Geral

Nas ruas de Campo Grande, “inflação” para quem envelhece pesa mais

Circuito MS

15:50 11/04/2019

[Via Campo Grande News]

A costureira Maria de Fátima sente na pele dados divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Envelhecer está ficando cada vez mais caro no Brasil. Em 12 meses, o IPC-3i (Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade), que mede a variação da cesta de consumo de pessoas com mais de 60 anos de idade, acumulou taxa de 5,37%. Índice maior do que os 4,88% registrados pelo IPC-BR (Índice de Preços ao Consumidor – Brasil), que mede a inflação para todas as faixas de idade.

Aos 61 anos, hipertensa e nove meses depois de sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral), dona Maria conta que o principal gasto da família é com saúde. Até da fisioterapia, que deveria fazer, ela abriu mão por não ter dinheiro. Segundo ela, a renda familiar depende do marido, já que precisou abandonar a profissão por problemas de saúde e não conseguiu se aposentar.

“Os remédios estão cada vez mais caros. E hoje eu tenho que optar: ou eu compro comida, ou eu compro remédio”, reclama. Ela lembra que no último mês precisou pagar uma consulta médica, mas ainda não conseguiu pegar os remédios necessários. “Não tem no SUS[Sistema Único de Saúde] e os 30 comprimidos custam 60 reais e não consigo comprar”, conta.

Além do custo com saúde, a inflação também é sentida pela costureira na hora de comprar comida. De acordo com ela, um tempo, atrás com R$ 50,00 ela ia ao supermercado e as compras precisavam ser levadas para casa em caixas. Hoje ela conta que consegue carregar tudo o que compra pelo mesmo valor em duas sacolas. E ainda deu o exemplo, hoje a ida ao supermercado para comprar um pacote de arroz, óleo e um quilo de feijão e custou R$ 50,00.

Para os homens, a coisa não muda. O aposentado Atanazio Cortiz Lopes, de 77 anos, detalha que gasta em média R$ 300,00 por mês só com remédios. Ele e a esposa são hipertensos e precisam comprar a medicação para controlar a pressão. Para ele é nítido o aumento do custo de “tudo” com o passar dos anos. E ainda lembra que os aumentos nos itens de consumo não acompanham o aumento dos salários.

Solange mostra no celular outra despesa que pesa no orçamento de forma geral, a energia.  Solange mostra no celular outra despesa que pesa no orçamento de forma geral, a energia.

Remédios mais caros  – O item apontado pelos campo-grandenses ouvidos pela reportagem como o principal custo do orçamento, os remédios vendidos no País, sofreram um aumento de até 4,33% desde o dia 31 de março deste ano, devido ao reajuste anual dos medicamentos.

A alta nos preços vale apenas para remédios vendidos com receitas, o que é boa parte dos casos depois que se rompe a fronteira dos 60 anos.

Aos 53 anos, a vendedora Solange Rodrigues, ainda não é considerada uma idosa, mas já tem consciência de que seu custo de vida irá aumentar com o envelhecimento. “Tudo para o idoso é mais caro. Até plano de saúde e se você depender do SUS nunca tem nada nem mesmo o remédio mais básico”, afirma. A vendedora já sente o peso da inflação. “Tudo começa a pesar e não adianta abaixar o preço em um item porque sempre aumenta do outro lado”, diz.

Assim como Maria de Fátima e Atanazio, Solange consegue sentir a inflação no dia a dia. As contas de água são o exemplo, em seis meses as faturas passaram de cerca de R$ 200,00 para aproximadamente R$ 500,00. Ela ressalta que também precisa decidir em que investir seu dinheiro. “Às vezes deixo de comprar remédio para poder pagar uma conta. A gente não prioriza a nossa saúde, mas sim a sobrevivência”, completa.

Comente esta notícia