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Sem conseguir sair da cama, Janete sobreviveu à depressão com novo ofício

Circuito MS

17:50 21/03/2019

[Via Campo Grande News]

Com depressão, Janete Ribeiro, de 48 anos, chegou a ficar praticamente uma semana sem conseguir sair da cama. Foram três anos de luta contra a doença, tomando fortes medicamentos e fazendo terapia. Porém, ao sentir que não estava melhorando, ela deu uma guinada e encontrou a cura que precisava no artesanato.

Casada e mãe de 3 meninos, Janete dividia seu tempo entre o trabalho como agente de operações e o trabalho em casa: cozinhar, lavar, passar e limpar. Serviço esse que não tem fim.

Foi quando no final de 2015 dentro do ônibus no caminho para o trabalho, que ela teve a primeira crise. “Estava sufocada, não conseguia respirar. E ficou pior ainda. Não sabia se descia ou não do ônibus e foi quando liguei para o meu marido”, relata.

A orientação que recebeu foi a de desembarcar e esperar o marido. Dali, os dois foram direto para o hospital. “Passei por vários exames e depois de ser encaminhada a um psiquiatra ele me disse que tive uma crise de Síndrome do Pânico”, detalha.

Com a informação, Janete foi em busca de tratamento, o que rendeu sua primeira licença no trabalho. “Fiquei 10 meses afastada, tomando três medicamentos diferentes e fazendo terapia. Além da síndrome do pânico, depois de apresentar exames e contar sobre o meu dia a dia, o médico que eu estava no início de uma depressão”.

Contudo, mesmo seguindo à risca o tratamento Janete diz que continuava a não sentir bem e só dormia a base de remédios. “Minha licença venceu e voltei ao trabalho. Mas, em pouco tempo voltei a ter de novo as crises. Retornei ao médico e as doses dos remédios foram aumentadas”, conta.

Veio a nova licença do trabalho. Janete diz que passava a maior parte do tempo dopada, sem conseguir compreender o que se passava a sua volta. “Ficava só na cama, enquanto isso minha família estava se virando como podia. Mas, em um momento de lucidez eu percebi que precisava sair daquilo de algum jeito. Reagir e voltar a minha família”, diz.

Neste dia, ela resolveu não tomar as altas doses dos remédios, mas foi advertida pelo marido que não conseguiria dormir. “Eu disse a ele que iria dormir sim. Porém, se consegui fechar os olhos por 2h foi muito”, afirma.

Mas, era realmente o que Janete precisava. Ficar sem dormir, sair da cama e tentar algo, que para todos seria muito comum neste caso: entrar na internet. “Não tinha esse habito. Porém, comecei a ver e a seguir várias artesãs, que postavam seu trabalho e inclusive faziam live de como fazer as peças. Fiquei encantada por aquilo”, relata.

Entretanto, antes que pudesse pensar em outra coisa, mais uma vez a licença venceu e Janete voltou a rotina, que a adoeceu. “Dessa vez que voltei eu tinha certeza que não queria mais isso para mim e me desliguei da empresa onde fiquei por 6 anos”.

Parece até isso ajudou Janete a vencer. Com o pouquinho de dinheiro que conseguiu pegar deixando o emprego ela comprou uma máquina de costura e tratou de tentar aprender o que as artesãs blogueiras ensinavam.

“Comecei com o pano de prato e deu super certo. Me senti muito bem. Mas, a peça chave nesse processo foi a minha irmã, que me disse que venderia o que eu fizesse”, afirma.

Dito e feito! A irmã de Janete vendeu todos os panos de pratos e continuou a vender qualquer que fosse a quantidade produzida para ajudar.

O que nenhuma das duas se deu conta é que a cada venda, Janete se fortalecia e o pedido de um dos seus filhos seria o impulso que estava faltando para que ela deslanchasse.

“Um dos meus meninos pediu para que eu fizesse um estojo para ele. Fui atrás de como fazer, olhei e fiz. Nisso, eu percebi que daria conta então de fazer muito mais coisas. O curioso é que já não tinha mais crises. Estava de volta à ativa e feliz. Muito feliz”, conta.

Assim, como os panos de pratos a irmã de Janete então passou a vender qualquer peça produzida que ia do estojo, bolsas e até mochilas, tudo personalizado.

Os negócios foram crescendo e Janete então precisou deixar a pequena máquina de costura para adquirir uma industrial. Mas, a confecção continuava a ser 100% dela. “Esse ano, por exemplo, fiz todas as mochilas dos meus filhos e sobrinhos”, diz.

Segundo ela, mesmo com a máquina industrial, a produção é bem caseira. Feita em casa, de maneira caprichada. “Fiquei tão antenada, que todos os materiais que utilizo são pedidos da internet”. Ela se refere ao tecido sintético, tintas e outros acessórios, que compõem suas peças.

Hoje, livre dos remédios e das crises, Janete diz que o artesanato salvou sua e vida e também ajudou muito a família, já que atualmente ela consegue tirar muito mais do que o antigo salario como operadora.

“Nunca desistam. Se levantem quantas vezes for necessário. E, pela experiência que tive eu figo, usem o corpo como o próprio termômetro, ele vai dizer o que está errado”, aconselha.

Sobre metas, Janete pensa em agregar mais conhecimento. Esse ano está com vontade de participar de uma feita de empreendedorismo em São Paulo, onde quer se atualizar do que está em alta para o seu ramo. “Sempre em frente né”.

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