Para ser a “Capital verde”, tem muito trabalho sendo feito todo dia
7:50 26/08/2018
[Via Campo Grande News]
Do alto, a paisagem Cidade Morena é de uma Capital que cresceu entremeada de verde. Da “mini-cidade” do Parque dos Poderes até a mais emblemática das avenidas, Afonso Pena, o contraste do desenvolvimento é sombreado por elas, as árvores “urbanas” de uma das cidades mais verdes do país.
Título a se orgulhar, mas que exige empenho para ser mantido e sofre pela falta de conscientização da população que ainda não entende a importância de se viver em uma cidade arborizada.
Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ainda de 2010, indica Goiânia como a mais arborizada do Brasil, se comparada às outras cidades com mais de 1 milhão de habitantes.
A porcentagem foi de 86,9% de arborização, no entorno domiciliar para a campeã, contra 96 % de Campo Grande, à época, com seus 774 mil moradores. Só para se ter uma ideia a porcentagem da Capital reflete que a cada 100 imóveis, 96 tem árvores plantadas na calçada ou nos terrenos.
Ou seja, a cidade não foi considerada no ranking principal, mas aparece tão bem colocada quanto. O o que os dados compilam a realidade reflete e de forma frondosa.
É sempre aproximada a estimativa de vida de uma árvore, mas a Capital tem algumas que resistem ao tempo e, possivelmente, datam de meados da municipalização da cidade lá pelas tantas de 1889.
Qualquer fotografia daquela época arquivada na ARCA (Arquivo Histórico de Campo Grande), por exemplo, reflete os ficus da Avenida Afonso Pena ou da Mata Grosso, hoje, ainda imponentes.
Nos trechos da Afonso Pena entre a Calógeras até a José Antônio e na Mato Grosso, também da Calógeras até a Pedro Celestino, estão as que são, possivelmente algumas das mais antigas da Capital.
São 43 árvores que resistem ao tempo acompanhando o desenvolvimento da cidade, há 97 anos. Tanta “experiência de vida”, por assim dizer, exige medidas de preservação e cuidados frequentes.
Por cinco anos, por exemplo, uma delas do canteiro Central da Afonso Pena no cruzamento com a Padre João Crippa, teve a sustentação reforçada com paliteiros. Na prática, eram tubos de PVC que revestiam as raízes que pendiam do caule até o solo.
Uma forma de diminuir o risco de queda. Todas, recentemente, também passaram por dandrocirurgias. Receberam espumas nos ocos dos caules para evitar o apodrecimento.
Alternativas que provam que a idade chega mesmo para todos e todas. Ainda imponentes, não só ao tráfego, aos pedestres e ciclistas também elas também sombreiam seu amante mais ilustre. O eterno Manoel de Barros. Dono do maior quintal do mundo e talvez quem tenha cedido as 153.122 árvores da cidade, segundo o Pdau (Plano de Arborização Urbana).
O número é aproximado e por ter sido formulado há 9 anos, pode variar para bem mais ou para menos. A atualização deve ser feita no ano que vem, segundo a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana).
O plano é uma espécie de manual detalhado com 158 páginas que não só mapeou as árvores como estabeleceu metas de cuidado, características, áreas mais arborizadas, dentre outras especificidades.
“O Pdau traçou um direcionamento já consolidado e usado como referência até hoje, mas que é atualizado a cada 10 anos junto ao plano direto da cidade”, comentou o gerente de fiscalização de arborização e áreas verdes da Secretaria, Orsival Simões Junior.
Atualmente, além da Semadur, equipes da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) e com o apoio da Energisa atuam na preservação da área verde de Campo Grande.
O monitoramento é frequente em toda a cidade, mas principalmente nas regiões em que a prefeitura fez o plantio recentemente.
“Como nas regiões do Córrego Bandeira, no Celina Jalad, parte do Tiradentes. Tem programação de plantio no Estrela Parque ,Nova Lima. Conforme são concluídas as obras da cidade, por exemplo, é também feita a arborização”, comenta Júnior.
As equipes fazem o acompanhamento das espécies, desde o plantio que em boa parte das vezes é financiado por construtoras por compensação ambiental.
“Depois de 90 dias o cuidados dessas plantas já passa a ser de responsabilidade da prefeitura. As equipes, então passam a fazer um acompanhamento dessas árvores com poda, verificam estacas, amarrios. Tiram os brotos dos caules, porque existe uma preocupação de que os galhos não cresçam e atrapalhem o tráfego de pedestres, ou rede elétrica, por exemplo”, comenta.
Essa condução do crescimento da planta pode chegar até 3 anos, idade em que a árvore se estabelece e consegue se desenvolver sozinha. Acompanhamento feito tanto nos bairros quanto no Centro. “Que é a ´cidade de concreto’ com maior fluxo de pessoas, veículo e, consequentemente temos que trabalhar para arborizar e equilibrar o microclima da região”, pontua.
Com a conclusão do Reviva Campo Grande, por exemplo, a 14 de julho vai receber o plantio de 200 mudas. Calógeras e Dom Aquino também são outras que devem receber mais árvores, conforme a progressão dos trabalhos.
Em toda a Capital, só este ano o projeto Via Verde que cuida da arborização da Capital já plantou mais de 20 mil árvores. Em todas as regiões, no entanto, a ação da população é o principal rival das ações.
“O índice de depredação do projeto chega a 50% em algumas regiões. A população ainda não entende sobre a importância de uma cidade arborizada e quebra as estacas, chuta as mudas. Tem quem não goste que elas sejam plantadas na frente de suas casas, mesmo a falta delas nas calçadas seja passível de multa”, se queixa.
Na Capital quem não tem árvores em frente às residências pode ser multado em até R$ 1,061,00. Enquanto o descaso ainda é uma barreira a ser transposta, o verde que a cidade já ostenta em seu 119º aniversário, melhora a qualidade de vida de quem sabe da sua importância.
Do cruzamento da 14 de julho com a Rachid Neder, no São Francisco, terreno com cerca de 6 mil metros quadrados é o recanto verde da aposentada Phaena Corrêa da Costa, de 88 anos e do filho.
Ali, a moradora enumera a quantidade de plantas que cultiva. “Tem figo, pitanga, mangueira, acerola… mas você tem que olhar essa daqui”, comenta ao fazer questão de mostrar a sua preferida.
Uma acácia amarela que atinge fácil os 20 metros. “Moro aqui há pelo menos 60 anos. Essa ai também foi eu quem plantei é a maior e mais bonita. Ela deve ter pelo menos uns 50 anos. Tudo melhora quando você é cercada de árvores. O ar, o clima”, sorri.
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