Janeiro Branco: personalidades e especialistas se unem para promover a saúde mental
9:30 11/01/2022
Especialistas alertam para distúrbios e doenças de origem mental ou emocional que fazem muita gente fraquejar
Você já ouviu falar em Janeiro Branco? Trata-se da campanha, criada em 2014 sob a inspiração de iniciativas como o Outubro Rosa e o Novembro Azul, voltadas para o combate ao câncer, que busca chamar atenção para questões e necessidades relacionadas à saúde mental e emocional das pessoas.
O assunto vem mobilizando cada vez mais os especialistas em comportamento humano e a sociedade como um todo, e hoje, às 19h (horário de MS), será debatido em uma live, que vai contar com a participação do psicólogo Leonardo Abrahão, um dos criadores do Janeiro Branco, e de mais quatro convidados:
A youtuber e ex-cantora Dani Russo, os humoristas Everson Dantas e Isaías e a ex-BBB Gabriela Hebling.
A transmissão, ao vivo, é uma iniciativa da Psicologia Viva, plataforma de atendimento psicológico on-line que realiza em torno de 100 mil consultas por mês e possui escritórios em Belo Horizonte, São Paulo e Santiago (Chile).
Para acompanhar a conversa, basta acessar o canal da Psicologia Viva no YouTube.
Nesta época do ano, especialmente em meio a situações de risco e de comoção, a exemplo da pandemia, as pessoas estão mais propensas a pensarem em suas vidas, relações e emoções. E, ao fazer isso, infelizmente, a maioria não consegue enxergar o fundo do poço.
Está aberto o caminho para quadros de ansiedade, de depressão e de outros distúrbios, que, de maneira geral, são frutos da insegurança diante do novo e da falta de perspectivas.
BURNOUT
Influenciadores digitais, os quatro convidados da live darão o próprio testemunho sobre como andam “se virando” em tempos tão atribulados para cuidar da cabeça e compartilharão a experiência de suas sessões de terapia.
Eles participaram da primeira temporada da websérie “Realmente”, que tem a meta de conscientizar adolescentes, jovens adultos e familiares sobre a importância do acompanhamento psicológico e de desmistificar a terapia.
Fabiano Carrijo, da Psicologia Viva, será o mediador da live, que contará ainda com a participação da psicóloga Luciene Bandeira.
De acordo com uma pesquisa recente do Instituto Ipsos, 53% dos brasileiros tiveram a saúde mental afetada durante a pandemia. O mercado de trabalho é um dos carros-chefes entre os segmentos em que os danos são mais visíveis.
Uma prova disso, que demonstra a gravidade do cotidiano profissional, é a inclusão do burnout (Síndrome do Esgotamento Profissional) na relação de doenças do trabalho.
“Não é à toa que o cuidado com a saúde mental está tão em evidência. Em épocas em que processamos tantas informações e acumulamos preocupações, infelizmente está se tornando comum ver casos em que o psicológico afeta o corpo e a qualidade de vida das pessoas de maneira geral”.
“É um ponto que cresceu muito com as mudanças sociais, e as empresas de saúde devem dar a devida atenção a ele”, afirma Vitor Moura, da startup VidaClass, que presta serviços na área da saúde para mais de 200 mil usuários.
TRABALHO X BALANÇA
Encarar distúrbios alimentares e crises de ansiedade enquanto se batalha por um novo emprego é um filme que o auxiliar de coordenação escolar George Michael Reubler Vaz conhece bem de perto.
Em quase dois anos de pandemia da Covid-19, ele ficou sem trabalho por duas vezes durante o período. Quando ficou sem os dois empregos, não demorou para o terror pessoal tomar conta.
Queda de cabelo, alimentação descontrolada e coração disparado (arritmia cardíaca) estão entre os sintomas apresentados por George, que tem 31 anos e vive em Goiânia (GO).
