Bairro que faz aniversário com Capital realizou muitos sonhos da 1ª casa própria
18:35 23/08/2019
[Via Campo Grande News]
Na próxima segunda-feira, o Otávio Pécora completa 36 anos, “soprando as velinhas” junto com a nossa Capital. Depois de uma tarde andando pelas ruas e conversando com os moradores, o bairro ainda parece aquele de anos atrás, antes da abertura da Avenida Heráclito Diniz de Figueiredo, quando a cidade encontrava fim às margens do Córrego Segredo.
“No discurso da entrega, ainda lembro como Mendes Canale, no lugar do Wilson Barbosa Martins, que era o governador e não pode participar da cerimônia. Ele falou sobre os privilégios de morar em bairro que tinha como quintal a natureza”, relembra Antônia Jubrica, de 63 anos, personagem encontrado batendo de porta em porta. Salgadeira conhecida pela região, dela é primeiro nome que vem à boca das pessoas quando questionadas sobre os primeiros moradores locais. “As chaves das casas foram entregues às 9h da manhã do dia 26 de agosto de 1983”, relata como quem acabou de viver o momento.
Primeiro cantinho que Antônia pode chamar de seu, a casa de seis cômodos, com sala, três quartos, banheiro e cozinha permanece quase inalterada, com exceção dos muros altos, que comparados a todo o resto, são recentes.
Ao todo, foram 750 habitações da antiga Previsul, de acordo com Dona Antônia o loteamento era apenas para funcionários públicos com renda familiar mínima de 120 mil cruzeiros e ela só conseguiu participar do consórcio porque o marido trabalhava no extinto Departamento de Estrada de Rodagem (DER).
“Ele ganhava 30 mil cruzeiros, mas como era renda familiar, pedi para a diretora da EscolaEstadual Maria Constança Barros Machado, onde eu era salgadeira e cuidava da cantina, fazer uma declaração onde dizia que eu ganhava 90 mil cruzeiros por mês. Assim conseguimos comprar a casa”.
Antônia ficou viúva cedo, mas acordando às 3 horas da manhã para fazer os salgados que vendia em diversos pontos da cidade, conseguiu criar os três filhos e pagar as prestações da casa que duraram 25 anos.
Animada com a história do bairro, ela é a nossa guia pelas ruas, parando na casa das vizinhas mais antigas para que elas também compartilhem os anos de vivência no Otávio Pécora.
A primeira parada é na casa da professora aposentada Déa Bezerra Souza, 72 anos, que trocou a Vila Bandeirantes pela região em setembro de 1983. Entre as memórias, o ex-prefeito de Campo Grande, Demosthenes Martins, que conheceu na inauguração da escola que leva seu nome. Além da figura considerada ilustre, nem todas as lembranças são boas, ela também diz ter perdido as contas dos pares de sapato que perdeu andando ao redor do bairro. “Aqui já era tudo asfaltado, mas para os lados do Monte Castelo ainda não, era um barro que só quando você precisava ir ao centro da cidade ou pegar uma linha de ônibus que só passava lá”, explica.
Na casa da frente, as folhas das plantas atravessam o portão e tomam conta da varanda da casa de Deolinda Isaura da Rosa, que gosta da vida trazida pelas flores desde a infância. Quem comprou a casa foi a filha que é funcionária pública, de lá para cá, a senhorinha simpática e fala tranquila nunca quis se mudar. “Naquela época era um bairro mais isolado, tinham poucas casas. A maior diferença para hoje é que o número de moradores aumentou, mas nunca foi perigoso morar aqui”.
Em outra parada, quem nos recebe é Maria Mazarelo Gomes Ramires, engenheira agrônoma aposentada e primeira presidente do bairro, ficou à frente da associação de moradores por oito anos. A família dela se mudou no mesmo dia da entrega da chave, quando a maioria das outras casas ainda estava vazia. “Ficamos aqui morrendo de medo, aquele silêncio todo ao redor, mas sempre foi um bairro tranquilo e nunca nos aconteceu nada”. É ela quem explica o nome Otávio Pécora, proprietário da fazenda que deu lugar ao loteamento, quase na entrada do bairro, ainda está a antiga sede do local, que “vive de histórias e causos populares” e já foi assunto para matéria aqui no Lado B.
Outra figura importante na comunidade é nossa última visita, Maria Floriza Gomes, hoje com 92 anos foi uma das fundadoras da Capela São Domingos Sávio, primeira comunidade católica da região. Vinda de Goiânia, ela chegou a Campo Grande aos 46 anos, depois de ficar viúva. “Fiz de tudo aqui dentro, fundei a capelinha, trouxe curso de bordado, de crochê, criei o clube das mães. As primeiras missas que nós tivemos foi embaixo de uma árvore, no fim da rua. Depois é que conseguimos erguer a capela, nem me lembro o ano. Aqui tinha um vizinho que era crente, ele me convidou para o culto da igreja dele e isso me deu a ideia de fundar uma capelinha, porque eu sou católica”.
Depois da casa de Floriza, Dona Antônia se apressa em voltar para casa, são quase 17h e a novela está para começar. Sozinha, percorro a última rua do bairro prestando atenção aos detalhes. A sugestão veio de outra moradora que prefere não aparecer, por ali ainda há uma certa casa amarela, sem muros e cercada de grama, plantas e pingos de ouro, como uma viagem no tempo permanece inalterada desde a construção. São mais duas parecidas na mesma quadra, na calçada, árvores conhecidas como “Pata-de-vaca”, pelo formato da folha. De acordo com Antônia, estão ali desde a entrega do bairro.
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