Entenda as concessões feitas pelos EUA e aliados à Ucrânia para conter Putin
17:09 02/06/2024
Autorização do uso de armas ocidentais em solo russo, liderada pela França e seguida por EUA e Alemanha, pode mudar o rumo da defesa ucraniana em Kharkiv
As potências ocidentais sempre tiveram o cuidado de evitar uma escalada com a Rússia, mas nesta semana deram um novo passo no seu apoio militar à Ucrânia.
Desde a invasão russa, em fevereiro de 2022, os Estados Unidos e os aliados europeus se mobilizaram para ajudar Kiev em sua autodefesa, mas sempre hesitaram em adotar medidas que representassem qualquer suporte aos ucranianos para atacar a Rússia em seu território.
O uso de armas fornecidas pelo Ocidente em solo russo, portanto, era uma linha vermelha.
Mas a ofensiva iniciada por Moscou em 10 de maio em Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, a 20 quilômetros da fronteira com a Rússia, fez as potências ocidentais reconsiderarem sua posição.
A segunda maior cidade da Ucrânia tem sido atacada por mísseis terra-ar e bombas planadoras, disparadas por aviões do espaço aéreo russo.
Um dos ataques mais intensos atingiu uma loja de bricolagem no sábado (25) e deixou pelo menos 16 pessoas mortas. E nesta sexta-feira (31), três pessoas morreram em um bombardeio a um prédio residencial em um subúrbio da cidade.
A nova ofensiva aprofundou a percepção de que a Ucrânia vive a sua pior crise desde o início do conflito e aumentou a pressão por concessões dos seus aliados.
A resposta começou pela França. Na terça-feira (28), em uma coletiva de imprensa com o chanceler alemão Olaf Scholz, o presidente francês Emmanuel Macron afirmou que as armas francesas enviadas à Ucrânia, incluindo mísseis de longo alcance, foram autorizadas a atingir bases dentro da Rússia.
Macron usou mapas para defender a sua posição e disse que a Rússia estava bombardeando Kharkiv a partir de seu próprio território.
Ele argumentou que manter a restrição sobre o uso das armas em solo russo seria o mesmo que dizer à Ucrânia: “Estamos entregando armas a vocês, mas vocês não podem se defender”.
A Alemanha, o maior financiador militar de Kiev, atrás apenas dos Estados Unidos, também deu aval para que tanques enviados por Berlim fossem usados para atacar o território russo.
Scholz ecoou Macron e disse: “Temos que dizer isto claramente: [a Ucrânia] está sob ataque e pode se defender.”
Após a movimentação dos europeus, nesta sexta-feira, autoridades americanas confirmaram à CNN que o presidente americano Joe Biden também deu permissão à Ucrânia para usar armas fornecidas pelos EUA para atacar alvos na Rússia.
O afrouxamento das restrições marca uma ruptura importante. E aumenta o temor de uma resposta russa à altura. Por isso, os aliados ocidentais tentaram ser cautelosos e ponderaram que a concessão foi dada, mas com restrições.
Kiev só pode atingir alvos na fronteira perto de Kharkiv. A Ucrânia também não pode usar qualquer munição. Washington enfatizou que a melhor arma transferida aos ucranianos, os mísseis ATACMS, com alcance de 300 quilômetros, não devem ser usados.
O presidente russo, Vladimir Putin, reagiu às medidas e disse que o uso de armas fornecidas por potências ocidentais contra o território russo levaria a sérias consequências e mais uma vez levantou o risco de guerra nuclear.
Na sexta-feira, o Kremlin também afirmou que as concessões dizem muito sobre o grau de envolvimento do Ocidente no conflito e acrescentou que o “clima pró-guerra na Europa” estava evoluindo para uma “histeria pré-guerra”.
Logo em seguida, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que ameaças russas não são novidade e acontecem sempre que a Otan demonstra apoio à Kiev.
Sobre o risco de uma escalada da guerra, Stoltenberg ironizou dizendo que foi a Rússia quem escalou as tensões ao invadir outro país.
Ele também disse que a Ucrânia tem o direito de se defender e que isso não faz a Otan e seus membros serem parte da guerra.
Ainda nesta semana, o principal general dos EUA havia dito que Washington não cederia sobre o uso dos armamentos americanos em solo russo porque “se tratava de uma guerra na Ucrânia, e não entre os Estados Unidos e a Rússia, ou entre a Otan e a Rússia”.
A fala não deixa dúvidas: os americanos sabem que a concessão feita nesta semana representa um aumento do envolvimento dos aliados na guerra.
As consequências do apoio das potências ocidentais à Ucrânia para ataques em território russo são desconhecidas – tanto em termos da eficácia para repelir a ofensiva em Kharkiv, quanto em relação à escalada do conflito.
Mas para o bem da Ucrânia e dos países envolvidos, espera-se que Stoltenberg esteja certo e as ameaças nucleares de Putin sejam apenas um novo blefe.
Via CNN Brasil
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