Alimentação de mulheres gestantes pode influenciar obesidade nos filhos
9:29 17/10/2022
Ingestão de alimentos como embutidos e bebidas açucaradas aumenta em 26% o risco de as crianças terem sobrepeso ou obesidade
A forma como os pais se alimentam influencia o peso dos filhos, e isso é bem conhecido. Mas, agora, um estudo baseado em três pesquisas mostra que o tipo de dieta da mãe durante a gestação também pode acarretar sobrepeso e obesidade na criança. Publicado no The British Medical Journal (BMJ), o artigo, da Universidade de Harvard, encontrou associações estatísticas entre o consumo de ultraprocessados — como salsicha, macarrão instantâneo e refrigerante — na gravidez e um índice de massa corporal (IMC) elevado do filho na infância.
Embora o trabalho seja observacional, ou seja, não estabelece relação de causa e efeito, os autores destacam a importância de se aprofundar pesquisas sobre o impacto na prole da ingestão desse tipo de produto alimentício durante a gestação. Em todo o mundo, os níveis de sobrepeso e obesidade estão aumentando, inclusive entre crianças, tornando necessárias novas formas de enfrentamento, diz o artigo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020, 39 milhões de meninos e meninas estavam obesos.
Conduzido pelo médico epidemiologista Andrew T. Chan, o estudo detectou essa relação independentemente dos fatores de risco da mãe e da criança, como nível de atividade física e sedentarismo, IMC materno e condições socioeconômicas. Qualquer que fosse a dieta da família após o nascimento do bebê, o fato de a gestante ter relatado um alto consumo de ultraprocessados (12,1 porções/dia) elevou em 26% o risco de o filho ter sobrepeso ou obesidade, comparado a grávidas que informaram o menor nível de ingestão desses produtos (3,4 porções/dia).
No total, foram analisadas três pesquisas que incluíram dados de 19.958 crianças nascidas de 14.553 mães. Apesar da robustez estatística, os autores ressaltam que há algumas limitações, incluindo a pouca variedade étnica (a maioria dos participantes era branco) e socioeconômica, o que significa que os resultados podem não se aplicar a outros grupos. Além disso, por ser observacional, a pesquisa não sugere mecanismos que possam explicar a associação encontrada.
Ainda assim, os autores citam explicações possíveis. “Existem alguns mecanismos potenciais pelos quais a ingestão de alimentos ultraprocessados durante a gravidez pode afetar a adiposidade da prole, incluindo a modificação epigenética da suscetibilidade dos filhos à obesidade”, escreveram. Mudanças epigenéticas são alterações no DNA que podem ser herdadas e são muito influenciadas por fatores ambientais, como o tipo de alimentação.
Além disso, os pesquisadores destacam que “outros mecanismos biológicos podem envolver os aditivos pró-inflamatórios em alimentos ultraprocessados, incluindo sódio, emulsificantes, açúcar e adoçantes artificiais”. “A inflamação materna crônica, possivelmente mediada pela ingestão de alimentos ultraprocessados, tem sido associada ao aumento da adiposidade da prole em camundongos e humanos”, escreveram.
Via Correio Brasiliense
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