Como vivem os homens que amam ou escondem paixões homossexuais no Pantanal
10:35 28/03/2019
[Via Campo Grande News]
A dignidade que um travesti encontra no Carnaval. O fazendeiro que esconde a sete chaves o tesão por outros homens. Um centenário que não esconde os seus desejos…São histórias contadas detalhadamente no livro “Batalha de Confete: envelhecimento, condutas homossexuais e regimes de visibilidade no Pantanal-MS”, do professor e doutor em Ciências Sociais Guilherme Passamani, após anos de estudo sobre a sexualidade de homossexuais de Corumbá e Ladário.
O livro não romantiza ou adocica experiências que podem também ser muito tristes, garante o escritor. Mas dá voz ao público LGBT que se sente realizado mesmo em uma cidade do interior.
É resultado da tese de doutorado na Unicamp, com pesquisa realizada de 2012 a 2015, orientado pela professora Guita Debert. O processo de pesquisa passou pelas maiores cidades do interior como Três Lagoas, Ponta Porã, Dourados e Corumbá e, justamente na cidade pantaneira, a recepção foi maior e se mostrou mais aberta.
Guilherme se dedicou a pesquisa porque sempre desconfiou da ideia de que a realização plena da sexualidade de homossexuais se daria somente nas capitais e metrópoles nacionais. “Eu sempre entendi que a maior parte das pessoas do interior não vai para esses lugares, mas elas precisam de algum jeito viver sua sexualidade, construir seus roteiros eróticos e afetivos nas cidades de origem. A partir daí, descobri uma série de especificidades de Corumbá que me fizeram pesquisar a região”.
Corumbá e Ladário são cidades das quais não há espaços paro o público LGBT. Não há bares, boates ou saunas, mas há um circuito erótico que as vezes a gente não vê por estar fora dele. “E, neste sentido, a internet se tornou uma das maiores aliadas, especialmente, com os aplicativos”. Com isso, a ideia foi mostrar que não é preciso que gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais da cidade para se realizar sexualmente.
O livro também expõe como eventos culturais da cidade trouxeram um novo olhar sobre essas pessoas. “Algumas até passaram por processos difíceis, mas hoje têm uma relação diferente com a visibilidade e, para isso, as festas foram muito importantes, porque elas estão envolvidas com a cultura da cidade”.
O que na visão de Guilherme tornou Corumbá um lugar particular. “Corumbá teve que resolver suas inúmeras carências no que diz respeito a carência, pobreza e distância porque não é muito fácil migrar de lá ou ter dinheiro para ir em outro lugar. Então a cidade precisou se administrar de uma forma diferente em todos os sentidos, inclusive, no mundo dos prazeres. E parece que as pessoas conseguiram dar jeito”.
Talvez, em Corumbá, não seja tudo da mesma forma como numa capital, mas há uma série de histórias interessantes segundo o escritor ao lembrar que na década de 80, por exemplo, a cidade teve uma boate onde transformistas se apresentavam. “Há também uma particularidade das travestis que se envolvem secundariamente ou não com a prostituição, mas quase todas estão envolvidas com a arte, tem muita travesti como presidente de escola de samba, tem muito carnavalesco que é travesti e isso confere um lugar de dignidade para elas, diferente de outros espaços em que elas são sempre associadas à prostituição”.
O que prova que não é um “terror” ser LGBT em cidade “pequena”. “Parece que as pessoas estão vivendo e se apaixonando como em qualquer outro lugar.
Isso não elimina os problemas como o preconceito e homofobia, avalia Guilherme, mas rompe com a “certeza” que toda cidade pequena é conservadora e preconceituosa. “Acho que também é uma tarefa do campo da Antropologia, que é Antropologia Urbana, pensar como o prazer é agenciado em cidades pequenas e de porte médio porque está havendo um movimento de sair das capitais para tentar entender como esses lugares menores fazem para gerir suas mais diversas questões, inclusive, no mundo dos prazeres. E o que tem sido descoberto é que nesses vilarejos e cidadezinhas há muitas histórias para contar, o que nos faz questionar o discurso de que cidade pequena é conservadora e mais preconceituosa. Pode ser, mas não necessariamente será”, explica.
O lançamento do livro será no dia 2 de abril, a partir das 17h, no Auditório da FAALC, no Corredor Central da Cidade Universitária da UFMS. Pelo site da editora Papéis Selvagens Edições o livro custa R$ 50,00, mas no dia e local do lançamento ele será vendido a R$ 40,00.
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