Investimento em tecnologia coloca MS no “top 2” brasileiro do sêmen
8:35 13/12/2018
[Via Campo Grande News~]
O mercado de produção de sêmen bovino movimentou cerca de R$ 22,1 milhões em 2017 no Mato Grosso do Sul, onde, segundo a Asbia (Associação Brasileira de Inseminação Artificial), foram vendidas 1.473.406 doses do produto para gado de corte, se for considerado o preço médio de R$ 15,00 da unidade. Este feito dá ao estado a segunda posição no ranking nacional entre os maiores vendedores, encostado no Mato Grosso que vendeu 1.504.056.
No Brasil, foram comercializadas 8.071.287 doses de sêmen para gado de corte. O montante de Mato Grosso do Sul representa 18,3% do total. No que diz respeito ao gado leiteiro, a pecuária sul-mato-grossense comercializou 31.634 doses, o que representa apenas 0,8% das 4.063.151 doses vendidas em 2017. Neste setor, Minas Gerais detém 30,8% do mercado, seguido por Rio Grande do Sul e Paraná, ambos com 15,6% das vendas.
De acordo com o médico veterinário e diretor da Acrissul (Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul), Armando Pereira, a qualidade dos profissionais e o emprego das tecnologias são os responsáveis pelo status do Estado. “O estado é detentor de um grande grupo de melhoristas”, afirma ele sobre programas de melhoramento genético de rebanhos.
“O Mato Grosso do Sul está entre os três principais estados em produção de genética para produção de sêmen. O nível técnico dos agrônomos, médicos veterinários e zootecnistas é alto”, garante. Os criadores de touros destinados a produção de sêmen participam de programas de melhoramento genético da Embrapa e da ANCP (Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores).
Produção de sêmen
Tudo começa com a avaliação genética do animal e seus descendentes, explica a pesquisadora da Embrapa, a médica veterinária Alessandra Nicácio. “É feita a avaliação do animal, o desenvolvimento dele, o teste de progênie dele, para saber se os filhos deste animal têm as características dele, pois isso vai impactar no preço da dose do sêmen deste animal. Quando o produtor tem um touro bom, com genética boa, um bom potencial, esse touro passa por essas avaliações e precisa cumprir determinados pré-requisitos, ser registrado. Tem uma legislação a ser cumprida. Não é qualquer touro que pode ter o sêmen coletado”, descreve.
Com a avaliação positiva, o animal é levado para uma central, que são as empresas que fazem a coleta e comercialização do sêmen. Os touros permanecem nas centrais por meses e até anos, onde recebem alimentação adequada e ficam alocados em piquetes, que são cercados de cerca de 1200 metros quadrados. Quando o estoque de esperma do exemplar está adequado com a procura, eles retornam para a fazenda. O estresse do animal é levado em consideração, pois é um fator limitante para a produção.
Conforme Alessandra, o sêmen coletado é armazenado, em doses, em botijões de nitrogênio líquido, onde podem permanecer por tempo indeterminado. Existe material genético coletado há 30, e até 40 anos. Cada dose é suficiente para uma inseminação e o valor pode variar de R$ 10,00 a R$ 2 mil. Além disso, existem doses que podem chegar a R$ 40 mil. Neste caso, são materiais de exemplares que já morreram, donos de uma ótima genética.
“O preço vai variar em função do animal, se o
touro tem uma avaliação genética melhor, da raça,
se o animal é vivo ou não, se já morreu, tem um
estoque limitado, se é jovem, tem muita dose, se o
touro é velho, tem menos doses disponíveis”, detalha.
Ainda, segundo Alessandra, existe a dose sexada, que permite a escolha do sexo da progênie. Neste caso, o valor da dose pode dobrar. No entanto, segundo Armando, diretor da Acrissul, as doses mais utilizadas giram entre R$ 12,00 a R$ 30,00, sendo que a média dos valores comercializados é de R$ 15,00.
A única central no Mato Grosso do Sul é a Joia da Índia, que atualmente realiza coletas em cerca de 20 touros. O responsável técnico da empresa, Gabriel de Lopes Athas, detalha alguns dos procedimentos realizados quando os animais chegam à central. “Eles passam por uma quarentena e por exames. Se der tudo negativo eles podem passar pelas coletas”, explica. Cada animal tem o sêmen coletado duas vezes por semana.
Diego Decenço de Carvalho, zootecnista da central sul-mato-grossense, explica que a procura pelas doses de sêmen bovino começa em julho, pouco antes da estação de monta, e se estende até fevereiro; neste período foram vendidas mais de 70 mil doses. Segundo ele, a dose sexada ainda tem pouca procura, sendo que 98% da procura é pelo sêmen convencional.
