Empoeirado, ‘Manoel’ espera em depósito definição sobre lugar
9:50 12/09/2017
[Via Campo Grande News]
Bairro distante e rua batida de terra que termina com aparência de que chegou-se a algum local sem rumo. É ali, em depósito locado pela Prefeitura de Capital, que descansa a figura imortalizada de um dos poetas mais notórios da geração moderna: Manoel de Barros. A estátua que eterniza o criador de versos mais famoso de Mato Grosso do Sul é do artista Victor Henrique Woitschach, que a fez aos moldes da icônica imagem de Carlos Drummond de Andrade, no Rio de Janeiro. Em Campo Grande, no entanto, Manoel em bronze olha para uma paisagem feia e acumula poeira.
A estátua mobilizou o poder público e teve todas as merecidas pompas em cerimônia para inaugurá-la, em abril. Até o governador, Reinaldo Azambuja, foi visto sentado ao lado do poeta. Hoje, no entanto, a falta de consenso sobre o lugar onde a obra pode ser instalada faz com que estátua que homenageia Manoel fique bem distante da paisagem que era tão cara ao poeta: natureza, árvores e passarinhos.
O depósito guarda objetos que destoam de uma obra de arte: materiais velhos, uma motocicleta, e talvez o mais melancólico deles: Manoel tem os olhos voltados para uma pilha de colchões. A estátua fica em um canto do depósito, em meio à duas placas compensadas de maneira, uma provável tentativa de proteger a obra de qualquer intempérie.
O impasse ocorreu após a decisão de colocar a estátua na principal avenida, e cartão postal da cidade, a Afonso Pena. O canteiro da via é patrimônio histórico tombado e o trecho escolhido para colocá-la foi entre as ruas 13 de maio e Rui Barbosa, sítio arqueológico do Exército.
Foi justamente com os militares que o poeta encontrou sua barreira: parte das autarquias do poder público entende que aquele exato local, por ser local protegido e histórico ao Exército, não poderia receber Manoel.
Assim entendeu o MPE (Ministério Público Estadual) que primeiro emitiu recomendação e depois, de fato, judicializou a questão. O juiz David de Oliveira Gomes Filho, titular da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos entendeu da mesma forma e acatou o pedido, proibindo que a estátua fosse instalada no trecho em questão.
Manoel pode fica na Afonso Pena?
O juiz até citou um dos poemas mais famosos do Brasil, ‘José’, de Carlos Drummond, para introduzir a decisão: ‘E agora, Mané?’, uma alusão ao nome do poeta sul-mato-grossense. O magistrado, ainda assim, pontuou que não há problema em colocar a estrutura de bronze em outro trecho do canteiro, mesmo entendimento do MPE. Novamente, no entanto, esse entendimento não virou consenso.
Quando ainda era recomendação, o parecer do MPE pontuou que a administração municipal poderia escolher outro trecho, desde que tivesse em mãos os pareceres da Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo) e do IHGMS (Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul. Este último não concorda com a intervenção no canteiro histórico para a Capital de Mato Grosso do Sul.
Pensa diferente, no entanto, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) que emitiu parecer dizendo que Manoel em bronze poderia, sim, ser colocado na Avenida Afonso Pena, porque o simples tombamento do canteiro como patrimônio histórico e cultural não representa impedimento.
Quem cuida de Manoel?
A obra está sob os cuidados da Planurb até que se chegue a um acordo ou com uma nova decisão de destino que não seja marcada por alguma contrariedade ou proibição. Por meio da assessoria de imprensa, a diretora-presidente da Planurb, Berenice Maria Jacob Domingues, afirmou que a questão está sendo tratada pela prefeitura municipal de Campo Grande, junto com a Procuradoria-Geral do Município.
“Ela (estátua) já foi levada do Museu faz um bom tempo. Estou indignada com a falta de respeito com o artista Victor Henrique Woitschach, que fez a obra e com o próprio Manoel de Barros. Infelizmente a nossa cultura está tristemente representada”, disse a diretora-presidente do Marco, Lucia Monte Serrat.
Também por meio da assessoria de imprensa, o Planurb afirmou que a Sectur já emitiu laudo favorável sobre a intervenção do canteiro “para acréscimo de algo/ou modificação”.
A prefeitura tem 60 dias para achar um destino final para o poeta de bronze. Enquanto isso, a única coisa que o poeta criado com passarinhos encontra como o homenagem é a rua onde fica o depósito, que compartilha com ele o nome: Rua Manoel Nóbrega.
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