Geral

“Poética dos Bugres” traz à luz o nome de Conceição como identidade de MS

Circuito MS

11:50 29/01/2019

[Via Campo Grande News]

A imagem das esculturas dos bugres habitam de alguma forma o inconsciente da população sul-mato-grossense, mas nem sempre trazem a lembrança de sua criadora, uma das primeiras artistas do Estado, Conceição dos Bugres. O livro “Poética dos Bugres: uma incursão sobre arte, identidade e o outro” da cientista social e escritora Isabella Banducci Amizo ressalta a as peças como identidade cultural de Mato Grosso do Sul assim como a artista.

Isabella com Mariano, neto de Conceição. (Foto: Divulgação)Isabella com Mariano, neto de Conceição. (Foto: Divulgação)

O livro traz história dos bugres, que foram elevados de artesanato à arte. “Abordo a trajetória dos bugres. Eles passaram por uma mudança de status. Passa de peça artesanal, produzido por uma mulher da periferia, semi-analfabeta, sem instrução e sem conhecimento artístico, e ganha status de obra de arte”, explicou Isabella ao Lado B.

Em outra linha, a cientista social descreve os bugres de acordo com um segundo status. “Eles ganham um marco de identidade de Mato Grosso do Sul, se torna um símbolo”, descreve. “Pelo fato de ser um estado novo e ter sido formado a partir de outro, sempre teve a necessidade de marcar a diferença”, completa.

Exemplares dos Bugres no Galeria Estação, em São Paulo. (Foto: Evandro Prado)Exemplares dos Bugres no Galeria Estação, em São Paulo. (Foto: Evandro Prado)

Mas essa identidade traz uma questão complexa: a relação com os índios. “Nos apropriamos da imagem e da arte do índio mas a relação com população não é a mesma. Ao mesmo tempo que se valorizamos a imagem do índio, a população em geral tem uma relação negativa com os índios. Como a gente quer que o índio seja uma marca, mas a gente não quer ser visto como índio?”, analisa a autora.

Esculturas presentes no Museu do Índio, em Brasília. (Foto: Divulgação)Esculturas presentes no Museu do Índio, em Brasília. (Foto: Divulgação)

Os bugres de Conceição marcam presença fora de Mato Grosso do Sul, mas a história das peças e da criadora pode estar se perdendo entre os mais jovens. O livro de Isabella ajuda a trazer à tona essa identidade, que segundo ela, está presente de alguma forma no inconsciente da população, inclusive dos mais jovens.

“Quando veem, reconhecem de alguma forma. Está tão popularizado, que foi apropriado em diferentes âmbitos. Há móveis feitos usando a imagem, na orla tem grafites dos bugres andando de skate. Vemos referências em vários pontos. Falta o conhecimento mais aprofundado”, afirma Isabella.

Muito dessa consciência vem do uso da imagem em materiais institucionais. “O poder público utiliza bem a imagem do bugre, tem a medalha Conceição dos Bugres que é dada para artesãos de destaque. Materiais trazem imagem, cartazes logomarcas”, pontua.

Isabella ressalta que há diversas publicações sobre Conceição dos Bugres, entretanto são trabalhos voltados à biografia da artista. Seu livro “Poética dos Bugres” detalha a trajetória das peças e traz o conhecimento sobre as esculturas.

Grafites de Anelise Godoy na Orla. (Foto: DivulgaçãoGrafites de Anelise Godoy na Orla. (Foto: Divulgação

O livro é resultado de dissertação de mestrado em Estudo de Linguagens da UFMS(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) com pesquisa realizada entre 2013 e 2015 e orientação da professora Maria Adélia Menegazzo. A publicação teve apoio do FIC (Fundo de Investimentos Culturais) da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.

Comente esta notícia