Brasil

Em seis anos, número de casos de estupro contra crianças quase triplicou

Circuito MS

8:40 29/05/2024

De acordo com dados da Sejusp, registros desse tipo de crime no Estado saíram de 479 em 2017 para 1.303 no ano passado

Nos últimos seis anos, o número de casos de estupro contra crianças vem crescendo em Mato Grosso do Sul. O registro, que era de 479 casos em 2017, quase triplicou de lá para cá, chegando ao ano passado com 1.303 crianças vítimas de estupro.

De acordo com levantamento da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), nos primeiros cinco meses deste ano, 374 ocorrências envolvendo abuso sexual contra menores foram registradas. Isso significa que a cada dois dias cinco crianças foram estupradas em MS.

Enquanto isso, os dados de 2018 até o ano passado demonstram que, em média, 1.216 casos são registrados anualmente em todo o território sul-mato-grossense.

Segundo Pablo Gabriel Farias da Silva, titular adjunto da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), o aumento no número de casos de estupro de vulnerável em MS pode estar atrelado à procura da população em denunciar mais esse tipo.

“Realmente, houve um aumento no número de registros de estupro de vulnerável. Acredito que aconteceu uma exposição maior, na mídia, desse tipo de crime, e isso fez com que as pessoas procurassem mais a delegacia para denunciarem os casos”, disse o delegado.

Um dos motivos para o ano passado ter um crescimento no número de casos desde 2019 (1.303 ante 1.336) pode ser a repercussão do caso Sophia, que ocorreu em janeiro de 2023. Até então, ano após ano, os registros vinham se mantendo na média das 1.216 ocorrências.

“No começo de 2023, tivemos casos de grande repercussão, que foram bem divulgados pela imprensa. Junto a isso, foi divulgada a importância de denunciar, o que pode ter ocasionado esse aumento”, explica.
Conforme dados da Sejusp informados pelo boletim do Observatório da Mulher de Campo Grande, no ano passado, a Capital registrou 734 crimes de estupro. Desses, 382 vítimas eram crianças e 189 eram adolescentes, ou seja, 77% dos casos envolviam vítimas menores de 18 anos.

ORIENTAÇÕES

Segundo a psicóloga Gabriela Cayres, que é especialista no amparo às crianças vítimas de abuso sexual e que atende no Lar Infatil Lygia Hans, é importante que as vítimas que tenham passado por esse tipo de trauma tenham um acolhimento e acompanhamento psicológico.

“Desde o primeiro contato, tentamos fazer um vínculo com a criança, para oferecer afeto e minimizar as dores dos traumas ocorridos, sejam eles por negligência, sejam por abuso. Realizamos rodas de conversa, escuta ativa, encaminhamento para terapia individual e validação de sentimentos”, explica.

A psicóloga também alerta sobre os sinais de que uma criança pode estar sendo violada. “Automutilação, comportamento introspectivo, irritabilidade, insônia, baixa autoestima, diurese excessiva, principalmente à noite, e pesadelos constantes são alguns dos sinais”, esclarece.

De acordo com Gabriela, é essencial que os pais estejam atentos e não deixem seus filhos aos cuidados de qualquer pessoa. “Os abusos, em sua grande maioria, ocorrem por pessoas da família. Ensinar a criança a se proteger e entender que seu corpo é precioso é fundamental,” enfatiza.

Uma das instituições em Campo Grande que fazem atendimentos voltados para proteção e amparo às crianças e aos adolescentes é o Lar Infantil Lygia Hans, localizado na Rua Cioanorte, nº 91, no Jardim Tarumã.

Fundada em 28 de outubro de 2000, a entidade, que é vinculada à comunidade Adventista do Sétimo Dia, oferece acolhimento para crianças e adolescentes seguindo as legislações e as orientações técnicas para o serviço de acolhimento.

A instituição trabalha na modalidade casa-lar (abrigo institucional) e tem como propósito, além do acolhimento, a reintegração familiar da vítima, podendo dar apoio ao processo de adoção em conformidade com o Estatuto da Criança e do Adolescente. Em 2023, a entidade atendeu cerca de 25 crianças; neste ano, até o momento, foram acolhidas 16.

MAIO LARANJA

Este mês traz uma importante campanha de conscientização e combate ao abuso e à exploração sexual infantil. A iniciativa Maio Laranja busca dar visibilidade a um tema delicado e urgente e que afeta milhares de crianças e adolescentes em todo o Brasil.

A campanha Maio Laranja é um período dedicado à conscientização e à ação, visando proteger os direitos e a integridade das crianças e dos adolescentes. A iniciativa destaca a importância da denúncia e do enfrentamento desse tipo de violência, utilizando a flor gérbera como símbolo, representando a fragilidade e a vulnerabilidade dos pequenos diante desse cenário.

No dia 18 de maio de 1973, um trágico acontecimento em Vitória (ES) deu origem à campanha. Na data, Araceli, uma criança de apenas oito anos, foi vítima de sequestro, abuso sexual, drogas e assassinato. 

O caso mobilizou a sociedade brasileira e resultou na criação do Dia Nacional de Combate ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, oficializado pela Lei Federal nº 9.970/2000.

Saiba

Para denunciar casos de abuso e exploração sexual contra crianças, há canais como o Disque 100 (Disque Direitos Humanos), o Conselho Tutelar e o número 190 de emergência policial.

Via Correio do Estado MS

Comente esta notícia