Campo Grande

Boate Valley marca balada para véspera do novo toque de recolher

Circuito MS

15:20 12/03/2021

Infectologista alerta para contágio em festas, “ser contaminado com Covid-19 nesse momento pode trazer mais consequências fatais”

Após prefeitura de Campo Grande antecipar toque de recolher para às 20h, bar da Capital marca festa “despedida” na véspera do início da novo período de restrição. Com a curva ascendente de casos, empresa estipulou término da festa para às 23h.

No dia seguinte, entra em vigor em todo o Estado de Mato Grosso do Sul, o novo toque de recolher, que vai gerar efeito das 20h às 5h, e que impedirá atividades não essenciais aos fins de semana, como essa festa, a partir das 16h.

A Valley uma das mais badaladas boates de Campo Grande no período pré-pandemia, tem um histórico com a disseminação do coronavírus. Foi lá que a paciente zero da Covid-19 em Mato Grosso do Sul, esteve antes de ter seu exame positivo confirmado. Funcionários do local também foram infectados naqueles dias.

Bar (antiga boate, mudou de nome durante a pandemia) Valley Campo Grande agendou para sábado (13) show ao vivo com duas duplas sertanejas. A casa promete respeitar os protocolos de biossegurança, contudo, a médica infectologista Rafaeli Cardoso Barbosa explica que mesmo assim o ambiente, que é fechado, não é seguro.

“Considerando a nova variante P1, que já está no Estado, que é mais transmissível, que os estudos em outras capitais apontam que é mais grave em jovens e tratando-se de um ambiente fechado, onde as pessoas não usarão máscaras o tempo todo pois estarão bebendo, o risco de contaminação é alto”.

A médica lembrou ainda que os hospitais estão lotados e que há fila de espera para internações, tanto em UTIs da rede pública e suplementar. “Ser contaminado com Covid-19 nesse momento pode trazer mais consequências fatais no desfecho da doença”, alerta.

“Não estamos preocupados somente com a infecção pelo coronavírus, estamos preocupados com a ocupação dos leitos. Os acidentes de trânsito continuam acontecendo e as outras doenças também, este cenário de hospitais lotados e profissionais sobrecarregados é um risco muito grande para saúde pública”, ressaltou a infectologista.

O toque de recolher em Campo Grande começa no domingo (14) e vai até o dia 27 de março. “Quanto menos nos expusermos a situações de risco em que precisaremos de auxílio médico melhor neste momento de sobrecarga do sistema de saúde”, completou Barbosa.

Medidas restritivas

Durante o toque de recolher, poderão funcionar somente os serviços de saúde, de transporte, de alimentação por meio de delivery, farmácias e drogarias, funerárias, postos de gasolinas e indústrias.

No decreto do governo do Estado, ficou instituído ainda outras medidas, como horário de funcionamento especial aos finais de semana. Para os serviços que não sejam classificados como de natureza essencial, fica permitido o funcionamento somente das 5h às 16h aos sábados e domingos.

A realização de cirurgias eletivas pelos hospitais da rede pública estadual e pela rede contratualizada também estão suspensas.

Na tarde de quarta-feira (11), a Associação Comercial de Campo Grande, em reunião com o prefeito Marcos Trad, foi uma das que mais pressionaram o prefeito para que não atendesse as medidas previstas no novo decreto editado e publicado pelo governo do Estado.

Pressão semelhante foi feita pela entidade que representa os bares e restaurantes de Mato Grosso do Sul.

A Associação Brasileira dos Bares e Restaurantes em Mato Grosso do Sul (Abrasel-MS), que representa a Valley, informou que não opina sobre empresas individualmente.

“A entidade orienta todos os estabelecimentos a seguirem estritamente os protocolos de biossegurança e as normas decretadas pelo Governo do Estado e Prefeitura para manter o setor seguro para empresários, funcionários e clientes”.

O presidente da Abrasel MS, Juliano Wertheimer, afirma que a entidade defende as empresas do setor que seguem as regras e se adequam aos protocolos, não gerando aglomeração. Qualquer empresário ou empreendimento que for contra a ordem pública, não terá a defesa da Abrasel MS.

A nota da entidade ainda conclui: “o principal papel da Abrasel MS, enquanto entidade representativa, é fazer a interlocução entre o setor e as autoridades governamentais, em quaisquer esferas, para dialogar sobre os melhores caminhos, tanto para a contenção da pandemia, quanto para a manutenção dos empregos e da atividade econômica”.

A Associação Comercial e Industrial de Campo Grande não respondeu até a publicação da reportagem.

Histórico

A casa noturna pode ter sido um dos primeiros ambientes de contágio do vírus na Capital, já que a jovem Thayany Silva, uma das primeiras infectadas com o coronavírus no Estado, esteve em festa de formatura na Valley um dia antes de ser confirmada com a doença.

Na mesma festa, um produtor de mídia que trabalhou na ocasião, dias depois foi internado em estado grave, em coma induzido e entubado, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS).

Em agosto de 2020, a Valley anunciou o fechamento de duas casas noturnas da rede, consequência da pandemia do novo coronavírus. Aberta em 2008, o grupo chegou a ter três unidade operando na Capital.

Via Correio do Estado

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