Na contramão da pandemia, agroindústria favoreceu crescimento de 84% na produção industrial
15:21 20/09/2021
Os segmentos que mais empregaram em um ano de pandemia foram abate de suínos e de aves
Mesmo em meio à crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus, o setor industrial em Mato Grosso do Sul obteve crescimento de 84% na produção e continuou gerando emprego e renda.
Parte deste cenário foi favorecido pela agroindústria que, segundo especialistas da área, continuou proporcionando alimento ao consumidor mesmo diante dos desafios.
O resultado positivo foi alcançado em julho e, com esse desempenho, o índice de evolução da produção encerrou o mês em 53,5 pontos, ficando 9 pontos percentuais acima do levantamento anterior, segundo o último radar industrial da FIEMS.
“De um modo geral, podemos dizer que, apesar da pandemia, a atividade industrial se mostrou bastante resiliente em 2020 e 2021 e se manteve numa trajetória de forte crescimento”, explicou o coordenador da Unidade de Economia, Estudos e Pesquisas da FIEMS, Ezequiel Resende.
“Quando olhamos para os segmentos que mais contribuíram para esse resultado, vimos que houve uma contribuição muito forte das atividades ligadas, principalmente, a indústria de alimentos e bebidas e, em especial, nos segmentos frigoríficos e de óleos vegetais”, acrescentou o economista.
Na visão do especialista em Mercado Exterior, Aldo Barrigosse, neste período de pandemia, a agroindústria precisou se reinventar e inovar para conseguir atender todas as demandas.
“As agroindústrias tiveram que adaptar a questão sanitária, as restrições do momento de pandemia, quantidade de funcionários. Eles tiveram que ter uma outra preocupação a mais com os funcionários dentro da empresa”.
Além disso, Barrigosse ainda destacou que os consumidores não tiveram problemas com o fornecimento de alimentos, durante o período de pandemia.
“Mesmo com todos os desafios que a pandemia pediu para o momento, foi um segmento que se reinventou e cresceu durante todo esse período, com a questão de produção, venda, comercialização, manutenção e em relação a novos empregos. Nós não tivemos nenhum problema de fornecimento de alimentos para nós consumidores”, ressaltou.
CRESCIMENTO
Em um ano, de julho de 2020 ao mesmo período de 2021, o número de trabalhadores industriais saiu de 126.811 para 140.557, um incremento de 10,44% ou 13.746.
Segundo levantamento da FIEMS, de março do ano passado a março deste ano, os segmentos que mais empregaram foram abate de suínos, com 1.468; abate de aves, com 1.213; fabricação de celulose (776), fabricação de açúcar (350); fabricação de óleos vegetais (264); construção (236) e fabricação de refrigeradores (175).
Em se tratando das exportações, o valor também foi elevado. Em agosto, no grupo “Complexo Frigorífico”, a receita de produtos industrializados registrou US$ 147,2 milhões. O valor é 56% maior se comparado ao mesmo período do ano passado, quando a receita foi de R$ US$ 94,5 milhões.
Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sicadems) e diretor do frigorífico Boibras, Regis Luís Comarella, a indústria atuou de forma estratégica durante a pandemia.
“ A indústria frigorífica atuou de forma estratégica. Foi necessário que as empresas seguissem à risca os planos de contingências de combate a Covid-19, protocolo esse que vem seguindo até hoje”.
Para ele, as indústrias ainda atuaram com eficiência e cuidado para que não houvesse contaminação em massa.
“Somente dessa forma as indústrias se fortaleceram e demonstraram aos órgãos fiscalizadores a capacidade e eficiência de manterem suas linhas de produção, sem que houvesse contaminação em massa. A agroindústria é responsável por gerar milhares de empregos, consequentemente gerar mais renda”, pontuou.
Um exemplo de pessoas que conseguiram emprego na pandemia é o supervisor de desossa da Boibras, Moisés Lima, de 33 anos. Para ele, não faltou oportunidade. Conseguiu sair de uma empresa e já ingressar em outra.
“Isso demonstra que o setor da agroindústria conseguiu se manter, conseguiu dar uma resposta bacana e mesmo com a pandemia não sentiu tanto impacto. O emprego é uma parte importante de onde vem os proventos para a gente se manter e realizar nossos sonhos”, destacou.
No setor de aves, o presidente da Associação dos Avicultores de Mato Grosso do Sul (Avimasul), Adroaldo Hoffmann destacou o empenho das agroindústrias.
“Nosso setor não parou. A agroindústria manteve a produção no mesmo nível anterior a pandemia. O setor de aves tem uma perspectiva de crescer por vários anos e a pandemia não inibiu essa tendência”, comemorou.
A atividade industrial no Estado foi classificada como essencial logo no início da pandemia. Quando os Ministérios estabeleceram as normas para a indústria do abate e processamento de carne e laticínios, as regras já estavam em vigor em Mato Grosso do Sul por meio de portarias feitas pela Semagro.
INVESTIMENTOS
Prova de que a agroindústria se manteve no período de pandemia, além da geração de empregos, são também, alguns investimentos.
Em junho de 2020, quando já existia a pandemia, a Semagro repassou R$ 82.186,90 para a reativação da unidade processadora de leite da Asproleite, em Mundo Novo. O recurso é oriundo do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Econômico e Equilíbrio Fiscal do Estado (Fadefe).
Foram adquiridos pasteurizadora, empacotadora e iogurteira. A contrapartida da administração municipal na realização do projeto foi de R$ 23.703,20.
Em dezembro de 2020, a Cooperativa Agropecuária de São Gabriel do Oeste (Cooasgo) inaugurou a Granja Rio Verde. O empreendimento foi projetado junto com a Agroceres, para a produção anual de mais de 40 mil matrizes por ano.
Na época, a projeção era de que a economia local tivesse um incremento mensal de R$ 145 mil, além de também movimentar outros setores.
Já em fevereiro de 2021 teve a inauguração da granja Nossa Senhora Aparecida, instalada em Dourados, sendo a primeira do país a alimentar animais alojados com ração líquida.
O investimento foi de R$ 9 milhões financiados por meio do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO).
Em julho, foi anunciada a Neomille, usina de etanol de milho, que tem previsão de ser instalada em 2022, no município de Maracaju. Ao todo, serão investidos R$ 1 bilhão na planta industrial.
Com o novo empreendimento, a expectativa é de que a usina gere 150 empregos diretos e, aproximadamente, 500 indiretos com os serviços terceirizados.
Via Correio do Estado
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