Cultura

Academia de Letras de Mato Grosso do Sul celebra 50 anos

Circuito MS

11:54 10/11/2021

Academia celebra 50 anos de fundação em sessão solene nesta quarta-feira, com lançamento do hino oficial.

A Academia Sul-Mato-Grossense de Letras está completando 50 anos e realiza hoje (10), a partir das 19h30min, uma solenidade para marcar a efeméride no auditório de sua sede, localizada na Rua 14 de Julho, nº 4.653, no Bairro São Francisco.

O evento, de acesso restrito a convidados, foi organizado de acordo com as medidas de biossegurança relacionadas à Covid-19 e vai apresentar, na abertura, uma pauta cultural que inclui a projeção de um documentário institucional comemorativo do jubileu de ouro da ASL.

O vídeo mostra a instituição a partir do depoimento de seus integrantes, enfatizando os propósitos educativos, culturais e literários da casa, que há cinco décadas preserva e fomenta as tradições literárias e a cultura de Mato Grosso do Sul.

HINO OU CANÇÃO

Está previsto, em seguida, o lançamento da canção “Luz das Letras”, o hino oficial da academia, composto recentemente pelos imortais Rubenio Marcelo, diretor de cultura da instituição, autor da música e da melodia, e Henrique Alberto de Medeiros Filho, atual presidente da casa e autor da letra.

O hino-canção, termo com o qual Marcelo prefere classificar a peça, será apresentado em um videoclipe, na voz do cantor Áttila Gomes. Na parceria, os autores retratam os aspectos culturais e históricos da academia, celebrando desde nomes dos fundadores até a tradição e as metas da entidade.

A inspiração tem origem no dístico “Litterarum Lumen” (luz das letras, em latim), que integra oficialmente o brasão da ASL desde a presidência de Otávio Gonçalves Gomes (1982-1985).

“A obra timbra sua proposital cadência e harmonia musical, com natural caracterização do moderno e fluência próprias dos desígnios da arte contemporânea, desarraigando-se do habitual ‘semblante militarizado/marcial’, costumeiramente empregado em obras do gênero”.

“E sem renunciar ao lírico, enaltecendo as vibrantes energias do engajamento necessário”, explica o poeta e compositor Rubenio Marcelo, membro e ex-secretário-geral da ASL, ao comentar os aspectos melódicos e rítmicos da composição.

“Com desvelo, procuramos retratar na obra os desígnios específicos da instituição, sem esquecermos os pioneiros e os objetivos da nossa Academia, que caminha de mãos dadas com o Estado de MS, desde o seu surgimento”.

“O contexto letrístico é simbolizado no dístico ‘Litterarum Lumen’, que ilustra o brasão da ASL”, reforça Henrique de Medeiros Filho, membro e atual presidente.

Autor do best-seller “Vias do Infinito Ser”, que integra a lista de leituras obrigatórias para o vestibular da UFMS, Rubenio Marcelo diz que se preocupou, sobretudo, em dotar a composição de leveza e fluência.

“Sincronizando a unidade da tessitura melódica sempre fluente da obra, em tom maior e compasso ternário, exprimindo movimento dinâmico, a instrumentalização valoriza contrapontos vibrantes de violões solo em consonância com o timbre penetrante dos cellos e esteio de cordas-base, tudo naturalmente harmonizado com a voz barítona do intérprete”, estende-se o dublê de poeta e cancionista.

“Como efeito final, a composição aumenta um tom na última repetição do estribilho, em movimento gradativo natural e modulando a ênfase estética deste especial trecho da obra”.

HOMENAGENS

Na sequência da programação da sessão comemorativa, a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras vai laurear algumas personalidades, instituições e empresas que, ao longo de sua história e atualmente, tiveram importante participação na trajetória da ASL.

Entre os homenageados estarão o Correio do Estado e seu fundador, o professor, historiador e jornalista J. Barbosa Rodrigues (1917-2003). A homenagem da ASL se dará com a entrega de uma estatueta criada e produzida exclusivamente para a ocasião.

Com 40 cadeiras, aos moldes da Academia Brasileira de Letras (ABL), a ASL registra ao longo de sua trajetória uma história voltada para a defesa da língua portuguesa e o cultivo da arte literária, “zelando e incentivando todas as derivações da cultura nacional e estadual”, afirma Rubenio.

Apesar de a eleição de empresários e políticos ser um fato, como ocorre na ABL e em outras academias estaduais, a ampliação da visada para outras manifestações culturais segue par e par com a abertura para o ingresso de acadêmicos cuja expressão de origem nem sempre é a escrita literária, a exemplo do artista plástico Humberto Espíndola, recém-eleito para os quadros da ASL.

