Internacional

Entenda por que Biden decidiu tornar público seu ultimato a Israel sobre Rafah

Circuito MS

7:35 10/05/2024

Segundo fontes do governo, decisão vem após telefonemas com o premiê israelense e reuniões entre os principais tenentes da segurança nacional dos EUA e Israel

A decisão do presidente Joe Biden essa semana de tornar público o seu ultimato de que uma grande ofensiva israelense na cidade de Rafah resultaria no corte de envio de certos tipos de armas dos EUA não foi fácil nem leviana.

A decisão surgiu após séries de telefonemas com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a partir de meados de fevereiro, instando-o a reconsiderar os seus planos de invadir a cidade densamente povoada no sul de Gaza, que tem sido um canal crítico para a ajuda humanitária.

Horas e horas de reuniões virtuais e presenciais entre os principais tenentes da segurança nacional de Biden e seus homólogos israelenses tinham como objetivo enviar a mesma mensagem, de acordo com as autoridades: há outras maneiras de perseguir o Hamas, expuseram os assessores de Biden, que não são a invasão uma cidade para onde mais de um milhão de palestinos foram em busca de segurança, disseram autoridades.

Em vários níveis, o presidente e a sua equipe alertaram Netanyahu que uma grande invasão de Rafah não seria auxiliada por armas americanas.

Foi uma mensagem que a Casa Branca acreditava ter sido bem compreendida pelo governo de Israel, disseram funcionários da Casa Branca na quinta-feira (9).

Ainda assim, tornar públicos esses avisos foi um passo que Biden há muito temia tomar. Fazer isso representaria um ponto de virada e a maior ruptura nos laços EUA-Israel desde o início da guerra em Gaza, após os ataques terroristas de 7 de outubro perpetrados pelo Hamas.

Mesmo sob pressão dos progressistas do seu próprio partido para tomar medidas para limitar o sofrimento humanitário em Gaza, Biden tem tido o cuidado de evitar uma rixa pública com Netanyahu.

Ainda assim, nas reuniões do gabinete de guerra de Netanyahu, a decisão de ir para Rafah parecia iminente.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) estabeleceram agora uma presença em Rafah e ao longo da sua fronteira, bloqueando dois pontos de entrada de ajuda e alertando para uma ofensiva maior que está por vir.

No final das contas, disseram as autoridades, Biden passou a acreditar que seus avisos estavam sendo ignorados e então mudou de rumo.

Na semana passada, Biden assinou uma pausa no envio de 3.500 bombas para Israel, que funcionários do governo temiam que fossem lançadas sobre Rafah.

E na quarta-feira (8), em uma entrevista na faculdade comunitária em Wisconsin, Biden tornou explícito ao mundo o que disse já ter deixado óbvio a Netanyahu em privado.

“Se eles forem para Rafah, não fornecerei as armas que têm sido usadas historicamente para lidar com Rafah, para lidar com as cidades – que lidam com esse problema”, disse Biden.

Casa Branca diz que ultimato não foi uma surpresa

Os assessores do presidente disseram que a mensagem não deveria ter sido uma surpresa para os destinatários pretendidos em Israel.

“Posso assegurar-lhe que a natureza direta e franca com que ele se expressou e as suas preocupações naquela entrevista são consistentes com a forma como ele se expressou ao primeiro-ministro Netanyahu e às autoridades israelenses”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, na quinta-feira.

O governo israelense, disse Kirby, “compreendeu… já há algum tempo” as implicações que uma grande ofensiva em Rafah teria no futuro dos carregamentos de armas norte-americanos. Conscientes ou não das opiniões do presidente, as autoridades israelenses reagiram com choque ao anúncio público. Netanyahu foi desafiador.

“Se precisarmos ficar sozinhos, ficaremos sozinhos. Eu disse que, se necessário, lutaremos com as unhas”, disse ele na quinta-feira. As autoridades israelenses também procuraram minimizar a importância do anúncio de Biden. Um porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI), Daniel Hagari, disse que Israel já possui as armas necessárias para as missões que está planejando.

Além das bombas de 907 quilos, Biden disse que a artilharia poderia ser retida no caso de uma invasão de Rafah.

Apesar de ser menor em tamanho do que as bombas, a administração Biden vê a artilharia como armas indiscriminadas e imprecisas que podem causar danos perigosos nas áreas urbanas.

Dúvidas sobre as intenções de Israel em Rafah

Israel afirmou que a sua atual campanha em Rafah é “limitada”, uma descrição que as autoridades norte-americanas repetiram.

Mas nos bastidores, persistem dúvidas sobre as intenções de Israel, apurou a reportagem, com clareza limitada fornecida aos EUA sobre como as FDI planejam proceder.

Ao longo do conflito, a frustração de Biden com Netanyahu cresceu, mesmo quando o presidente dos EUA sustentou publicamente que o seu apoio ao Estado de Israel era inabalável.

Biden deixou claro que, independentemente do rumo que a guerra Israel-Hamas tome, os EUA continuarão a ser o aliado mais leal de Israel enquanto ele for presidente.

Essa convicção, disseram os conselheiros, era separada e à parte da evolução do relacionamento do presidente com Netanyahu.

“Israel não é a mesma coisa que Netanyahu”, disse um conselheiro sênior de Biden à CNN.

Rafah dificilmente foi o único atrito no relacionamento.

Segundo relatos dos conselheiros mais próximos de Biden, o assassinato acidental, pelas FDI, no início de abril, de sete trabalhadores humanitários da World Central Kitchen (Cozinha Central Mundial) em Gaza – um deles um cidadão americano – quebrou a já tensa paciência do presidente.

Ao saber da notícia, Biden expressou fúria, disseram assessores. Ele deixou claro aos conselheiros que via as mortes dos trabalhadores humanitários como um “colapso” inaceitável em algumas das formas mais fundamentais como esperava que Israel conduzisse a sua guerra, e que o momento exigia uma nova resposta.

Sua equipe rapidamente conseguiu um telefonema com Netanyahu.

Via CNN Brasil

Comente esta notícia