Cesta alimentar indígena entregue em MS traz só dois itens “culturalmente corretos”
12:48 12/08/2023
Entre itens distribuídos aos povos originários do Estado aparecem alimentos que trazem risco à saúde, como óleo de soja; leite em pó e até sardinha enlatada
Sendo 116.346 mil pessoas, em 32 territórios de Mato Grosso do Sul, divididas em oito etnias (Guarani, Kaiowá, Terena, Kadwéu, Kinikinaw, Atikun, Ofaié e Guató), a cesta alimentar que os indígenas de MS recebem está longe de ser classificada como “culturalmente correta”, quando lançado o olhar da alimentação saudável aliada à preservação cultural.
Kalymaracaya Nogueira é indígena, originária do povo Terena, da Aldeia Bananal – com renome internacional inclusive por ser convidada do programa Masterchef – e detalha alguns riscos nos alimentos distribuídos pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Estado de Assistência Social e dos Direitos Humanos (SEAD), e pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
“Culturalmente correto não porque alguns itens são causadores de doenças como: sal, sardinha enlatada (hipertensão); açúcar, trigo (diabete) óleo de soja (colesterol)”, comenta ela.
Abaixo seguem as listas dos alimentos presentes na cesta alimentar do Estado e da Conab:
Estado | Conab |
Arroz tipo 1 – 5Kg Feijão Tipo 1 Carioca – 1 kg Sal refinado 1kg Macarrão Espaguetti – 500g Leite em pó Instantâneo – 400g Óleo de Soja – 900ml Açucar Cristal – 2 kg Fubá de Milho – 1kg Charque Bovino – 500g Farinha de Mandioca – 1kg | 10 kg de arroz 3 kg de feijão cores 1 kg de fubá ou flocos de milho 1 kg de farinha de mandioca ou trigo 1 unidade de óleo de soja 1 kg de açúcar cristal 1 kg de macarrão comum 1 kg de sal 2 kg de leite em pó e 0,5 kg de sardinha enlatada. |
Nas palavras de Kalymaracaya, entre todos os itens dessa lista, os que mais se aproximam da cultura tradicional desses povos são: o fubá e a farinha de mandioca.
“Essa cesta que é entregue não é culturalmente correta. Só dois itens que vi aí que se aproximam da cultura… o restante todo é considerado produto industrializado”, afirma a chef.
Segundo a chef, há alguns anos um estudo indígena já apontava para a viabilidade desses próprios povos produzirem seus alimentos, já que esses povos originários possuem terra, sementes orgânicas e, principalmente, o conhecimento necessário.
Kalymaracaya destaca que há muito tempo deveria ter sido adotada uma política pública onde o indígena, que já praticam a extração de castanhas do cerrado; produção de milho; abóbora, trabalhem e colham suas próprias cestas alimentares com incentivo.
“Mas o que o governo busca fazer: colocam para dar essas cestas justamente para ganhar algo com isso, é mais importante para eles a entrega do que nós mesmos trabalharmos a terra. Infelizmente é uma coisa que sofremos por isso, porque quando chegam na cidade não tem emprego, oportunidade, já que o indígena é muito marginalizado no Estado de Mato Grosso do Sul”.
Distribuição
Pela Conab, somente neste ano, estavam previstas, a partir de junho, a entrega de 27 mil cestas alimentares à indígenas sul-mato-grossenses, sendo: 10.961 entregues neste primeiro mês; 7.340 unidades em julho e mais 8.711 para o mês de agosto.
Vale ressaltar que, para essas entregas, a Conab conta com apoio das coordenações regionais da Funai.
Ainda, conforme a Secretaria de Estado de Assistência Social e dos Direitos Humanos (SEAD), para este 2023 a previsão é de uma entrega de 238.788 cestas alimentares a serem entregues.
Estimativa é que mais de 90% da população indígena do Estado seja beneficiada, enquanto áreas não demarcadas, são atendidas com cestas alimentares de responsabilidade do Governo Federal.
Via Correio do Estado MS
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