Mulheres pretas têm maiores chances de morte por violência interpessoal, diz estudo
14:00 16/01/2023
Violência por parceiro íntimo é considerada um tipo de violência interpessoal que pode trazer diversos prejuízos às mulheres, afetando sua saúde mental, reprodutiva e sexual
O risco de morte após notificação de violência interpessoal é 33% maior para mulheres pretas, pardas, amarelas e indígenas em comparação com mulheres brancas. Os dados são de uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que analisou mais de 100 mil casos de violência.
Especialistas analisaram a violência interpessoal com foco na Violência por Parceiro Íntimo (VPI) contra mulheres, relacionando as notificações realizadas pelos serviços de saúde com os registros de óbito. O estudo foi realizado pela pesquisadora Isabella Vitral Pinto durante seu doutorado no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública. O
A violência por parceiro íntimo é considerada um tipo de violência interpessoal que pode trazer diversos prejuízos às mulheres, afetando sua saúde mental, reprodutiva e sexual. “As consequências da VPI acometem a condição de vida e saúde das mulheres, podendo contribuir para o aumento do risco de morte precoce”, diz Isabella, em comunicado.
Além disso, a pesquisadora aponta que esse tipo de violência também pode impedir o acesso das vítimas ao sistema de saúde. “A experiência dessa violência pode, por exemplo, afetar o cuidado com doenças crônicas e, ainda, dificultar o acesso das mulheres aos serviços de saúde”, pontua.
Vulnerabilidades sociais
A pesquisa demonstrou que, apesar de a violência por parceiro íntimo (VPI) atingir indivíduos de todas as classes e grupos raciais, mulheres pretas, pardas, amarelas e indígenas têm 33% mais chances de óbito após violência interpessoal do que mulheres brancas.
Para a pesquisadora da UFMG, esse resultado pode ser um reflexo do racismo estrutural presente na sociedade. A tese também originou um artigo que relaciona alguns aspectos sociodemográficos ao risco de óbito após VPI.
Os resultados mostraram que mulheres residentes de áreas rurais, de municípios de pequeno porte (menos de dez mil habitantes) e portadoras de alguma deficiência também tiveram maior chance de morte.
Para chegar a esses resultados, a pesquisa relacionou as notificações de violência registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e os dados de óbito registrados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Os estudos incluíram mais de 100 mil mulheres, de 15 a 59 anos, com notificação de violência interpessoal no período de 2011 a 2016.
Já os fatores associados à mortalidade foram traçados a partir da comparação entre o grupo de mulheres que tiveram óbito, por qualquer causa, com àquelas que permaneceram vivas, sendo que ambos os grupos apresentavam notificação de VPI.
De acordo com a pesquisadora, a violência por parceiro íntimo deve ser vista como um problema de saúde. Por isso, é necessário que os profissionais da área sejam capacitados para identificar as mulheres em situação de violência e realizar as notificações.
“No caso do setor saúde, a atuação dos profissionais alcança um elenco amplo de ações, desde o acolhimento com escuta qualificada, o cuidado integral considerando os diferentes níveis de atenção, a oferta de tratamentos adequados, a realização de encaminhamentos e o monitoramento dos casos”, ressaltou.
Para a especialista, o aprimoramento na qualificação dos profissionais pode contribuir para reduzir a subnotificação de casos. Ela destaca a necessidade constante de melhoria da qualidade do preenchimento das notificações, uma vez que algumas variáveis como escolaridade, violência de repetição e orientação sexual possuem alto percentual de não preenchimento.
“É urgente que os dados da saúde sejam utilizados para realizar o diagnóstico do perfil das mulheres com notificação de VPI, para articular o trabalho em rede com outros órgãos no enfrentamento do problema, bem como para traçar estratégias específicas para a proteção e garantia de direitos das mulheres com maior risco”, diz.
Via CNN Brasil
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