriano é meu incubado como empresa de beneficiamento. Quando trouxe esse problema, começamos a desenvolver o projeto que se encaixa nisso”, conta Bárbara Bottino, gerente da Incubadora.
“A missão da incubadora é gerar emprego, renda e qualificar comunidade, e ele viu a possibilidade de juntar as coisas”, esclarece ela. Junto à Sedesc (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia), a qual a incubadora é ligada, Adriano desenvolve o projeto chamado SOS Abelhas.
“A ideia estabelecer uma parceria com o poder público para recolher os enxames que incomodam na cidade, organizar em colmeias, doar para pequenos produtores da agricultura familiar e dar consultoria e treinamento a eles. No final de tudo, isso vai gerar renda e emprego”, diz Adriano. A Incubadora Municipal possui entreposto de mel, onde os produtores podem beneficiar e ter os serviços de inspeção e envase, o que agrega valor aos produtos.
Segundo o apicultor, com 5 colmeias é possível produzir no mínimo 200 kg de mel no ano que, após todo o processo, pode ser vendido a pelo menos R$ 30,00/quilo, o que gera uma receita anual adicional de R$ 6.000,00, já que o produtor vai agregar a atividade à sua propriedade.
A Incubadora Municipal Edward Norman Hanson fica na avenida Alberto Carlos Mendonça Lima, 2251, Jardim São Conrado. O telefone é 4042-2423.
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