Campo Grande

Assoreamento do Lago do Amor pode agravar inundações na região

Circuito MS

15:21 16/03/2023

Se o processo de extinção do lago for concluído, já que a previsão é de que isso aconteça em 15 anos, novas regiões de Campo Grande sofrerão com os impactos das chuvas e da água que ficará acumulada

Estudos do Laboratório de Hidrologia, Erosão e Sedimentos (Heros), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), e da Hidrosed Engenharia apontam que o processo de assoreamento do Lago do Amor está diminuindo a capacidade de armazenamento de água no local e, consequentemente, as inundações da Avenida Senador Filinto Müler estão se tornando mais frequentes.

Apesar de o lago ter um dispositivo de emergência, que foi implementado para evitar inundações da via, pois “suga” o excesso de água antes que seja atingida a capacidade máxima de armazenamento, o assoreamento tem diminuído cada vez mais o volume de retenção de água no local.

De acordo com levantamentos feitos pelo Laboratório Heros e pela Hidrosed, em 2008, o Lago do Amor tinha capacidade de volume de 196.651,13 m³, e em 2022 caiu quase a metade, para 108.725,27 m³ de armazenamento de água. Uma perda de 30,8% da área do lago.

Os sedimentos que chegam ao Lago do Amor são provenientes da bacia do Córrego Bandeira, em que ele está localizado, e chegam tanto do processo de urbanização, como construções e pavimentação, quanto dos córregos Bandeira e Cabaça.

“Todo esse sedimento, como se trata de água parada, vai decantando, como se fosse excesso de açúcar em um copo de água, se você não mexer, ele vai para o fundo. Então, esse é um problema silencioso, a gente vai perceber quando aflorar”, explica o doutorando Rodrigo Baia, que estuda o lago.

Segundo os levantamentos, se for mantido o ritmo de crescimento do volume de sedimentos que chegam ao reservatório, que de 2008 a 2022 foi de cerca de 88 mil m³, o processo de assoreamento no Lago do Amor estará completo em 15 anos.

O volume assoreado nos últimos 14 anos foi de 45,42%. Se esse processo for concluído, novas regiões da Capital podem sofrer grandes impactos com as chuvas, porque a água que hoje fica no lago e na Avenida Senador Filinto Müler é a barreira física do Lago do Amor.

O doutorando em Tecnologias Ambientais da UFMS Leonardo de Souza explica que a água que chega ao Lago do Amor vai acabar indo para outros locais quando o reservatório não existir mais.

“Como a água não fica retida aqui [no Lago do Amor], toda aquela água vai indo constantemente para baixo. Então, uma área que normalmente não seria atingida por um evento hídrico será atingida com certa frequência”, comenta Leonardo.

Em caso de assoreamento, deverá ser feita uma outra estrutura de drenagem que desempenhe a mesma função que o Lago do Amor tem na drenagem urbana.

Apesar de haver soluções para evitar o assoreamento completo do reservatório, como dragagens, não é tão simples estabelecer um plano de ação, tendo em vista a legislação brasileira.

O doutorando Rodrigo Baia relata que desconhece leis no Brasil que visam barrar esse tipo de problema, enquanto em outros países, como nos Estados Unidos, existem ferramentas de engenharia específicas para serem aplicadas nessas situações, “desde redes, valas de infiltração, como pequenos reservatórios, onde você vai fazer com que aquela água da chuva e o sedimento erodido drenem para aquela região específica e diminuam a quantidade de material que vai terminar no Lago do Amor”, exemplificou.

A falta de ações que poderiam ser aplicadas, por exemplo, em novas construções na bacia aumenta ainda mais a quantidade de sedimentos que chega até o lago. Levantamentos apontam que, por dia, cerca de 0,4 tonelada de sedimentos chega ao local.

“Depois do Lago do Amor, está saindo só 0,09 tonelada. Ou seja, a diferença está sendo retida no Lago do Amor, cerca de 0,28 tonelada por dia de sedimentos está sendo retida. O que é interessante a gente averiguar nisso é que o transporte de sedimento pode aumentar de maneira exponencial, principalmente quando ocorrem essas precipitações muito grandes”, explica Rodrigo.

A UFMS não respondeu à reportagem sobre um plano de ação para barrar o assoreamento do lago.

A Prefeitura de Campo Grande informou que a realização de obras para desacelerar o assoreamento é de responsabilidade da universidade e que já adotou medidas administrativas, como licenças e autorizações, e realizou o projeto e orçamento da obra de correção da cratera que se abriu na Avenida Senador Filinto Müler em decorrência das fortes chuvas neste início de ano.

URBANIZAÇÃO

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2000 e 2010, na região do Córrego Bandeira, onde fica o Lago do Amor, a população cresceu 39,2%.

De 68.094 habitantes que viviam no local em 2000, saltou para 94.733 habitantes em 2010. Dados específicos por região ainda não foram atualizados pelo levantamento de 2022 do IBGE, mas estima-se que o crescimento populacional foi contínuo.

O processo de urbanização é um dos principais fatores que colaboram para o assoreamento do Lago do Amor.

Assim como em toda a cidade, a ocupação das áreas sem um planejamento acaba influenciando diretamente no impacto das chuvas, pois as áreas de drenagem diminuem cada vez mais e os sedimentos que acabam indo para córregos e reservatórios artificiais aumentam.

Saiba: Uma das ações que visam desacelerar o processo de assoreamento do Lago do Amor é o levantamento batimétrico, que é uma ferramenta de engenharia usada para aferição das profundidades, juntamente com sua localização espacial, de um corpo de água ou reservatório.

O laboratório Heros, da UFMS, realiza anualmente o levantamento batimétrico do Lago do Amor, com o intuito de determinar a área e o volume do reservatório e estimar a quantidade de sedimentos provenientes da área urbana que são anualmente depositados.

Via Correio do Estado MS

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