Manifestações bolsonaristas resistem em Campo Grande
9:42 03/11/2022
Três dias após o resultado das eleições presidenciais, seguidores de Jair Bolsonaro continuam desacreditando da eficácia das urnas eletrônicas e entoando pedidos de intervenção militar enquanto obstruem vias da Capital
Centenas de manifestantes bolsonaristas inconformados com o resultado das eleições presidenciais se aglomeraram nesta quarta-feira (2), na Avenida Duque de Caxias, em frente ao Comando Militar do Oeste (CMO), em Campo Grande.
Os seguidores do atual presidente entoavam o Hino Nacional alternando com gritos pedindo por intervenção militar.
Em seus discursos, os líderes de movimentos políticos de ultradireita destacaram que as Forças Armadas são pagas com o dinheiro do contribuinte e que “chegou a hora de os militares retribuírem com ações que garantam a moralidade do País”.
Conforme apurado pela reportagem no local, os manifestantes bolsonaristas se recusam a parar os movimentos de protesto enquanto não houver garantias de que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não assumirá o poder no dia 1º de janeiro de 2023.
Propagando fake news, os líderes do movimento alegam que diversas entidades internacionais atestam que houve fraude nas eleições.
No entanto, é importante reiterar que a Missão de Observação das Eleições (MOE) da Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgou nesta terça-feira (1º), em relatório preliminar sobre o segundo turno das eleições, que a “urna eletrônica brasileira mais uma vez comprovou sua eficácia, produzindo resultados rápidos, que foram divulgados sem contratempos”.
Ao Correio do Estado, uma servidora pública relatou que os bolsonaristas buscam a liberdade do Brasil.
De forma antidemocrática, ela se diz favorável às intervenções militares.
“Houve fraudes nas urnas, não é possível que com todas essas manifestações o Lula tenha ganhado.
Queremos, sim, que haja intervenção militar, pelas nossas crianças, para darmos exemplo”, disse.
É importante destacar que, na eleição de domingo (30), Lula (PT) obteve 60,3 milhões de votos (50,9%), e Jair Bolsonaro (PL), 58,2 milhões de votos (49,1%). Ao superar a marca de 60 milhões de votos, Lula tornou-se o presidente eleito mais votado da história.
DESCUMPRIMENTO DA LEI
Durante as manifestações, diversos fogos de artifício com efeitos sonoros foram disparados pelos grupos bolsonaristas no CMO, descumprindo o que determina a Lei Complementar nº 718/2020, que proíbe a queima de fogos nesta modalidade.
Sirlei Ratier, candidata a deputada federal em Mato Grosso do Sul pelo Progressistas, derrotada nas eleições de 2022, incentivou – em cima de um trio elétrico – os manifestantes a permanecerem no local o tempo que for necessário e falou de uma suposta ameaça comunista.
“Nós viraremos um País comunista, tipo Argentina, tipo Venezuela, e vão conseguir acabar com o nosso Brasil, que é o que eles querem. Mas nós não vamos permitir, nunca. Nós vamos resistir”, afirmou.
JUSTIFICATIVAS
Os seguidores do atual presidente carregavam, ainda, diversos cartazes pedindo contagem pública dos votos e fazendo críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Um deles até escreveu o cartaz em inglês, pedindo por intervenção federal, a fim de internacionalizar o seu pedido.
Uma manifestante que não quis se identificar contou à equipe de reportagem que seu cunhado trabalha na Organização das Nações Unidas (ONU), nos Estados Unidos, e que a ideia é fazer a manifestação chegar lá.
Ao ser perguntada sobre o que a ONU poderia fazer pelos manifestantes, ela respondeu: “Não sei. Mas [a ONU] pode divulgar a verdade, porque a verdade não chega lá nos Estados Unidos”, completou.
Vale ressaltar que as urnas são submetidas a um teste de integridade e não foi detectada fraude pela Justiça Eleitoral.
No dia 31 de outubro, o Institute for Democracy and Electoral Assistance (Idea Internacional) divulgou uma nota na qual destacou que, apesar do contexto adverso, composto de um ambiente político complexo, com preocupações democráticas e múltiplas tensões, as eleições têm sido um trunfo fundamental para fortalecer os alicerces da democracia brasileira.
De forma um pouco mais dispersa, havia ainda diversos grupos que estavam no local apenas consumindo bebidas alcoólicas e fazendo churrasco aos arredores do CMO.
Durante o movimento, foi possível ainda ver um cavalo com a Bandeira Nacional amarrada ao corpo, adolescente tocando berrante e ex-militares defendendo a ação das Forças Armadas para mudar o curso das eleições deste ano.
FIM DO MOVIMENTO
Ainda não há previsão para o fim das manifestações e para que o trânsito volte ao normal na Avenida Duque de Caxias e nas imediações do Comando Militar do Oeste.
Em entrevista ao Correio do Estado, o sargento Omais, da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, informou que “enquanto [as manifestações bolsonaristas] não estiverem ferindo o princípio de ninguém, o movimento pacífico será autorizado”, afirmou. (Colaborou Elias Luz).
Bloqueio nas rodovias de MS perde força (Alison Silva)
De acordo com a última atualização da Polícia Rodoviária Federal (PRF), as manifestações nas rodovias persistem no km 145 da BR-158, em Aparecida do Taboado, ao passo que, segundo a PRF, terminaram em vias próximas a dois municípios sul-mato-grossenses, Maracaju e Dourados.
Apesar da fluidez do trânsito, mais de 20 municípios de MS registravam pontos de concentração até a tarde de ontem (2).
De acordo com a PRF, as manifestações seguem em Campo Grande, Dourados, Maracaju, Nova Andradina, Paranaíba, Aparecida do Taboado, Ivinhema, Três lagoas, Terenos, Bandeirantes, Eldorado, Sidrolândia, Mundo Novo, Caarapó, Rio Brilhante, Coxim, Miranda, Corumbá, Naviraí, Paulicéia, Nioaque, Nova Alvorada do Sul, Bela Vista e Paraíso das Águas.
Senadora eleita por Mato Grosso do Sul, apoiadora do atual presidente e ex-ministra do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina (PP), disse, por meio de suas redes sociais, que respeita as manifestações, entretanto, afirmou que as paralisações prejudicam o agro.
“Respeito o direito de manifestação de todos. No entanto, a interdição de rodovias prejudica a economia do Brasil e, principalmente, nosso agro! Há várias maneiras de mostrar apoio ao nosso presidente”, disse em suas redes sociais.
Em nota, a Polícia Rodoviária Federal salientou que autuou e continuará autuando veículos que causarem interrupções das rodovias federais de Mato Grosso do Sul.
Via Correio do Estado MS
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