O patrão foi aquele anjo no caminho que mudou o destino de Gilson
19:45 21/02/2022
Ele começou a trabalhar cedo. Aos 10 anos de idade ajudava numa loja chamada Palácio das Geladeiras, na 14 de Julho, e aos 13, como na foto que ilustra este texto, já estava no Cartório do 2º Ofício, no Fórum que ficava na rua 26 de Agosto, onde hoje é o teatro Aracy Balabanian. “Lembro que foi preciso autorização da justiça, e como o juiz que eu iria trabalhar era da vara de menores, deu tudo certo. O juiz era José Nunes da Cunha. Foi assim o início de tudo”, conta Gilson Carvalho da Silva.
Calma que vem mais detalhe aqui. Foi o dono do Palácio das Geladeiras, senhor Aurélio Matozinhos Costa que, depois que faliu, teve o cuidado de fazer uma carta de apresentação para que o menino Gilson arrumasse outro emprego. “Olha, me recordo até hoje. Ele e a esposa me chamaram no escritório, me entregaram a carta e me falaram que eles iriam embora de Campo Grande”.
Mas antes apontaram o novo caminho. “Como meu pai era oficial de justiça (o pai de Gilson é o Milton Silva que também já esteve aqui contando sua história), eu falei para ele da carta e que o senhor Aurélio tinha falado com o doutor José Nunes da Cunha. Meu pai conversou com o então juiz que pediu que eu fosse até lá. Eu fui e comecei a trabalhar na escrivania da 1ª Vara Cível”.
Lá Gilson empenhava-se das 7 horas às 12h30 e depois seguia para a Escola Estadual Vespasiano Martins. Quando terminou a 4ª série ginasial, foi fazer científico à noite no Colégio Moderno Campo-Grandense. “Passei a trabalhar das 7h30 às 11 horas, com intervalo de duas horas, e retornava das 13 horas até as 17h30”. E assim foram 12 anos de cartório até que aconteceu a criação do Estado e, com isso, a oportunidade de prestar concurso público. “Fiz para trabalhar na Secretaria do Tribunal de Justiça e passei. Fiz para escrivão da comarca de Sidrolândia e também passei. Fiz para o Fórum de Campo Grande e não passei”, pontua o exitoso candidato.
O que ele decidiu? Bem, passou a fazer parte da equipe da Secretaria do TJMS, mas logo conheceu Roberto Izer, que recém tinha passado no concurso para juiz, e solicitou que Gilson aceitasse ser escrivão em Sidrolândia, onde o novo magistrado judicaria. “Depois de ficar sete anos em Sidrolândia, fui promovido para Campo Grande, na Vara Distrital de Terenos. Fiz grandes amizades no trabalho e na cidade que perduram até hoje”, revela.
Na carreira, Gilson também esteve na 6ª Vara Cível em Campo Grande. “Na época tinha 3 mil processos, enquanto nas outras varas a média era de 400 a 500 no máximo. Eu sei que fiquei três anos e, quando veio a minha aposentadoria, dos 3 mil ficaram em andamento 580”, comemora.
Depois de aposentado, Gilson não foi daqueles que aproveitou o tempo para realizar novos sonhos. Ele conta que havia uma vara criminal que era só de tóxico que se transformou em clínica geral e choveu processos. “Tinha processo com 79 volumes, pensa? E só tinha um assessor. Aí o juiz Joviano Caiado me contratou e fiquei lá por mais três anos”.
Em seu último dia de trabalho no TJMS, como sempre Gilson ficou até mais tarde. Depois que saiu pela porta, andou um pouco, olhou para trás e agradeceu a Deus pela missão cumprida. Um ciclo que se fechava para um futuro de muitas opções. “Ainda quero fazer Teologia, conhecer o Egito e a Grécia e ver minha sobrinha, que considero como filha, formada e encaminhada com um ótimo concurso público”, enumera.
É claro que Gilson não fecharia essa narrativa sem antes fazer um agradecimento especial ao seu anjo, o senhor Aurélio, lá do começo dessa história e um dos responsáveis pela carreira vitoriosa aqui contada. “Se eu o encontrasse, diria: obrigado por depositar a confiança em um menino que cresceu, trabalhou muito e estudou mais ainda”.
Via TJ MS
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