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Mães se emocionam em 1ª vez com filhos autistas dentro de um cinema

Circuito MS

10:35 01/07/2019

[Via Campo Grande News]

“É a 1ª vez do Davi e estou muito emocionada”, afirmou a professora Ana Paula Garcia e Souza, de 47 anos, ao levar o filho de 13 anos numa sessão de cinema totalmente adaptada. Com 132 ingressos vendidos para o filme Toy Store 4, esse fim de semana foi especial para muitas famílias que têm em casa um anjo azul.

Visivelmente, Ana Paula era a mãezinha mais emocionada do rolê. Davi tem paralisia cerebral e autismo e o objetivo era conseguir permanecer na sala ao menos 10 minutos.

“É a primeira vez do Davi, ele passou por treinamento com as meninas da ABA, para que ele consiga se concentrar. Ele veio comprar o ingresso antes, pois toda sexta-feira, a cada 15 dias, é o passeio dele no shopping. Hoje ele veio entender o que é o cinema. Porque até ficar em casa na televisão é difícil para ele”, explicou Ana Paula, que aponta a sessão como um marco na vida de Davi.

O termo “anjo azul” se refere ao fato do transtorno ser mais frequente em meninos. O Lado B foi até o UCI para acompanhar a sessão adaptada, por regras do cinema a reportagem não pôde fotografar, mas falou com Ana Paula depois do filme.

O clima estava agradável, o som mais baixinho, algumas luzes acesas e as portas abertas. Adaptações suficientes para que muitos participantes ficassem até o fim.

A sessão começou às 11h, que também foi um horário escolhido propositalmente. Apenas cinco crianças permaneceram brincando, afinal, a animação não era interessante para eles.

A arquiteta Vanessa Soares, de 28 anos, acompanhou o filho Pedro, de 6 anos. Ela explica que a experiência é diferente e talvez a solução para que o filho permaneça na sala até o fim do filme.

“Acredito que ele vá conseguir ficar mais tempo na sala. As duas vezes que eu tentei não consegui, foram 20 minutos. A gente acaba que perde o ingresso. As vezes que eu comprei não consegui permanecer com ele na sala. A gente espera chegar à netflix”, pontua.

“Eu já fui com meu pai, que se chama Leandro. Não lembro o filme, mas hoje vamos ver Toy Store, eu amo Toy Store”, completou Pedro, muito animado.

Pedro desenvolveu a fala aos 3 anos, após dar início a terapia ABA (AppliedBehaviorAnalysis), que por aqui é conhecida como Análise do Comportamento Aplicada.

Na fila de ingressos, a funcionária pública Laura Soares Fernandes, de 36 anos, comprava o ingresso para o filho Davi Fernandes Carvalho, de 4 anos, pela primeira vez.

“Eu nunca tive coragem. Eu acho que vai dar certo, o Davi é muito com barulho, o escuro ele não aceita. Em casa ele também não assiste filmes, ele não se prende muito ao que ele não gosta. O Davi foi diagnosticado dentro do espectro autista, com a síndrome de asperger. Aos 2 anos já lia e escrevia. Então, se o desenho não fala desse assunto não é do interesse e ele não presta atenção”, explica Laura.

A psicóloga Tarita Almirão dos Santos Oliveira, de 33 anos, que atende na Clínica Comportar, explica que a ABA é um ramo que não se limita apenas as pessoas com autismo, mas é uma linha da psicologia que pensa o homem de uma determinada forma.

“A terapia é baseada em evidências cientificas, temos um treino intensivo, de segunda a sexta. A ABA favorece a linguagem, que é uma área afetada pelo autismo, porque a gente se embasa em comportamento verbal. Mas também tem o quanto a criança está afetada pelo espectro autista, é claro, que quanto mais cedo iniciar a intervenção é melhor, mas também tem a parte genética”, explica.

Deu certo? A professora que o Lado B conversou no início do filme garante que, sim. “Ele ficou até o final. Sentado, comendo pipoca, olhando e se encantando com tudo ao seu redor, como as luzes e o lugar de pôr o copo. Ele se encantou com o tamanho da “televisão” e prestou atenção em vários momentos. Foi um lord”, riu Ana Paula.

A experiência superou as expectativas da mãe. “A experiência foi a melhor possível! Valeu cada momento. O atendimento, a receptividade das pessoas do cinema. Mostra à sociedade, que a inclusão precisa estar em todos os lugares. Que as crianças com deficiência precisam ter seus direitos garantidos. Nós mães, país, familiares estaremos na luta constante”, finalizou.

Família fora de casa – Os desafios sociais e de comunicação de pessoas com autismo isolam muitas famílias e uma sessão no cinemaadaptada pode salvar a relação familiar.

“Quando a gente recebe uma criança, já me pergunto como é a interação dela com a família? Muitas vezes essa família não sai e está isolada socialmente. A partir do momento que essa criança consegue ir ao cinema, os pais conseguem sair um pouco. Porque o comportamento é condicionamento na relação. Quando atendemos o autista também orientamos os pais e a escola. Porque você consegue generalizar um comportamento que é aprendido na clínica. Eu treino habilidades sociais com minha crianças, mas meu objetivo é que ele cheguem em outros ambientes e consigam fazer o que eu treinei. As vezes os pais não consegue estar nem com a família, são vários ambientes que os pais vão deixando de estar. Uma sessão no cinema é bom para a relação familiar de um todo”, finalizou Tarita.

A Sessão Azul é um projeto que adapta locais como cinema, teatro e Aquários para pessoas com autismo. A psicóloga Bruna Manta, de 33 anos, explica que os voluntários que acompanham a sessão são treinados. “Passamos um treinamento online, por Skype sobre como eles vão atuar no dia e sempre acompanhamos a primeira sessão”, disse.

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