Cultura

Conceição dos Bugres integra ciclo de exposições no Masp que mostra importância de sua obra

Circuito MS

16:32 25/02/2021

Ícone da arte sul-mato-grossense, Conceição terá obras expostas no museu em São Paulo

Figura emblemática da arte sul-mato-grossense, Conceição dos Bugres abre um novo ciclo de exposições a partir de abril deste ano, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), localizado na capital paulista. Esculpidos inicialmente em mandioca e, posteriormente, em madeira, os bugres de Conceição foram reunidos pelos curadores do museu a partir de coleções particulares e de instituições espalhadas pelo País, em uma tentativa de mostrar as faces da artista e reposicioná-la na história da arte brasileira.

De acordo com a curadora do Masp Amanda Carneiro, as exposições do Masp lançadas durante o biênio 2021-2022 serão relacionadas ao eixo Histórias do Brasil. “O Masp trabalha com ciclos temáticos, já tivemos, por exemplo, o eixo Histórias da Infância e, agora, este será o ciclo dedicado às Histórias do Brasil. Conceição dos Bugres abre esse ciclo das Histórias do Brasil”, explica Amanda.

A exposição abre no dia 9 de abril e segue até 30 de janeiro de 2022. Segundo Camila, que compartilha a curadoria com Fernando Oliva, para o museu é importante que artistas como Conceição dos Bugres sejam valorizados e ressignificados na história brasileira.

“Desde 2014, o Masp tem trabalhado com a chamada arte popular. Neste primeiro ciclo, todas as exposições são dedicadas à escultura ou em diálogo com a escultura. Para o Masp, é superimportante que a categoria de artistas da chamada arte popular sejam ressignificados e vistos como artistas brasileiros, por terem uma contribuição significativa para a arte no Brasil, como é o caso de Conceição dos Bugres, um grande nome para a escultura em madeira do País”, ressalta.

As obras que fazem parte da exposição são oriundas de instituições de arte ou de coleções particulares.

“O Masp não tem ainda, mas sempre é de seu interesse que toda vez que a gente faça uma exposição, ela passe a participar do acervo do museu. Isso é uma coisa que a gente também deseja em relação a Conceição dos Bugres. Nós mapeamos então quem são os colecionadores e, a partir desse mapeamento, quais nos interessavam e quais eram interessantes para mostrar na exposição. Optamos por trazer diferentes subtipos dos bugres que compõem o trabalho dela”, frisa.

Valorização

Segundo Amanda, o trabalho de Conceição é único. “Ela é especial, certamente, ela é o resultado de uma produção brasileira. Na história da escultura do Brasil, não há nada como os bugres, isso é muito específico, esse tipo de criação que ela faz é bastante específica e também bastante reveladora de um Brasil com suas crises identitárias, com essa miscigenação que apaga o índio e o negro”, acredita.

A curadora explica que um dos traços interessantes de Conceição é diferenciar os bugres em detalhes sutis. “Para um olhar desatento, todos têm mais ou menos os mesmos traços, mas, com atenção e observação dos detalhes, você nota essas distinções, que são sutis, que revelam essa excelência”, frisa.

Além da exposição, o Masp lança um catálogo bilíngue e ilustrado com informações sobre Conceição dos Bugres.

“A exposição no Masp tem a publicação de um catálogo bilíngue e ilustrado, que estará disponível para venda na inauguração, durante a mostra e também pelo site do museu. O catálogo foi feito em conjunto pelos curadores, sou eu e o Fernando, além da Julia Bryan-Wilson, historiadora de Arte dos Estados Unidos e Fernanda Pitta, que trabalha como pesquisadora daqui, que fez um livro importante sobre Conceição dos Bugres, e Naine Terena, que é uma curadora indígena”, pontua.

Para a curadora, o trabalho pretende reconhecer a importância de Conceição. “São diferentes perspectivas sobre Conceição para reposicionar o trabalho dela na História da Arte mesmo, para que as pessoas possam conhecer mais essa figura emblemática”, acredita.

 

Serviço – Informação sobre essa exposição pelo link.

Ícone da escultura  sul-mato-grossense

Nascida em Povinho de Santiago, Rio Grande do Sul, em 1914, Conceição dos Bugres mudou-se para Mato Grosso do Sul ainda na infância, onde permaneceu até falecer, em 1984.

Foi uma artista singular, sendo reconhecida principalmente pelos bugres, trabalhos esculpidos em madeira e cobertos por cera de abelha ou parafina e tinta, mas que também podem ser realizados em pedra-sabão ou arenito.

Conceição dos Bugres tornou-se conhecida nos anos 1970, sendo o crítico e curador Roberto Pontual um dos seus grandes divulgadores. O título ele divide com Humberto Espíndola e Aline Figueiredo, que também tiveram um papel importante na divulgação da obra da artista.

Conceição chegou a participar de exposições, na Galeria da Collection (1972), no Rio de Janeiro, curada por Roberto Pontual, e da III Bienal Nacional (1974), em São Paulo. Porém, para a artista, a visibilidade nunca se converteu em ganhos materiais – Conceição Freitas da Silva faleceu pobre, deixando de herança o dom da arte ao filho, Ilton Silva e ao neto, Mariano Antunes Cabral Silva.

Há poucos registros sobre Conceição dos Bugres. O cineasta Cândido da Fonseca chegou a gravar algumas imagens que se tornaram um documentário. O material de 10 minutos foi restaurado e entregue à Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, em 2017.

Via Correio do Estado

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