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Boêmia do avô inspirou Marcos a fotografar e valorizar detalhes da vida

Circuito MS

10:51 20/06/2019

[Via Campo Grande News]

Recordar é viver, e cada detalhe, flash do passado, faz o fotógrafo Marcos Maluf entender o avô, Clóvis Maluf, e valorizar a vida. As recordações de estar sentado ao lado dele, lendo jornal impresso, na varanda da casa onde moravam, não saem de suas lembranças. Na época, preferia ver as imagens e sempre ouvia dizer que a fotografia é uma forma de poesia. A frase ficou na cabeça do menino, que cresceu e agora vai homenageá-lo com a exposição fotográfica “Olhar do Boêmio”, na próxima semana.

Não é uma coleta de fotos antigas, mas memórias que viraram registros recentes, com outros personagens, em situações que lembram o passado do menino e do avô. “É como se fosse o olhar dele. Ele era um seresteiro, boêmio, enxergava dessa maneira simples. Tinha sensibilidade para as coisas, escrevia poesias, tomava um trago [bebia], e conversa muito comigo sobre fotografia, dizia que também era um tipo de poesia”, contou Marcos.

Clóvis ao lado da avó de Marcos Maluf (Foto: Arquivo pessoal)Clóvis ao lado da avó de Marcos Maluf (Foto: Arquivo pessoal)

O fotógrafo foi criado com o avô, aprendeu muitas coisas e eles tinham uma ligação forte, contudo, Clóvis faleceu há dois anos.

Quando tinha cinco anos de idade, seus pais se separaram, então Marcos se mudou com a mãe para a casa dos avós. A mudança fez com que ele se aproximasse de Clóvis, inclusive, acordando cedo para acompanhar a rotina vô.

Varanda, cadeira e jornal, era assim que começava o dia. O menino tinha de levantar uma hora e meia ou duas antes do horário de ir para a escola, porque o avô queria conversar e passar o tempo. “Acordava dizendo que estava na hora ou atrasado”, lembrou.

“Ele tinha um caderninho de escrever poesias, e eu questionava ele sobre o que era poesia. Me respondia explicando que era uma forma de expressar, de colocar para fora os sentimentos bons e ruins”.

Noite em volta de uma fogueira para se aquecer (Foto: Marcos Maluf)Noite em volta de uma fogueira para se aquecer (Foto: Marcos Maluf)
A vida no campo também retrata um pouco da vida do avó do fotógrafo (Foto: Marcos Maluf)A vida no campo também retrata um pouco da vida do avó do fotógrafo (Foto: Marcos Maluf)

Entre os 12 e 14 anos de idade, Marcos foi morar com o pai biológico e trabalhou como carroceiro, ajudou a podar árvores, limpou terrenos para conseguir dinheiro. Seu avô acreditava que o serviço também era uma escola, e hoje o fotógrafo entende que Clóvis estava certo. “O trabalho foi o que realmente me fortaleceu e deu a malícia de viver. Experiência de ficar na rua, ter liberdade e aprender a passar pelo que é certo e errado, e tomar as minhas decisões na vida”, disse.

A simplicidade da vida pacata do avô, fez Marcos perceber que o belo está no dia a dia. A fotografia surgiu em sua vida há quatro anos, durante a faculdade. “Não sabia que tinha esse dom para fotografar. De repente, tudo fez sentido. Meu avô sempre apoiava decisão, dizia que a pessoa pode ser o que quiser na hora que quiser, e isso é muito forte na minha vida”, afirmou.

As fotografias que serão expostas no dia são de momentos de descontração e alguns ensaios. A maioria das cores está em preto, branco e colorido. O avô partiu, mas deixou como herança a fotografia, para que o neto se dedique cada vez mais na profissão que deu sentido a sua vida.

O fotógrafo usa o relógio oriente do avô, como se fosse ouro em seu pulso esquerdo (Foto: Marcos Maluf)O fotógrafo usa o relógio oriente do avô, como se fosse ouro em seu pulso esquerdo (Foto: Marcos Maluf)

Lembranças e partida – Clóvis morreu aos 88 anos, após complicações com o Alzheimer e outros problemas de saúde, mas o neto não esquece de como era o avô. “Ele foi um presente na minha vida, como se fosse meu pai”.

Entre as lembranças que tem do avô, Marcos recorda da época em que ele escrevia poesias e fumava cachimbo. “Tinha uma caixa onde guardava os cachimbos. Eu sentava no chão da casa, ao lado dele e limpava os cachimbos enquanto ele recitava poemas. Gostava de contar histórias de quando era novo, ficava um tempão ouvindo ele”, contou.

Outra recordação que guarda do avô é o relógio oriente, de corda, que sempre está em seu braço. “Coloquei uma pulseira de coro para ficar melhor, mas é antigo. Uso-o como se fosse ouro, me acompanha para todos os lados”.

Clóvis trabalhou como garimpeiro, foi uma das primeiras pessoas a tomar conta da agência dos Correios e passou num concurso de DAC (Departamento de Aviação Civil), no qual atuou no aeroporto de Campo Grande e levava o neto para conhecer. “Foi fiscal de aeroporto, tinha uma casa para os funcionários”, disse.

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