Até amamentar pode ser bem complicado quando ninguém liga para mãe surda
11:35 24/03/2019
[Via Campo Grande News]
Quem é surdo, desde que nasceu ou por outra circunstância, além de lidar com todas as dificuldades que a deficiência apresenta, ainda precisa lutar para viver momentos importantes no dia a dia. E, desta vez, não estamos falando de acessibilidade somente nas escolas ou na universidade. A lista de lugares sem nenhum comprometimento com a pessoa surda cresce e está entre os principais problemas.
Essa discussão veio à tona no fim de semana durante o 1º Encontro de Mulheres da Comunidade Surda realizado pela Afapsms (Associação de Famílias, Amigos, Profissionais e Pessoas Surdas de Mato Grosso do Sul), reforçando o que é necessário para acabar com qualquer barreira que atrapalhe a vida de pessoas surdas.
Foram dois dias de palestras, experiências e histórias no palco sobre tudo o que os surdos enfrentam, principalmente, as mulheres.
Se o problema é saúde, nas redes públicas de atendimento elas não conseguem se comunicar com ninguém. Ao precisar de segurança, na delegacia não há policial ou funcionário que saiba a língua. Se um casal de surdos passar mal dentro de casa, como conseguirá pedir socorro? O questionamento levou o público a pensar em medidas para que essas e outras situações sejam sanadas. “Um aplicativo, por exemplo, facilitaria a vida da comunidade surda”, explica a professora Aparecida Lopes, de 50 anos, uma das fundadoras da associação.
No palco, Ângela Maria Franco, narrou a falta de sensibilidade e informação quando ela quis acompanhar a filha no parto e ver o neto nascer. Ela chegou a ouvir da equipe de enfermagem que só atrapalharia, mas exigiu a presença de um intérprete.
“Era um prazer ver meu neto nascer e entender tudo o que estava acontecendo, porque os meus partos foram muito difíceis. E foi angustiante porque não temos essa acessibilidade nos hospitais de Campo Grande. É um direito da mulher surda ter uma intérprete ali para passar a informação. Eu consegui ter uma intérprete, mas nós não podemos para de reclamar porque muitas mulheres passam por essa situação sem nenhuma ajuda”, declarou Angela.
Ana Claudia Januario sofreu no próprio parto. Sem nenhum intérprete, as primeiras horas com o filho nos braços foram tomadas pela angústia e a vontade de ir para casa. “Eu fiquei sozinha porque não tive intérprete. O médico ficou ali fazendo todos os procedimentos e eu sem entender nada, quando vi meu filho fiquei cuidando para ver se era ele mesmo e ninguém me explicava o acontecia”, desabafa.
A primeira noite no hospital exigiu força de Ana. “Eu ficava com meu bebê no colo e com medo de algo acontecer, por isso, passei a noite inteira sem dormir com medo dele passar mal e eu não ver, como iria pedir socorro? Vivi todas as dificuldades e, sobre a amamentação, eu via todas as mães amamentando, mas ninguém me explicava como era, então sentia muitas dores”, lembra.
Para o presidente da associação, Adriano Oliveira Gianotto, as atuais leis não amparam 100% a comunidade surda, por isso, é preciso discutir medidas para a mudança. “Esse primeiro encontro evidenciamentos mulheres que lutam, que precisam de leis porque elas têm muitas barreiras pela frente. Já fiz um projeto e vamos debater sobre essas propostas para melhorar a condição de atendimento”, garante.
Composta hoje por seis surdos e seis ouvintes, a associação iniciou ano passado, através de mães que viram a luta de seus filhos por direitos. “Meu filho é pré-adolescente, mas não eu tinha um local para que meu filho tivesse o convívio também com os surdos. Porque ele já convive diariamente na escola, em casa e na rua com ouvintes, então acho que é muito importante os surdos terem o contado com a identidade cultural dessas pessoas”, explica Aparecida.
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