Alemanha quer usar lucros excepcionais de empresas de energia para baixar preços
15:00 04/09/2022
A Alemanha quer que os lucros excepcionais obtidos por algumas operadoras de energia com o aumento dos preços no atacado sejam usados para aliviar as contas domésticas, disse o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, neste domingo (4), ao apresentar um novo e ambicioso plano de ajuda de 65 bilhões de euros para enfrentar a inflação.
O social-democrata Scholz, que lidera uma coalizão formada com ecologistas e liberais, negociou com os principais nomes de seu governo até a noite de sábado para finalizar o plano.
Scholz insistiu que os alemães “nunca estarão sozinhos” diante da crise energética e divulgou uma série de medidas para lidar com a inflação, que voltou a acelerar em agosto e atingiu 7,9% em estimativa anual.
A reforma defendida por Berlim, no entanto, é apresentada como diferente do imposto sobre lucros excepcionais decidido por vários governos europeus, esclareceu o ministro das Finanças, o liberal Christian Lindner.
O presidente do Banco Central alemão, o Bundesbank, considera que é possível que a inflação chegue a 10% antes do fim deste ano, um dado inédito desde a década de 1950.
Entre as medidas apresentadas por Scholz estão um auxílio energético único de 300 euros para milhões de aposentados e de 200 euros para os estudantes.
Mas, no documento com as novas medidas anunciadas, o governo também visa os lucros excepcionais obtidos por algumas operadoras de energia.
– Enfrentar a ‘especulação’ –
Como toda a União Europeia, a Alemanha está enfrentando um forte aumento nos preços da eletricidade e temores por seu próprio fornecimento de energia.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia em fevereiro, o governo alemão já desbloqueou dois pacotes de ajuda para as famílias de 30 bilhões de euros.
Contudo, o anúncio do novo plano de 65 bilhões de euros foi adiado várias vezes, ilustrando as tensões entre os partidos da coalizão de governo.
Como medida de compromisso, Scholz prometeu enfrentar a “especulação” no mercado energético e os lucros excepcionais de algumas operadoras de energia pelo aumento dos preços.
“Há produtores que simplesmente aproveitam os altos preços do gás, que então determinam o preço da eletricidade”, disse o chanceler em entrevista coletiva.
O tema provocava divisões no governo desde junho. Enquanto ecologistas e social-democratas defendiam a taxação dos lucros bilionários de certos grupos, os liberais, com o ministro Lindner na cabeça, eram contrário a essa medida.
O governo decidiu finalmente defender a introdução de uma contribuição obrigatória, imposta às empresas do setor energético, com o objetivo de aliviar os preços da eletricidade suportados por famílias e empresas.
A reforma defendida por Berlim, no entanto, é apresentada como diferente do imposto sobre lucros excepcionais decidido por vários governos europeus, esclareceu Lindner.
O governo alemão vai defender a aplicação desta ideia em toda a UE, mas está preparado, se necessário, para atuar em nível nacional.
– ‘Vamos enfrentar este inverno’ –
A referida contribuição obrigatória poderá colaborar com “dezenas de bilhões de euros” para os cofres públicos, indicou o ministro das Finanças.
O plano do governo alemão não menciona o termo taxação, conceito fortemente contestado pelo ministro das Finanças, que esclareceu que o valor proposto não seria “uma fonte de receita que pode ser planejada”.
A retenção “parcial” desses lucros criaria “um colchão financeiro que deveria ser utilizado para aliviar o peso que recai sobre os consumidores na Europa” devido aos altos preços da energia, argumenta o governo.
Berlim quer impulsionar a rápida adoção das medidas de emergência propostas recentemente pela Comissão Europeia, entre elas a imposição de limites sobre os preços de alguns produtores de eletricidade, para desacelerar seus lucros.
“As empresas energéticas que produzem eletricidade a partir de fontes renováveis, carvão ou energia nuclear, por exemplo, fazem isso com custos de produção cada vez mais baixos, mas ganham muito dinheiro graças aos mecanismos atuais do mercado europeu de eletricidade”, explicou neste domingo o ministro da Economia, Robert Habeck, para justificar a necessidade de agir.
Além disso, Scholz afirmou hoje que seu país tem suprimentos e reservas de energia suficientes para enfrentar o próximo inverno, depois que a Rússia cortou suas entregas de gás através do gasoduto Nord Stream 1, sem previsão de retorno do fornecimento.
Via AFP
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