MS

Governo de transição recebe alerta de risco de fechamento da Embrapa em MS

Circuito MS

9:51 01/12/2022

 

Equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva tem ex-diretora-executiva da empresa e político de Mato Grosso do Sul

Um documento com cinco páginas detalhando a condição da Embrapa em Mato Grosso do Sul e os mais de 20 temas de pesquisa prioritários para a empresa estatal, que atualmente estão relegados e sob risco de continuidade, foi elaborado por pesquisadores e técnicos para ser analisado pela equipe de transição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito para ser presidente a partir de 2023.

Os critérios que foram incluídos nesse estudo foram observados e transcritos depois de uma audiência pública realizada em Campo Grande, em agosto deste ano. A finalização do estudo ocorreu neste mês e foi encaminhado para análise do novo governo federal.

A equipe de transição é comandada pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSDB), mas quem deve, de fato, dar andamento às análises das demandas são os grupos técnicos, entre eles o da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Entre esses integrantes está Tatiana Deane de Abreu Sá, doutora em Biologia Vegetal e ex-diretora-executiva da Embrapa de 2005 a 2011.

Há também o grupo técnico Ciência, Tecnologia e Inovação, que inclui o ex-presidente do CNPq e ex-reitor da USP Glaucius Oliva e o ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) Ildeu de Castro Moreira. Por conta das demandas da Embrapa, outro grupo técnico envolvido é o de Desenvolvimento Agrário.

Neste grupo, faz parte um integrante de Mato Grosso do Sul, o ex-deputado federal e estadual João Grandão (PT).

PROCESSO DE DESMONTE

A Embrapa em Mato Grosso do Sul, que possui três unidades (Embrapa Pantanal, em Corumbá, Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, e Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados), passa por um processo de desmonte que vem ameaçando a condução de diferentes pesquisas.

A desativação de laboratórios e a falta de pessoal para trabalho, principalmente técnicos, criam rumores, inclusive, de que pode ocorrer o fechamento de unidade. Nesse rumo, a Embrapa Pantanal é a que tem enfrentado mais obstáculos nos últimos quatro anos.

O processo de sucateamento, porém, vem sendo apontado desde 2014, inclusive em relatórios técnicos das unidades. No documento elaborado pelos pesquisadores, há quatro pontos importantes para atuar diretamente contra o desmonte.

Neste contexto, foi apontado que é necessária uma reestruturação do Conselho de Administração da Embrapa (Consad) e a inclusão de representantes de movimentos sociais, além da demissão de representantes do atual governo de Jair Bolsonaro (PL).

O Consad é responsável pela organização, controle e avaliação das atividades da empresa estatal, composto por oito membros. Conforme os pesquisadores, é preciso “alinhar a pesquisa com a sociedade, e não com apenas setores dominantes do agronegócio”.

Outra demanda é em relação a um sistema informatizado adquirido pela atual direção da Embrapa, mas que os pesquisadores apontam que trava processos burocráticos e não tem funcionalidade na organização da empresa.

O Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), inclusive, fez denúncia ao Tribunal de Contas da União (TCU) e ao Ministério Público Federal (MPF) para apuração do gasto com a aquisição do sistema e sua real aplicabilidade.

“A reposição do quadro de empregados é urgente, estratégica e por meio de concurso público para todos os cargos e funções deficitários, incluindo os cargos de apoio à pesquisa: assistentes, técnicos e analistas, cujos dois primeiros têm sido negligenciados pela diretoria da empresa, inviabilizando a execução da pesquisa, prejudicando a manutenção de patrimônio público, os cuidados com animais e cultivares, a infraestrutura e a logística e sobrecarregado setores, gerando assédio institucional e adoecimentos”, ainda indicou o estudo elaborado em Mato Grosso do Sul, o qual o Correio do Estado teve acesso.

PESQUISAS EM RISCO

Nos temas de pesquisa relacionados no documento e que são apontados como prioritários – atualmente estão ameaçados de paralisação e perda de dados – estão: estudos de leguminosas que favorecem fixação biológica de nitrogênio; manejo integrado e manejo conservativo de pragas e doenças nos cultivos agrícolas e florestais; produção local de bioinsumos e de protocolos de controle de qualidade acessíveis aos agricultores familiares; solubilização do fósforo no solo, para otimização do seu uso na agricultura; pesquisas para redução de insumos químicos e substituição de medidas para melhorar a qualidade do solo; além do fortalecimento do Sistema Plantio Direto para espécies vegetais de uso agrícola e florestal.

“O concurso público é urgente para reposição do quadro funcional para atender à realidade concreta da necessidade de força de trabalho capacitada para áreas renegadas. Ainda é preciso a desburocratização e tornar a empresa transparente e inclusiva. É preciso resgatar um ambiente corporativo propício à criatividade e ao desenvolvimento científico. E que a infraestrutura de trabalho seja revitalizada [áreas experimentais, laboratórios, unidades de pesquisa] e protegida do sucateamento”, especificou as propostas enviadas ao governo de transição.

Para Mato Grosso do Sul, uma demanda específica ainda foi criada, que é a ativação de uma parceria entre a Embrapa e as comunidades quilombolas.

A unidade de Dourados já realizou esse tipo de trabalho, com pesquisa em diversos tipos de solo em áreas de cultura e locais degradados, com solo arenoso, além de pesquisa de sementes.

A reportagem tentou contato com membros do governo de transição, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria.

Saiba: A Embrapa em Mato Grosso do Sul possui três unidades: Embrapa Pantanal, com sede na cidade de Corumbá; Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande; e Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados.

Via Correio do Estado MS

Comente esta notícia