“Meu emocional está muito abalado. Muitas vezes tenho problemas para dormir e, quando durmo, acordo fatigado, como se o ar acabasse. Percebi muitas vezes as alterações em que fico bem, outras vezes choroso, nervoso, agitado”, conta o profissional escolar, que é casado e tem dois filhos.
Com o estresse emocional de 2021, ele ganhou bastante peso e está com 114 quilos.
Pelo menos 13,5 milhões de brasileiros estão em busca de oportunidades de trabalho, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Uma pesquisa realizada em 2020 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) revela que 67,8% dos profissionais associados receberam novos pacientes que nunca haviam apresentado sintomas psiquiátricos anteriormente.
“Saúde mental não é só fazer terapia. É me autoconhecer, estar com quem eu quero e gosto, realizar coisas que me deixam feliz e bem. Em um momento de estresse, quem me faz bem?”, questiona a psicóloga Ana Beatriz Sahium.
Cuidar da saúde mental, para Ana Beatriz, é fazer com que o indivíduo se reconecte com ele, com as pessoas que ele estima e com os programas que lhe dão prazer.
“Se isso não faz sentido, é preciso consultar um psicólogo para que ele mostre o que está acontecendo com o paciente”, afirma a profissional.
George passou pela primeira demissão no início da pandemia, após a escola onde trabalhava fechar as portas com a suspensão das aulas. Cinco meses depois, conseguiu uma nova oportunidade, mas com o salário menor. No fim de dezembro de 2020, foi demitido mais uma vez.
“Fiquei fora de mim, não tive autocontrole. Vivendo o desemprego, existe uma autocobrança, me coloco como inferior, e os questionamentos surgem a todo momento”, desabafa o auxiliar de coordenação escolar.
“Mas não posso ficar parado, comecei a enviar currículos e espero a minha oportunidade”, aposta.
Demonstrando preocupação em se recolocar no mercado de trabalho, George até procurou atendimento psicológico. Por estar desempregado e sem dinheiro, encontrou dificuldades e acabou não fazendo o tratamento.
Mas, como já fez psicoterapia quando teve depressão, em 2008, ele ainda guarda muito do aprendizado que tanto o ajudou. O que ajuda a manter o equilíbrio hoje é a busca por autoconhecimento e atividades lúdicas e que estimulam a reflexão.
COMO RESOLVER
“Eu busco muito o autoconhecimento e o autocontrole, por meio da espiritualidade, e me esforço para manter o pensamento positivo. Outro método que busco é brincar com meu filho menor, de três anos. Jogo futebol com ele e com o mais velho, de 13″.
“Também invisto na música, gosto de cantar no dia a dia e na igreja também, isso me ajuda a combater os pensamentos negativos e a equilibrar os sentimentos”, relata George, que não descarta procurar ajuda profissional caso os sintomas se intensifiquem.
“O profissional precisa de dinheiro para sobreviver e sustentar sua família. Nós vivemos em um país onde muita coisa está acontecendo. Com a convivência do desemprego, ele fica desestabilizado. É necessário reconhecer onde o profissional quer trabalhar, não parar de procurar uma vaga e fazer terapia”, explica Ana Beatriz.
A psicóloga afirma que é preciso não pensar tanto na parte negativa, no que pode acontecer. “Temos que viver o novo normal e pensar positivo para que, nessa busca por um novo trabalho, o resultado seja alcançado”, diz a especialista.
Ser escutado, admirado ou simplesmente estar vivo são algumas das “oportunidades” de cuidado com a saúde mental que ela identifica.
“Os pais estão adoecidos por pensarem no emprego, na saúde, no dinheiro, na manutenção da casa. E as crianças não sabem o que está acontecendo. Por estarem todos por mais tempo em casa, houve problemas de comportamento, mudanças. É preciso um convívio escolar para os filhos. Convivendo somente com adultos, é de se estranhar”, finaliza a psicóloga.
Via Correio do Estado MS
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