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Estudo da UEMS poderá prever onde haverá fogo no Pantanal

Circuito MS

13:10 03/01/2022

Pesquisa inédita está criando mapas de alerta; em 2021, fogo consumiu áreas em Corumbá e em Miranda

Os danos que incêndios florestais causam no Pantanal geraram alertas nacionais e internacionais depois de destruição massiva em 2020, com 26% do bioma queimado.

Grupo formado por 30 pesquisadores estima a morte de pe1o menos 17 milhões de animais vertebrados. Estudo na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), em Aquidauana, está sendo desenvolvido para tentar apontar, já para 2022, onde os incêndios devem ocorrer.

Essa pesquisa entrou em fase final de elaboração e deve ser publicada em uma revista especializada neste ano. Entre as conclusões identificadas estão apontamentos que vão permitir a identificação de áreas mais propensas para o fogo ser iniciado.

A possibilidade de ter esse recurso científico para orientar o trabalho preventivo de Bombeiros, Polícia Militar Ambiental e outras autoridades pode garantir que o céu não fique tão encoberto de fumaça em municípios como Corumbá, Ladário e Porto Murtinho.

Além disso, a possibilidade de combater os incêndios antes que elas aconteçam reduz muito a degradação no bioma, que apesar de ser um dos menores no Brasil é o que tem mais sido afetado pela redução de volume de água.

Com perda de 29% de superfície de água, conforme mapeamento feito com imagens de satélite pelo MapBiomas para o período de 1989-2020.

O que os pesquisadores do câmpus de Aquidauana da UEMS estão desenvolvendo é a geração de zoneamentos de risco de incêndio ao longo do Pantanal.

Essa base de dados, que até hoje é inédita, está monitorando o que está ocorrendo no passado. A leitura desses dados históricos vai permitir desenvolver projeções anuais sobre como o fogo deve se comportar.

“O estudo em andamento irá gerar mapas para o presente e para o futuro. Assim será uma importante ferramenta para auxiliar ações de prevenção e combate aos incêndios, pois, aponta os locais que apresentam os maiores riscos de ocorrência e propagação de incêndios.”

“Servindo como uma importante base de dados geográficos”, detalhou a pesquisadora Patrícia Vieira Pompeu, professora doutora na UEMS.

Esse trabalho de mapeamento vem sendo elaborado a quatro mãos. Além de Patrícia, integram o grupo o professor doutor Guilherme Silvério Aquino de Souza, também da UEMS; João Carlos Pires Oliveira, da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT); e a engenheira florestal Cínthia Alves de Matos.

Os cientistas envolvidos reconheceram que para dar o início ao zoneamento das áreas de perigo no Pantanal houve a identificação de que a base de dados para a análise ainda é deficitária.

Sem uma série histórica robusta sobre os focos de incêndio no Pantanal, parte do levantamento gerou uma demanda maior de pesquisa e leitura de dados espaciais.

O Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), é a base mais consistente para avaliação da estatística. Porém, ele tem caráter muito técnico, e isso dificulta a tradução de dados para realização de zonas de perigo.

“Esses dados não são facilmente interpretados, pois dependem da resolução espacial e temporal dos sensores e também da duração e extensão do incêndio.”

“Porém, são uma excelente ferramenta  de análise científica, sendo de grande importância para suprir as necessidades desta pesquisa”, pontuou Patrícia Vieira, que foi a porta-voz no detalhamento desse estudo.

Os cientistas envolvidos na elaboração do trabalho escrito esperam que após a publicação oficial dos dados identificados, o poder público terá uma nova ferramenta de monitoramento.

Mapas farão parte dessa conclusão para garantir que as dificuldades técnicas que hoje existem na leitura de dados do Programa Queimadas possam ser superadas.

A identificação das áreas mais suscetíveis vai permitir maior agilidade no planejamento.

BALANÇO

Envolvidos com a proteção do bioma, o instituto SOS Pantanal avaliou como foram os incêndios registrados em 2020 e em 2021.

No ano com destruição em maior área, o Pantanal Norte, envolvendo municípios como Poconé, Barão de Melgaço e Cáceres (todos em MT), e a Serra do Amolar (MS) foram mais atingidos. Em 2021, o fogo concentrou-se no Pantanal Sul, nas regiões de Corumbá e Miranda.

“No ano de 2021 o Pantanal teve 1.358.225 hectares (9% do bioma) consumidos pelas chamas, um valor 65,25% menor comparado à totalidade de área queimada do ano de 2020, que teve o total de 3.909.075 hectares (26% do bioma) queimados.”

“Os dados de 2021 são valores aproximados, pois serão refinados no começo de 2022 para maior exatidão”, especificou o SOS Pantanal, citando levantamento do LASA/UFRJ.

O instituto foi enfático na avaliação dos incêndios que com maior investimento e trabalho de prevenção, foi possível evitar que as chamas se alastrassem, mesmo que a estiagem prosseguiu severa, inclusive com momentos mais críticos do que os registrados em 2020.

Como comparação, o rio Paraguai chegou a 1 centímetro de atingir a menor medição registrada na régua de Ladário em meio século.

INVESTIMENTO

Somente com brigadas de incêndio, houve investimento de R$ 1.399.463,56. Esse recurso foi obtido a partir de doações de empresas e pessoas físicas para manter o programa Brigadas Pantaneiras.

O governo de Mato Grosso do Sul também divulgou investimento de R$ 56 milhões para prevenir e combater o fogo, além de proibir as licenças de incêndio controlado.

A pesquisadora da UEMS, Patrícia Vieira Pompeu, que trabalha no projeto de previsão dos locais com fogo assegurou que uma combinação de técnicas vai garantir um avanço importante para garantir a proteção do Pantanal.

“Para a construção de um mapa final de risco de incêndio para o bioma está sendo utilizada uma combinação de técnicas de geoprocessamento e modelagem matemática.”

“Os dados incluem toda área do Pantanal, e a partir da base de dados de focos de incêndios utilizaremos algoritmos que relacionam esses focos a dados ambientais, como derivados de temperatura e precipitação e dados topográficos, como altitude, orientação da encosta e declividade”, disse.

Conforme a pesquisadora, a partir da junção desses dados o modelo gera as áreas com maiores probabilidade de ocorrência e propagação de incêndios.

Depois dessa etapa do estudo ser concluída, os pesquisadores vão abrir um novo leque para buscar explicações científicas sobre os motivos que o fogo concentra-se em determinadas regiões.

Via Correio do Estado MS

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