Conflito entre Israel e Hamas pode impactar custos da produção em MS
9:05 12/10/2023
Fertilizantes são os principais produtos importados pelo Estado da região do Oriente Médio; carnes e grãos os mais exportados
A intensificação da guerra entre Israel e Hamas, no Oriente Médio, traz riscos para a produção agrícola brasileira como um todo. Apesar de o conflito inicialmente não impactar diretamente o Brasil, há um temor quanto aos efeitos no preço do petróleo, que tende a afetar o custo de produção de fertilizantes, do diesel e de fretes.
Mato Grosso do Sul pode ser afetado caso o confronto seja prolongado, já que existe uma relação comercial entre Israel e o Estado. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em todo o ano passado, entre importações e exportações, foram negociados US$ 83,990 milhões (R$ 424 milhões) entre Mato Grosso do Sul e o país.
As principais compras realizadas pelo Estado são de fertilizantes, e por isso há o temor de impacto no agronegócio. No ano passado, MS importou 24,943 mil toneladas de fertilizantes de Israel, resultando em negociações da ordem de US$ 21,152 milhões (R$ 107 milhões). Ainda de acordo com o MDIC, de janeiro a setembro deste ano, Mato Grosso do Sul importou 10,320 mil toneladas de fertilizantes, ou US$ 3,762 milhões (R$ 19 milhões) negociados.
A situação não é nova para os produtores, que viram os custos dos insumos, e consequentemente da produção, irem às alturas após a Rússia invadir a Ucrânia no ano passado, problemática que pode se repetir neste ano.
De acordo com o analista de comércio exterior Aldo Barigosse, a relação de Mato Grosso do Sul com a região de conflito é pequena em termos de impacto numérico na balança comercial, mas a preocupação é do impacto geral.
“A preocupação é grande, principalmente sobre os impactos que isso pode ter no preço das commodities. A gente importa o fertilizante lá da região do Oriente Médio. Se essa guerra se prolongar, poderemos ter um impacto na nossa próxima produção do agronegócio, com uma disparada do preço de fertilizantes e do custo da produção”, avalia.
O analista ainda pontua que é preciso ficar atento ao mercado para saber como o cenário vai se desenrolar.
“A gente tem que ligar um sinalzinho amarelo e aguardar um pouco. Acredito que essa guerra vai se prolongar um pouco mais. E a gente tem que ser bem pé no chão em relação à parte de importação de fertilizantes, que esse preço deve crescer nos próximos meses. E também ficar atento à questão da oportunidade de vender produtos, principalmente alimentos que nós temos aqui no nosso estado”, conclui Barigosse.
Balança comercial
Relação entre Israel e Mato Grosso do Sul
O pesquisador do Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e Comércio Internacional, Abrahão Fecury, avaliou, em entrevista ao Estadão, que a tendência é de que ocorra uma elevação dos preços dos fertilizantes à base de cloreto de potássio.
“Por conta da representatividade de Israel no abastecimento brasileiro, mas em menor nível do que o fenômeno observado com o conflito russo, que foi responsável por cerca de 31% do abastecimento brasileiro em 2022”, diz Fecury.
O pesquisador pontua que, de acordo com levantamento do MDIC, 91% de todas as importações de origem israelense, entre janeiro e setembro deste ano, são de fertilizantes NPK, à base de nitrogênio, fósforo e potássio (K). Entre eles destaca-se o cloreto de potássio (KCL), que é mais importado pelo Brasil, voltado, por exemplo, ao plantio de soja, milho, algodão e café.
Ele aponta, ainda, que Israel ocupa o terceiro lugar de maior fornecedor brasileiro do produto químico, sendo responsável por cerca de 10% da demanda do País em 2022, ou, em números absolutos, cerca de 1,1 milhão de toneladas do produto.
O advogado especialista em direito agrário Néri Perin diz que também observa o cenário com preocupação. “Israel é um dos principais fornecedores, notadamente, de cloreto de potássio. Frente o risco de ter sua cadeia de fornecimento afetada pelo conflito em andamento, o governo brasileiro deve desenvolver uma estratégia urgente para suprimento de tais produtos”.
RELAÇÃO COMERCIAL
Ainda de acordo com os dados do MDIC, ao todo, são seis grupos de produtos importados de Israel no acumulado de 12 meses de 2022, sendo eles: fertilizantes (com valores negociados de US$ 21,152 milhões); plásticos (US$ 121.630); e reatores nucleares, cadeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos (US$ 258.327).
Em seguida vêm aparelhos e materiais elétricos, aparelhos de gravação ou reprodução de som, televisão e suas partes (US$ 3.903). E ainda aparelhos óticos, fotografia, cinematografia e aparelhos médicos cirúrgicos (US$ 49.108); brinquedos, jogos, artigos para divertimento e suas partes (US$ 45.936).
No âmbito nacional, o economista Rodney Ribeiro, da WIT Invest, explica que a situação deve reverberar sobre toda a cadeia produtiva.
“O Brasil, por ser uma economia bem relacionada, tende a sofrer os impactos nas exportações e importações. Além disso, afeta diretamente o mercado financeiro brasileiro, principalmente o mercado acionário”, destaca.
Outra relação comercial que deve ser impactada pela guerra, no Estado, é a exportação. A atividade angariou, neste ano (entre janeiro e setembro), US$ 19,337 milhões no envio de produtos a Israel.
Entre os principais itens estão carnes, cereais, gorduras e óleos vegetais e animais, e ainda resíduos e desperdícios das indústrias alimentares preparados para animais (ração), papel e cartão.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio afirma, em nota, que, “assim como todo o governo brasileiro”, acompanha com atenção o desenrolar dos conflitos no Oriente Médio. “As consequências para o Brasil e para o mundo vão depender da evolução desse cenário”, explica a Pasta.
Em relação aos fertilizantes, o ministério apresentou dados de que o Brasil importou US$ 24,7 bilhões em fertilizantes em 2022, sendo US$ 1,1 bilhão de Israel (4,4% do total).
Via Correio do Estado MS
Comente esta notícia
compartilhar