As páginas criadas nas redes sociais com informações sobre bairros têm crescido cada vez mais em Campo Grande. Com o objetivo de apontar problemas e divulgar serviços à comunidade, moradores acabaram se tornando ‘líderes comunitários virtuais’ e contribuem para transformar o cenário do bairro.

Desde notícias sobre casos de polícia, como desaparecimentos e acidentes de trânsito, até problemas causados pelo mau tempo, como quedas de árvores e falta de energia, são noticiados na página ‘Nas ruas do Aero Rancho’. A página também atualiza os moradores todos os dias sobre as escalas médicas, que é, segundo Raphael, uma das principais necessidades dos moradores.

O Aero Rancho é o bairro mais populoso de Campo Grande e possui diversas necessidades. Nascido e criado no bairro, o performador digital Raphael Palhano, de 29 anos, decidiu criar uma página que reúne informações para os moradores. As informações são variadas e ajudam a deixar os residentes atualizados sobre tudo que acontece na comunidade.

O administrador da página explica que percebe a falta de pediatras nas unidades de saúde do bairro. “Crianças devem ser prioridade. Além disso, muitos aqui não têm asfalto. Prepararam as ruas, deixando a terra fofa e não asfaltaram. Além da lama, a poeira está trazendo problemas respiratórios às crianças. Andando pelas ruas asfaltadas, você se perde em remendos. Um recapeamento de qualidade é muito bem-vindo”, pontua.

Raphael explica que não é líder comunitário e que a ideia de criar a página nasceu após perceber que o bairro precisa de um acompanhamento direcionado às necessidades dos moradores. Ele reforça que não tem vínculos políticos. “Tenho paixão pelo assunto e cada um ajuda na sociedade como pode. Nem todos têm grana para auxiliar, mas podem ajudar com o conhecimento e o tempo, que é o meu caso”, conta.

O trabalho de atualizar a comunidade sobre as informações do Aero Rancho é feito somente por ele, mas ele afirma que a página está crescendo. Muitos moradores enviam demandas e informações, mas ele faz questão de conferir os problemas in loco. “Sou eu quem sai tirando fotos de bueiros, lâmpadas queimadas, pontos de ônibus totalmente escuros. Os problemas são inúmeros e eu ainda nem comecei”, garante.

O motorista de aplicativo Marcelo Rodrigues, de 34 anos, é outro morador empenhado em melhorar o bairro onde mora. A página sobre o bairro Nova Campo Grande também expõe necessidades do bairro e, com a ajuda dos moradores, já conseguiu provocar mudanças. Marcelo explica que uma das principais vitórias foi conseguir pavimentação para diversas ruas.

O morador percebeu que o mato havia tomado conta de uma das avenidas do bairro e que a outra tinha um buraco que quase cabia um carro dentro. Ao perceber os problemas, ele não viu alternativa a não ser tomar uma atitude. “Pensei: eu moro aqui, tenho que fazer algo por esse bairro. E aí você vai conhecendo mais problemas, recebendo mais reclamações. Faço vídeo da rua, tiro foto de onde buraco era muito grande, reclamo de iluminação”, conta.

A página do Nova Campo Grande foi criada há três anos, quando Marcelo saiu do emprego e passou a atuar como motorista de aplicativo. Ao circular pelas ruas com os passageiros, ele passou a ver o bairro com outros olhos. Cada dia era um trajeto diferente e Marcelo começou a conhecer as necessidades da região, principalmente com relação à falta de asfalto.

Como não tinha contato com os outros moradores, Marcelo criou a página para expor as necessidades do Nova Campo Grande. Com o tempo, ele passou a ser conhecido e se tornou líder do bairro. “Eu não sabia o que fazer, não conhecia ninguém. Eu criei uma página, o negócio cresceu. Depois de um ano, me tornei presidente do bairro, vou até 2023”.

Com o passar dos anos, a mobilização cresceu. Atualmente, além da página, os moradores do Nova Campo Grande contam com grupos de WhatsApp e até páginas sobre vendas. O saldo da iniciativa foi que, além de expor problemas e conseguir melhorias, Marcelo também conseguiu unir os moradores.

“A ideia inicial era mostrar que o bairro estava abandonado, os moradores precisavam acordar, senão as coisas não andam”.

Via Midiamax