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Moderna e inusitada, performance na rua e no fone de ouvido inspira estudantes

Circuito MS

10:20 06/04/2019

[Via Campo Grande News]

ara ouvir, só no fone de ouvido. Artistas da Cia Enviezada, do Rio de Janeiro, tomaram ruas do Centro de Campo Grande neste sábado (6) com a performance “Caminhos – Uma Intervenção Urbana”. Inspiradora e moderna, a peça apresentou temas como feminicídio, com áudio que é interpretado de forma diferente por cada participante. A apresentação faz parte da programação do festival IPêrformático – Capítulo II – E Se Não Houver Luz no F do Túnel?

O ponto inicial foi a Praça Ary Coelho, onde os artistas e plateia percorreram a Rua 14 de Julho até a Barão do Rio Branco e encerram na esquina da Rua 13 de Maio. Todos deveriam estar munidos de celular com bateria, fone de ouvido para baixar a trilha sonora.

Quem estava de fora ficou curioso, pois para acompanhar o enredo da peça era preciso ter o áudio. O estudante de artes cênicas Jhonatan Soares da Silva ficou impressionado com a apresentação. Segundo ele a performance tinha um pouco de tudo que ele estuda.

“Nós ficamos admirados em como as pessoas em volta se impressionaram. A performance chocou e isso é inspirador. Tenho um amigo que disse até ter decidido o que fazer de TCC aqui hoje”, disse.

Curiosa, a agente de saúde Sebatiana de Moura, de 44 anos, parou as compras para observar os artistas. “Não sei o que está acontecendo, mas está bonito e chamou a minha atenção e logo nesta avenida que está em obra e não termina nunca”, disse.

O professor Eliseu de Araújo Pereira, de 41 anos, disse que é super necessário esse tipo de festival. “As pessoas não estão acostumadas com essa expressividade e é uma linguagem diferente que te possibilita diversas interpretações e te faz pensar”, disse.

O ator Espedito Montebranco, de 50 anos, disse que acompanhada a apresentação pela terceira vez e já assistiu em outros lugares como o Rio de Janeiro.

“Você pode assistir dez vezes que a interpretação será diferente. É a mesma coisa em locais diferentes, ou seja, a linguagem visual muda, os objetos mudam e isso é bacana porque você se ocupa do espaço”, disse.

O ator defende ainda que Campo Grande precisa dessas performances embora a produção teatral e musical seja grande tem a ausência de espaço para se mostrar e um trabalho de performance ele independe vai para rua”, disse o ator, que reforça a falta de investimento para o teatro.

“Aqui a plateia sai com o senso crítico e isso é interessante. Intervenção é você questionar”, completa.

A intervenção é feita há oito anos. O diretor e ator Zé Alex, de 42 anos, formado em direção teatral na UniRio, explica que a companhia é do Rio de Janeiro, mas se compõe de 25 atores de vários pontos do país. Ele frisa que o espetáculo transita entre a ficção e a realidade passando pelas relações entre o cotidiano, o homem e a cidade.

“A gente brincou com a coisa das artes plásticas, do fone de ouvido. Tem muito em museu, quando você para em frente ao quadro e te explicam sobre o quadro. Então pegamos isso para fazer a peça de rua. É uma intervenção que causa mais impacto quando se cola os cartazes pela rua do que quando a gente faz a performance, até porque o som está todo no fone. E como é itinerante, quando começa a incomodar a gente muda de lugar”, explica.

Diretor da peça, o ator Zé Alex explica que espetáculo transita entre a ficção e a realidade passando pelas relações entre o cotidiano, o homem e a cidade. (Foto: Kísie Ainoã)Diretor da peça, o ator Zé Alex explica que espetáculo transita entre a ficção e a realidade passando pelas relações entre o cotidiano, o homem e a cidade. (Foto: Kísie Ainoã)

A importância – Só de um cartaz ser colocado já quebra o cotidiano das pessoas, defende Zé Alex. O ator frisa que a arte vem para mudar o ponto de vista das pessoas e não para dizer o que é certo.

“Elas estão acostumadas a ver sempre as mesmas coisas. Um cartaz que a gente colou no ensaio técnico já causou estranhamento de um mototaxistas, mas depois ele até estava rindo quando passamos novamente. Uma performance ela vem para quebrar o cotidiano e uma das apostas da peça e de que a plateia que acompanha, que mora aqui, nunca mais vai passar aqui com o mesmo olhar. Ela vai sempre prestar mais atenção nas coisas porque isso é o que a gente faz, a gente bota ela para ouvir quase que a voz da própria consciência.

O tema – A dramarturgia foi criada coletivamente através das improvisações dos atores e o texto e os áudios foi uma pesquisa durante o processo. Cada participante foca em um personagem e cada um tem seu entendimento. “Temos a própria Maria da Penha, nos áudios. Falamos da intolerância, do ciúme, do feminicídio, é uma obra aberta você vai fazer seu sentimento. Tem dados gravados por especialista então, tudo isso vai gerando um entendimento em cada um”, finaliza.

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