Aumento da procura por implantes de testosterona para mulheres preocupa médicos
15:18 27/09/2021
Segundo a entidade, faltam dados sobre eficácia e segurança para uso nesses contextos
A procura por implantes que contêm testosterona e outros hormônios para mulheres tem preocupado associações médicas e especialistas.
No último dia 8, a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) emitiu nota contra o uso de implantes hormonais para contracepção e reposição hormonal não aprovados pela Anvisa. Segundo a entidade, faltam dados sobre eficácia e segurança para uso nesses contextos.
O ginecologista Rogério Bonassi, da Comissão Nacional Especializada de Anticoncepção da Febrasgo, afirmou que a nota foi emitida em resposta ao grande número de dúvidas de ginecologistas sobre o respaldo científico para a prescrição dos dispositivos.
A Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) também emitiu comunicados sobre os riscos da suplementação quando não há deficiência hormonal.
A entidade também contraindica o uso para fins estéticos.
Segundo especialistas, a busca por emagrecimento e ganho de massa muscular fez com que crescesse a demanda por esses implantes.
Mulheres na menopausa também procuram hormônios para aliviar sintomas como redução da libido e aumento de peso.
Conhecidos como “chips”, os implantes são tubos de silicone com hormônios que são inseridos sob a pele.
O único registrado pela Anvisa e comercializado no país é o anticoncepcional etonogestrel.
No entanto, outros tipos são produzidos por farmácias de manipulação com receita.
Em resposta à controvérsia sobre a falta de registro, a Elmeco, uma das principais empresas que produzem implantes no país, divulgou comunicado em que afirma que suas fórmulas manipuladas, por não serem industrializadas, “não têm e não podem ter registro”.
A empresa afirma ainda que farmácias de manipulação são regidas por uma legislação específica.
A endocrinologista Dolores Pardini, responsável pelo ambulatório de reposição hormonal da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e ex-presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da Sbem, observou aumento na prescrição de hormônios. “O mercado teve uma expansão violenta desses ‘chips'”, diz.
Segundo Pardini, mulheres preocupadas com baixos níveis de testosterona buscam a suplementação.
De acordo com posicionamento de entidades internacionais publicado em 2019 no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, a única indicação com evidências para o uso do hormônio em mulheres é o transtorno de desejo sexual hipoativo –distúrbio caracterizado pelo desinteresse por relações sexuais.
O diagnóstico é feito em mulheres na menopausa e baseado no quadro clínico, não na dosagem do hormônio.
O ginecologista Ricardo Bruno, membro da Febrasgo e chefe do ambulatório de reprodução humana e ginecologia UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), associa o aumento na procura por hormônios à divulgação de promessas estéticas.
“Vemos jovens, de 20 a 30 anos, utilizando esses androgênios. Elas começam a usar e não param mais, porque atingem o corpo que queriam.”
Ele ressalta a falta de pesquisas sobre os efeitos do uso prolongado de testosterona.
Outros médicos, entretanto, prescrevem os dispositivos. O ginecologista Igor Padovesi, membro da Comissão de Comunicação Digital da Febrasgo, afirma que há mulheres que se beneficiam dos implantes. Em alguns casos, “na dose certa, a testosterona é bem-vinda”.
Padovesi também prescreve implantes de gestrinona, popularizados sob o nome “chip da beleza”, para pacientes com endometriose, por exemplo.
Segundo ele, a indicação não deve ser estética e o uso inadequado pode trazer riscos como engrossamento da voz e aumento dos pelos corporais.
Maria Janieire Alves, cardiologista do Incor e professora da Universidade de São Paulo, percebeu aumento no número de pacientes com efeitos colaterais como arritmia e hipertensão causados por implantes de testosterona.
“Inicialmente podem existir benefícios estéticos, mas depois de quatro meses os sinais [de excesso do hormônio] surgem, como piora do cansaço e aumento da pressão arterial.” Também há maior risco de infarto e derrame, diz Alves.
O caminho para regular a testosterona na menopausa ou conquistar um corpo mais saudável é, de acordo com a cardiologista, velho conhecido: aliar exercícios físicos, em especial a musculação, com alimentação saudável.
OS EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO DE TESTOSTERONA
Expectativas
- – Ganho de massa muscular;
- – Emagrecimento;
- – Aumento da libido;
- – Aumento da disposição;
Riscos
- – Acne;
- – Aumento dos pelos corporais, inclusive na face;
- – Queda de cabelos;
- – Engrossamento da voz;
- – Crescimento do clitóris;
- – Aumento do colesterol;
O que dizem os médicos:
- – A avaliação rotineira de testosterona em mulheres não é indicada;
- – Valores baixos têm pouco ou nenhum significado clínico;
- – A dosagem pode ser indicada em situações específicas, para diagnóstico de transtornos.
Via Correio do Estado
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