Escassez de gás na Bolívia não prejudica fábrica de fertilizantes
10:17 30/09/2023
Secretário diz que a UFN3 terá matéria-prima, mesmo que o país vizinho não tenha mais combustível para fornecer
O presidente da Bolívia, Luis Arce, disse no início de setembro que as reservas de gás natural do país foram esgotadas e que as exportações para a Argentina e o Brasil devem ser interrompidas. Apesar das declarações alarmantes, a ativação da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3) não será prejudicada.
A unidade fabril localizada em Três Lagoas consumirá, quando estiver em pleno funcionamento, 2,5 milhões de metros cúbicos (m³) de gás natural e, com isso, aumentará a necessidade de importação do combustível boliviano.
O secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, afirmou ao Correio do Estado que, mesmo que a Bolívia não consiga aumentar a quantidade de gás enviada ao Brasil, outras opções já estão sendo verificadas.
“Vamos supor que nesse período [UFN3 começar a operar] a Bolívia não consiga aumentar a oferta de gás. Na verdade, faz uma substituição, chamada operação swap. A gente utilizaria o contrato que já tem hoje, de 15 a 16 milhões de m³ diários que vai continuar passando, e atenderia a UFN3. Enquanto os contratos na Região Sul do País seriam atendidos pelo pré-sal”, explica.
Ainda conforme o secretário, esta seria uma medida a curto prazo. Verruck não acredita que a Bolívia tenha interesse em inviabilizar o envio de gás natural para o Brasil, e a intenção é que nos próximos anos a capacidade de utilização do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) seja de 30 milhões de m³.
“Durante esse período [de curto prazo], a Bolívia poderia fazer os investimentos necessários, porque o país tem todo o interesse que venda 30 milhões de m³ para o Brasil, que é a capacidade do Gasbol. Não temos essa preocupação, acho que existe um processo de negociação satisfatório para que a gente crie um processo de planejamento adequado para o fornecimento da UFN3”, ressalta Verruck.
O titular da Semadesc ainda afirmou que outras fontes também podem ser exploradas, caso a Bolívia não consiga suprir a necessidade estadual. “A UFN3 não ficará sem gás natural, seja pela opção do aumento da produção da Bolívia, seja pela substituição ou com outras fontes de gás tanto da Argentina como do próprio pré-sal”, confirma Verruck.
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CONTRATO
O acordo de importação de gás natural da Bolívia foi assinado em 1996, com contratação de 30 milhões de m³ por dia. O acordo valia até dezembro de 2019. Desde então, a Petrobras tem contratualizado o fornecimento de 20 milhões de m³ diários.
O Ministério de Hidrocarbonetos e Energias (Hidrocarburos y Energías MHE) afirmou, em nota oficial, que a Bolívia e o Brasil trabalham em um novo contrato de compra e venda de gás natural após 2026. Período em que termina a extensão do contrato da importação do combustível para o Brasil.
“À medida que as negociações avançam, acordos podem ser assinados, aliás, hoje estamos trabalhando para abordar aspectos macros que fazem parte da agenda, do roteiro que compromete investimentos no Upstream [exploração e aproveitamento de hidrocarbonetos] e em projetos de industrialização”, disse o ministro boliviano Franklin Molina.
Ainda segundo a publicação do MHE, o governo brasileiro quer ver a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) como parceira da Petrobras nas plantas industriais construídas do outro lado de cá da fronteira.
“Já há uma grande conversa do governo brasileiro e a gente tem acompanhado isso junto do governo boliviano para ampliar a oferta de gás no Gasbol. Isso demanda investimentos e exploração de gás natural na Bolívia”, reitera Verruck.
A estatal boliviana YPFB investe desde 2021 em um plano para aumentar as reservas, que inclui a execução de 42 projetos exploratórios. O programa foi anunciado depois que o país não teve nenhuma perfuração durante todo o ano de 2020.
Após as declarações de Arce, o presidente da estatal confirmou em outro evento que os primeiros poços perfurados no programa de recuperação de reservas apresentaram resultados positivos.
O secretário da Semadesc apontou que a conclusão da fábrica de fertilizantes deve levar pelo menos um ano e meio, e esse seria o tempo que o Estado teria para resolver a questão do fornecimento de gás.
“Assim que for anunciada, a obra deve demorar em torno de um ano e meio para sua conclusão. O próprio ministro Rui Costa [Casa Civil], quando esteve aqui, anunciou que essa obra será terminada, mas ainda há algumas fases para percorrer do ponto de vista da estratégia da Petrobras”, conclui Jaime Verruck.
FÁBRICA
A UFN3 começou a ser construída em 2011 e teve as obras paralisadas em 2014, após integrantes do consórcio estarem envolvidos em denúncias de corrupção. Na época, a estrutura da indústria estava cerca de 81% concluída.
O processo de venda da UFN3 iniciou-se em 2018 e incluía a Araucária Nitrogenados (Ansa), fábrica localizada em Curitiba (PR). A comercialização em conjunto inviabilizou a concretização do negócio.
No ano seguinte, a gigante russa de fertilizantes Acron havia fechado acordo para a compra da unidade. O principal motivo para que o contrato não fosse firmado, na época, foi a crise boliviana, que culminou na queda do ex-presidente Evo Morales.
Em fevereiro de 2020, a Petrobras lançou nova oportunidade de venda da UFN3. As tratativas só foram retomadas no início do ano passado, com o mesmo grupo russo.
No dia 28 de abril de 2022, a petrolífera anunciou, em comunicado ao mercado, que a transação de venda da fábrica para o grupo Acron não havia sido concluída.
Ainda em 2022, a Petrobras relançou a venda da fábrica ao mercado no mês de junho. Em 24 de janeiro deste ano, a estatal anunciou o fim do processo de comercialização da indústria.
A fábrica de Três Lagoas deve receber aporte de R$ 5 bilhões (US$ 1 bilhão) para sua conclusão. Conforme representantes da gestão estadual, a estrutura tem sido conservada pela Petrobras e os recursos servirão para concluir as obras.
Via Correio do Estado MS
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