Petrobras: petróleo em baixa e efeitos da covid-19 explicam prejuízo
14:00 03/08/2020
A queda de 42% do preço do petróleo tipo Brent no mercado internacional explica, em parte, o prejuízo de R$ 2,713 bilhão registrado pela Petrobras no segundo trimestre deste ano, contra lucro de R$ 18,9 bilhões em igual período do ano passado. O resultado foi impactado também pela pandemia do novo coronavírus, que reduziu em 8% o volume de vendas da companhia no mercado interno.
“Tivemos um segundo trimestre muito desafiador para a economia global e a indústria do petróleo”, disse na última sexta-feira (31), o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, em entrevista coletiva virtual. Houve contração da demanda e colapso de preços, além de aumento de fretes.
Castello Branco afirmou que, para a Petrobras, não houve queima de caixa no período, como muitos esperavam. “Pelo contrário. Conseguimos reduzir nosso endividamento líquido, o que é relevante.” O fluxo de caixa operacional alcançou US$ 5,5 bilhões e, depois de pagas todas as despesas operacionais e investimentos, sobraram US$ 3,4 bilhões. “Essa foi uma grande vitória obtida graças ao trabalho integrado dos nossos times”, disse ele.
A perda no segundo trimestre foi menor do que o prejuízo do primeiro trimestre de 2020, da ordem de R$ 48,5 bilhões, porque, no segundo trimestre, não houve reconhecimento de impairments (redução no valor recuperável de ativos), como ocorreu nos três primeiros meses deste ano, no montante de R$ 65,3 bilhões. Também a exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins teve efeito favorável no resultado da empresa, somando R$ 10,9 bilhões. Se fossem excluídos esses dois fatores, o prejuízo teria sido de R$ 13,7 bilhões em função dos efeitos da covid-19 sobre as operações da Petrobras.
Incertezas
A diretora Financeira e de Relacionamento com Investidores, Andrea Marques de Almeida, lembrou que o segundo trimestre deste ano foi afetado também pelas provisões do Plano de Demissão Voluntária (PDV) da companhia, entre outros fatores. Andrea disse que será bem difícil conseguir zerar até o final do ano o prejuízo registrado, principalmente do primeiro trimestre, apesar da recuperação de preços. Ela destacou, porém, que a crise sanitária nunca vivenciada antes deixa o cenário dos próximos seis meses em aberto. “Vamos ter que esperar o final do ano para ter certeza de alguma coisa”, afirmou.
Castello Branco chamou a atenção para o fato de o prejuízo ser contábil, e disse que o que importa para uma empresa e indica o seu grau de saúde é a capacidade de gerar caixa. Apesar de todas as dificuldades, a Petrobras se mostrou capaz de continuar a gerar caixa “e, mais importante ainda, de começar a reduzir o seu endividamento líquido. Em especial, foi capaz de prepagar US$ 3,5 bilhões de linhas de crédito compromissadas tomadas em março, quando a crise estava começando a acelerar”
O presidente da Petrobras destacou que isso diminui o endividamento e é o reinício do processo de desalavancagem interrompido em março e, portanto, reduz o custo com pagamento de juros, consistente com a estratégia, além de melhorar a percepção de risco. A liquidez permanece então disponível. Não foi alterada porque, “se precisarmos, as linhas estão lá e poderíamos voltar a sacar, coisa que não pretendemos fazer.”
Estratégia
Castello Branco afirmou que a Petrobras continua em busca do ajuste e da implementação da sua estratégia. Ele vê a pandemia da covid-19 como um ponto de inflexão na companhia e diz que agora é hora de acelerar a estratégia, cuja execução começou a ser implantada no ano passado, para que a empresa possa sair vencedora da crise e terminar melhor do que o país estava em fevereiro de 2020”. Para isso, acelera-se a transformação digital e trabalham-se inovações tecnológicas que tornarão a exploração e produção de petróleo e o refino atividades de menor custo e maior produtividade, para gerar valor de forma sustentável ao longo do tempo.
As receitas da Petrobras no segundo trimestre alcançaram R$ 50,898 bilhões, revelando queda de 29,9% em comparação ao mesmo período de 2019 e de 32,6% contra o primeiro trimestre deste ano. Com isso, a receita líquida caiu 33% no segundo trimestre.
As despesas operacionais também sofreram retração de 89%, passando de R$ 75,616 bilhões no primeiro trimestre de 2020 para R$ 8,109 bilhões no segundo trimestre. As despesas nos três primeiros meses do ano tiveram impacto do impairment realizado de R$ 65,3 bilhões.
Os investimentos da companhia entre abril e junho de 2020 somaram US$ 1,937 bilhão, mostrando queda de 20% em relação ao primeiro trimestre e de 24,1% comparativamente ao segundo trimestre de 2019.
A dívida bruta atingiu US$ 91,227 bilhões no segundo trimestre deste ano, com menos 9,7% na comparação com igual período do ano passadoe aumento de 2,2% em relação aos US$ 89 bilhões registrados no trimestre anterior. A meta é chegar a um endividamento de US$ 60 bilhões nos próximos anos. “Tem quase US$ 30 bilhões para cionsumir”, comentou Castello Branco.
O Ebitda ajustado, isto é, o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização, caiu 23,5%, passando de R$ 32,651 bilhões, no primeiro trimestre, para R$ 24,986 bilhões, no segundo trimestre de 2020.
Transpetro
O presidente da Petrobras descartou a inclusão da Transpetro no plano de desinvestimento da companhia. “Não será incluída”, garantiu, alegando que a Transpetro tem importante papel dentro da logística da Petrobras.
A decisão foi confirmada pelo diretor executivo de Logística, André Chiarini. “Não está em discussão”. Segundo Chiarini, a Transpetro exerceu papel fundamental na crise. Ele esclareceu que, quando se fala em agenda transformadora na Transpetro, isso significa tornar a empresa cada vez mais competitiva no mercado, com renovação completa da diretoria, redução de custos inclusive com plano de desligamento voluntário, que já tem a adesão de 600 pessoas.
Na busca de eficiência de ativos, Chiarini informou que já conseguiram reduzir a idade média da frota da Transpetro de 13,6 anos para 7,7 anos “e elevamos, em maio, o índice de patamar de qualidade da frota para 99%”.
China
Roberto Castello Branco disse que a China é uma economia em desenvolvimento, intensiva em indústria, segunda maior exportadora do mundo e, por isso, é natural que seja considerada um mercado bem atrativo para a Petrobras. Assegurou que não existe nenhuma dificuldade econômica ou geopolítica para que a Petrobras não continue vendendo produtos para a China nem deixe de se beneficiar com equipamentos de baixo custo chineses. O volume médio diário exportado pela Petrobras para a China é de 13 milhões de barris, informou.
Via Agência Brasil
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