Na empresa Joia da Índia, segundo Carvalho, a média do valor do sêmen comercial é de R$ 17,00. Mas ele alerta que alguns touros têm doses avaliadas em até R$ 30 mil. “Há sêmen antigo, de touros que já morreram e tinham genética muito boa”, esclarece.
MS em destaque
Além de estar em segundo lugar nas vendas em todo o Brasil, Mato Grosso do Sul também é destaque na Alta Genetics, a maior central de coleta e comercialização de sêmen bovino no Brasil. Armando revela que, por três anos consecutivos, o estado foi líder de vendas na empresa, que tem a meta de vender 5 milhões de doses neste ano. Destas, mais de 600 mil foram produzidas por touros de proprietários sul-mato-grossenses.
A empresa que detém grande fatia deste mercado em Mato Grosso do Sul é a Genética Aditiva, que, conforme Armando, vem trabalhando há muitos anos com a implantação de processos rígidos de seleção e mensuração de dados. “É um trabalho que começou com seu Hélio Coelho e depois continuou com um dos filho, Kennedy, e agora é muito bem comandado pelo Eduardo”, comenta ele sobre a família proprietária de reprodutores no estado.
“O volume e a metodologia de forma rígida fizeram
com que a Genética Aditiva seja um dos criadores
que mais vende no Brasil. Seguramente está entre as
5 maiores fornecedoras de genética para a produção
de sêmen da raça nelore”, acrescenta Armando.
O zootecnista Flávio Taveira Sandim, que é gerente da Genética Aditiva, informa que a empresa vendeu mais de 420 mil doses em 2017, além de ser uma das que mais tem touros em centrais de coleta e a que mais vende sêmen no Brasil.
“São mais de 35 touros em diversas centrais”, conta e detalha que o rebanho, composto de gado Nelore, é 100% inseminado. Um dos touros destaques do Brasil, o Rem Usp, foi o animal que por 3 anos consecutivos mais vendeu doses de sêmen, sendo que em cada ano foram comercializadas mais de 100 mil doses. O animal chega a produzir cerca de 3.500 doses por mês, o que é um de seus diferenciais.
Inseminação artificial
No outro lado da ponta, está a inseminação artificial, que resulta no melhoramento genético dos rebanhos. Dependendo da finalidade do criador, o sêmen de um touro específico é escolhido para inseminar as matrizes. Os objetivos podem ser diversos: aumento de musculatura, qualidade da carne, aumento da produção de leite, precocidade, entre outros.
Segundo Armando, 12% das matrizes sul-mato-grossenses são inseminadas artificialmente e ele acredita que, em 5 anos, o número passe para 20%.
Alessandra explica que existem duas maneiras de executar o procedimento. A forma convencional se dá através da observação das matrizes, o que deve ser realizado duas vezes por dia, até que perceba-se que a vaca está no cio. Este processo pode levar de 3 a 4 meses.
Para simplificar o manejo, foi desenvolvido o método IATF (inseminação artificial de tempofixo), no qual é realizado um protocolo hormonal nas vacas, o que provoca a ovulação nas fêmeas e determina o dia que a inseminação será realizada. De acordo com Alessandra, o índice de prenhez é de 50%.
Alessandra destaca que a vantagem da IATF é a concentração do manejo de inseminação em um único período e, assim, o agrupamento dos nascimentos, resultando em lotes homogêneos.
O cio natural resulta em mais vacas prenhas, mas a quantidade de inseminação diminui, já que o manejo é feito apenas quando se verifica a ovulação, esclarece Diego, da Joia da Índia. “De 45 a 55% das vacas ficam prenhas na primeira inseminação, mas quando é feita a ressincronização das que ficaram vazias, a inseminação atinge 85%”, acrescenta.
Com o sêmen comercial de diversas raças como nelore, simental, angus, red angus, brangus e gir, Diego comenta que o mais procurado é o angus para cruzamento industrial. “É realizado o acasalamento entre raças diferentes”, explica. No caso uma fêmea nelore é inseminada com material de angus, resultando num meio sangue que vai conferir precocidade à rez e qualidade à carne.
Entusiasta dos programas de melhoramento genético, Armando cita que a inseminação artificial é um dos fatores que coloca o estado em destaque. “O agronegócio no Mato Grosso do Sul e no Brasil é o que ajuda a ter o PIB positivo. Na pecuária o que fez levantar exportação venda é a IATF. Se não tem genética não tem qualidade nem volume de animais”, opina. “Mato Grosso do Sul é um um dos estado que mais exporta carne de qualidade e é também fornecedor de genética. A inseminação artificial faz da pecuária do do estado um diferencial em relação ao Brasil”, define.
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