Cultura

Tempo de recomeçar: artista alça novos voos e leva esculturas de pássaros ao Paraná

Circuito MS

15:44 10/01/2022

Conhecidas na paisagem urbana de Campo Grande, esculturas de aves do artista plástico Cleir batem asas e se multiplicam em Arapongas

“As aves que aqui gorjeiam/Não gorjeiam como lá”.

Contrariando os versos do poeta romântico Gonçalves Dias (1823-1864), o escultor campo-grandense Cleir avança, a cada dia, na multiplicação de seus pássaros decorativos pelas ruas e praças de uma cidade do Paraná tão marcada pela presença dos seres alados que evoca um deles no próprio nome – Arapongas.

A prefeitura local encomendou a missão e, seis meses após o início dos trabalhos, o artista entregou as primeiras das 13 obras de pássaros nativos que está produzindo para colorir a cidade.

Localizada a 600 quilômetros de Campo Grande, Arapongas é conhecida como a “cidade dos pássaros”.

E, se depender de Cleir, vai continuar sendo. Embora uma arara de verdade não costume voar tão longe, o artista tratou de instalar duas das suas araras-vermelhas, produzidas em metal e modelagem, na Praça Mauá, um dos pontos de grande movimento do município.

A obra foi inaugurada na semana do Natal, assim como outras espécies do aviário de Cleir que já estão de asas abertas sobre a cidade.

 IMAGEM POÉTICA

A simples descrição das peças em seu habitat parece um encontro de plumagens coloridas capaz de inspirar Gonçalves Dias ou qualquer poeta.

Veja só: o casal de arapongas está localizado no cruzamento da Avenida Arapongas com a Rua Rouxinol; e a araponga entre a Rua Tangará e a Avenida Arapongas.

Em ação desde o mês de junho, Cleir conta que o ritmo de trabalho chega a superar as 12 horas diárias para dar conta da “ninhada”, uma forma de retribuir o acolhimento da comunidade.

“A minha técnica de escultura é a modelagem do ferro e a modelagem da argamassa, e depois a pintura em esmalte acrílico, com a técnica de veladura”, explica o artista plástico de 58 anos, que tem formação autodidata.

“Fiz questão de entregar as esculturas da região central antes do fim do ano e, para isso, trabalhei muito, em ritmo acelerado”.

“Foi meu grande agradecimento a esta cidade que tem sido meu lar nos últimos meses. Estou muito feliz com a repercussão e o carinho das pessoas, que sempre trazem palavras de apoio, fazem fotos e demonstram gostar do resultado”, afirma Cleir Ávila, conhecido apenas pelo prenome.

A gratidão do escultor não deixa de ter razão de ser. Seu trabalho já conquistou fãs como a professora Aline Caroline de Lima da Silva, moradora de Arapongas há 37 anos.

“Foi fantástico ver o ponto inicial e entender cada etapa até o fim, desde desenhar o pássaro em tamanho real, soldar e esculpir. Cleir realiza um trabalho árduo e com muito gosto, e o resultado é maravilhoso e está abrilhantando nosso município”, elogia Aline.

Acompanhada de alguns familiares, a professora visitou Cleir enquanto o escultor ainda projetava as obras em desenhos, acompanhou as várias etapas do processo e ainda pesquisou mais sobre sua trajetória, o que fez aumentar sua admiração pelo artista plástico.

IMAGEM OFICIAL

Cleir também realiza pinturas em telas e em painéis com a mesma técnica com que colore as esculturas, a veladura.

Também conhecido como velatura, com “t”, o procedimento consiste na sobreposição de camadas de tintas transparentes para a obtenção de um efeito multicromático e translúcido.

Criador de uma imagem oficial das aves do Centro-Oeste, que tem sido legitimada pela administração de vários municípios, o artista possui obras instaladas – esculturas e painéis – em locais públicos de Campo Grande, Corumbá, Dourados, Três Lagoas, Ponta Porã e outras cidades de Mato Grosso do Sul, sempre tematizando o “seu amor à fauna regional”.

Na Capital, os painéis “Arara-Vermelha” e “Papagaio Verdadeiro”, estampados nas laterais do Edifício 26 de Agosto há mais de 20 anos, foram restaurados em 2019 pelo artista, que acumula ainda um portfólio de obras em residências, empresas, instituições e acervos particulares.

Ao fim da temporada em Arapongas, a cidade paranaense se tornará o município com o maior número de obras do artista.

Mesmo assim, com tanto reconhecimento por lá, Cleir não esconde a saudade de casa.

“Fui acolhido de braços abertos pelo povo de Arapongas, o que motiva muito a seguir o trabalho, mas, com certeza, sinto saudade do meu Mato Grosso do Sul, minha terra natal e minha grande inspiração. Em breve estarei de volta”, revela.

Se tudo der certo, a concretagem das oito obras restantes será concluída nas próximas semanas. O flamingo já está em fase mais adiantada. A cidade receberá ainda esculturas de pavão, gaturamo, rouxinol, andorinha e gralha, todas com tamanho entre 2 e 3 metros.

Via Correio do Estado MS

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