Em tempo: do mesmo modo, a ABL, depois da escolha de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), imortalizou outro diretor de cinema, Carlos Diegues, a atriz Fernanda Montenegro e deve eleger, nesta quarta-feira, o cantor Gilberto Gil como seu mais novo membro.

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FLORESTA DO SABER

A ASL foi sediada por muitos anos na Rua Rui Barbosa, nº 2.624, em casa doada pelo acadêmico Luiz Alexandre de Oliveira, e também teve o Correio do Estado como uma das suas primeiras sedes. Passou também pela Rua Euclides da Cunha.

Na época da Rui Barbosa, chegou a abrigar em suas instalações o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul. Em 2017, inaugurou nos Altos do São Francisco a sua sede atual. Com sua fachada de vidro e colunas metálicas, o espaço conta com biblioteca, salas de reunião e amplo auditório.

De estampa moderna, o projeto arquitetônico do prédio faz alusão a uma floresta do conhecimento, formada, no visual proposto, por lápis brancos simbólicos que são coloridos por efeito da projeção de luzes.

O COMEÇO DE TUDO

Um livro, um escritor, uma academia. Tudo começou em 13 de outubro de 1971, quando se completava o terceiro ano da morte do poeta Manuel Bandeira (1886-1968), por coincidência, a mesma data em que se celebra o Dia Mundial do Escritor.

Exatamente, nesse dia, uma quarta-feira, Ulysses Serra (1906-1972) lançava, em Campo Grande, o volume de crônicas “Camalotes e Guavirais”.

A glosa memorialística do escritor corumbaense foi caindo no gosto de quem lia, e, ao longo do tempo, o livro se tornou um marco da literatura de Mato Grosso do Sul. Já na época, “Camalotes e Guavirais” chamou bastante atenção.

Desde o título, a evocar a flor de cor roxa do Rio Paraguai e o fruto que anuncia os verões pantaneiros, a obra é daquelas que sintetizam e calam fundo na sensibilidade regional.

Dias depois, ainda animado com a repercussão de seu rebento literário, Ulysses Serra vai à Estância Gisele, com os futuros colegas de imortalidade José Couto Vieira Pontes e Germano Barros de Souza, para celebrar.

Foi lá, em uma manhã de sábado, 30 de outubro de 1971, aos pés de um abacateiro, ao lado dos confrades e de um funcionário da estância, que Serra subiu em um caixote para vaticinar que fundariam uma academia de escritores.

A sessão solene que instalaria a então Academia de Letras e História de Campo Grande ocorreu em 13 de outubro de 1972, e, entre as presenças, além das personalidades locais que lotaram o salão nobre do Hotel Campo Grande, estavam o mineiro Ivan Monteiro de Barros Lins (1904-1975), da Academia Brasileira de Letras (ABL), e Hernâni Donato (1922-2012), da Academia Paulista de Letras.

Quem não compareceu, ironicamente, foi o dono da ideia. Entre a empolgação na estância e a concretização da academia, Ulysses Serra recebeu a visita da Moça Caetana e partiu dessa para melhor.

A tal moça é uma visão poética com que Ariano Suassuna descreve a morte em seu universo literário. Embora tenha ceifado a existência do escritor com a entidade ainda em gestação, em junho de 1971, ela não foi capaz de impedir o nascimento e o desenvolvimento da cria, que, além dos três fundadores, conta com outros pais e mães dignos de nota.

Alguns dos pioneiros, da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, que só ganharia esse nome em 1979, com a divisão oficial do Mato Grosso uno, foram Júlio Alfredo Guimarães, Hugo Pereira do Vale, Antônio Lopes Lins, Otávio Gomes, Maria da Glória Sá Rosa e J. Barbosa Rodrigues, diretor do Correio do Estado.

Além das páginas do jornal, o publisher chegou a abrir as portas da antiga redação do jornal, na Rua 14 de Julho, para algumas das primeiras reuniões da instituição. Rodrigues presidiu a ASL no período de 1985 a 1988.

Desde os primeiros anos de atividade da instituição, o Correio do Estado abriga, em sua edição de sábado, o Suplemento Cultural, com a publicação de textos dos acadêmicos, fazendo, assim, justiça à homenagem de amanhã.

PRESENÇA NA WEB

Em tempos normais, sem as restrições de circulação ocasionadas pela pandemia, a ASL realiza o seu chá literário na última quinta-feira de cada mês, em sessão aberta ao público, com rodas de leitura, em que se destacam novos escritores, concursos e outras atividades.

No site da instituição, um farto material repassa toda a história e traz uma série de informações da entidade, como o estatuto, seus patronos, o corpo diretor, vídeos, fotos, artigos, 26 números da Revista da Academia e livros, a exemplo do clássico “Camalotes e Guavirais”.

Via Correio do Estado

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