Igreja abre portas com festival de cultura pop, Star Wars e papo de igualdade
9:50 05/09/2018
[Via Campo Grande News]
Salão pequeno, bem iluminado, com bancos de madeira, quadros de cinema na parede, um café e estrutura de som moderna. Até parece um barzinho novo na cidade, mas é uma igreja com formato alternativo que tem surpreendido quem passa pela Rua José Antônio, no Centro de Campo Grande.
Nos últimos retoques, o local abre as portas, oficialmente, na próxima quinta-feira (6) com o evento cultural “Urbana Fest” que vai reunir durante três dias fotografia, poesia, música e debates, com objetivo de levar arte, pensamento e cultura pop ao campo-grandense.
No local também terá leitura da bíblia e oração, mas todo mundo vai escutar no fim do culto o som de Tim Maia, Ana Carolina e Criolo, por exemplo. Enquanto a maioria das igrejas evangélicas ainda assume uma postura intolerante aos gays, ali a proposta é abraçar qualquer pessoa que esteja de acordo com o lema do espaço: amor, igualdade e liberdade.
À frente da igreja, está um cara barbudo, tatuado, que usa All Star e curte tomar uma cerveja. Aos 42 anos, Evandro Sudré é publicitário, fotógrafo, cineasta e há mais de duas décadas se dedica a vida missionária ao lado da esposa Ada Elisa Sudre, de 31.
Foi pensando em amor e igualdade que eles começaram em 2017, um trabalho entre moradores de rua e usuários de drogas num dos redutos mais esquecidos da cidade, a Rotunda, local que servia como oficina e ponto de preparação para os trens que passavam pela capital.
Desde os primeiros encontros, com histórias narradas no Lado B no ano passado, além de providenciar vestuário, alimentação, transporte de volta às cidades de origem e até mesmo auxílio no processo de reaver e emitir novos documentos a esses moradores, o trabalho atraiu jovens universitários, artistas e até famílias.
Em poucos meses se tornaram uma igreja de rua, “teologicamente conservadora, mas culturalmente liberal”, garante Evandro. Apesar de manter as crenças do Cristianismo, como trindade e criação, ele diz que o grupo procura se comunicar e viver as crenças dentro do contexto cultural e urbano em que estão inseridos.
Assim nasceu a Urbana, igreja com capacidade para 70 pessoas no Centro da cidade em que arte e cultura sobressaem à pregação. “É uma quebra de paradigmas para a sociedade campo-grandense muito grande. Todo mundo tem liberdade plena de estar aqui, a gente não prega e não levanta nenhuma bandeira, somos contra qualquer injustiça, nossa parada é social”.
Mas isso não significa que os assuntos relevantes como sexualidade, educação e diversidade religiosa serão tirados de pauta, Evandro explica que haverá momentos de discussão na igreja em forma de debates, mas longe da repressão. “Com intuito de buscar conhecimento sobre tudo que é direito da sociedade”, explica.
Nessa caminhada Evandro e Ada conquistaram amigos que ao longo de três meses conseguiram colocar a igreja de pé. Tudo dentro do espaço de poucos metros quadrados foi produzido por eles, marcenaria, alvenaria, pintura, instalação elétrica e de som. “O trabalho foi 100% voluntário, usamos 68 paletes que iriam ser jogados no lixo para fazer os móveis. Apenas para instalar o carpete nas paredes precisamos de profissionais contratados, o resto foi feito entre amigos”.
O lugar recebeu decoração despojada, com estante de livros que será colaborativa, um lounge com café que a partir das 17 horas venderá salgados, cafés, refrigerantes e sucos. Com toda estrutura de som, haverá diversidade musical e espetáculos que blues e jazz. Uma das paredes será dedicada a quadros com clássicos do cinema, em uma delas, Star Wars já está presente, até na parede do banheiro.
Programação do festival – A partir de quinta-feira também haverá uma exposição fotográfica com nu artístico, que mergulha no universo sem padrões para mostrar o poder das mulheres Plus size. Na sexta tem oficina de lettering com a paulistana Georgia Nog e workshop de fotografia com Evandro.
No sábado a programação continua oficina de literatura, quadrinhos e workshop de cultura pop. À noite, tem show de blues com Renato Mendes e Rick Bergamo.
Domingo o dia começa com café filosófico e concerto.
Conquista – Evandro fala da programação com brilho nos olhos de quem sabe que está chegando para fazer diferente, mas compreende que a caminhada não será fácil. “Aqui só funcionará como igreja uma hora e meia por semana. O restante é voltado para arte, cultura e projetos sociais. Mas as pessoas chegam acuadas, com receio e entendo”, diz.
Apesar de aparentemente rica, Evandro expõe que Campo Grande é marcado pelo machismo, homofobia, individualismo e todo tipo de pobreza. “Desde que cheguei aqui não me encontrei, não é fácil encontrar espaços culturais ou galerias de arte para isso. A definição do espaço é cristão mesmo, mas a nossa cultura é 100% liberal, porque a gente acredita na transformação com arte e educação”, explica Evandro. “Eu digo isso porque a arte faz pensar, sem ela, as pessoas filosofam menos e se deixa levar pelos materiais, isso torna a humanidade mais individualista”, acrescenta.
Urbana fica na Rua José Antônio, 1654, Centro.
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