Por coincidência, rua tem o “S” da Sofia, moradora homenageada em endereço
17:50 11/06/2019
[Via Campo Grande News]
O silêncio, o verde, a sensação de paz e a beleza do bairro Itanhangá Park são inquestionáveis. Mas duvidosa, por muito tempo, foi a história por trás de uma das ruas mais curvadas do bairro, que do alto, tem formato de “S” e leva o nome Sofia Melke. Ela é uma das ruas mais conhecidas que, em outras épocas, teve outro nome, mas passou a homenagear uma moradora especial em 2002.
Nas redes sociais, há quem acredite que por causa de Sofia a rua ganhou este formato. Mas tudo foi uma coincidência, hoje, esclarecida pelo próprio filho, o engenheiro civil Carlos Augusto Melke, que ainda mora no mesmo bairro, tem um carinho imenso pela região e descreve com amor o que levou o nome de sua mãe às placas.
A rua com nome de dona Sofia é o que ficou do seu carinho pela cidade. Libanesa, filha de imigrantes que se estabeleceram em Campo Grande por volta de 1920, ela viu a família participar do crescimento da cidade através do comércio nas ruas 14 de Julho e 7 de Setembro.
Quando casou, na vida adulta, iniciou sua trajetória no voluntariado pela cidade. Até os últimos anos de vida, se dedicou à comunidade. Foi uma das fundadoras da Rede Feminina de Combate ao Câncer que durante décadas vestiu a camiseta rosa. “Cresci vendo minha mãe fazer chá beneficentes e eventos solidários, ao lado de uma rede forte de mulheres que batalhavam muito para conseguirem ajudar o próximo na cidade. Também se dedicava bastante às ações da igreja, mas sempre voltada a causa social”, explica o filho Carlos.
Homenagem – Com uma história de doação e dedicação à Campo Grande, Sofia partiu aos 74 anos, vítima de câncer de intestino. Na época, em junho de 2002, Carlos lembra que a família recebeu a vista do então vereado Edil Albuquerque, amigo da família, que foi prestar condolências na casa de Sofia, ainda localizada na mesma rua, antigamente, denominada “Rua Búzios”.
“Foi então que o Edil propôs homenageá-la com seu nome. Sem nenhum pedido da família ou qualquer intercorrência. Mas ficamos muito felizes porque sabíamos da dedicação da nossa mãe pela comunidade”, explica o filho.
A mudança foi aprovada pela maioria dos moradores, garante Carlos. Mas um episódio marcou a mudança. Em outubro de 2002, a então vereadora Maria Emília, como consta no portal da Câmara Municipal de Campo Grande, pediu a revogação da lei que alterava o nome da rua sob justificativa de que “a Rua Búzios, já tem seu nome consolidado há mais de 20 anos”. Ela ainda acrescentou no texto que “a mudança do nome dessa rua causaria transtornos na vida de seus moradores tanto no recebimento de correspondências como em outras implicações que a troca de endereço pode trazer”.
O Lado B esteve na localização, mas boa parte dos moradores não falaram do assunto e parecem não se importar com a mudança. Já os seguranças que, diariamente, cuidam da rua com pouco mais de 600 metros acham o nome “simpático”. “Combina com o formato, né? Parece até que foi combinado”, brinca o nordestino João Soares, ao ver a fotografia feita com drone que mostra exatamente o formato do endereço.
Formato de “Sofia” – Para esclarecer sobre o formato que não tem ligação com o nome da mãe, o engenheiro volta no tempo, quando o Itanhangá Park ainda não existia.
Tudo começou no ano de 1976 quando um loteador decidiu modernizar a região com loteamentos gigantescos, sem perder a natureza exuberante que havia por perto. “Quando o loteador comprou aquela região, a área pertencia uma família tradicional na cidade, do seu Marcilio de Oliveira, que também foi vereador e prefeito de Campo Grande. E, nessa época, era diretor de Urbanismo da Prefeitura Municipal, na gestão do Marcelo Miranda”, recorda Carlos.
Quando o loteador procurou a administração municipal para acertar as diretrizes do loteamento, o maior impasse eram as erosões que haviam na região. “Como haviam erosões, hoje, você pode perceber que todas as ruas do Itanhangá acompanham a curva de nível, ou seja, no declive era possível e necessário fazer a conexão de duas ruas, para se ter uma rede de drenagem que pudesse conter e a erosão. E como não era um loteamento muito largo, a gente optou por aprovar o projeto daquela forma, com curvas, o que criou um formato bastante impessoal para época”.
Carlos recorda que houve uma dificuldade para adequar, mas o projeto se tornou moderno, sem pesar para o lado da natureza. “Um dos planos do loteador era a preservação da natureza. Naquela época todos se preocuparam em preservar beira do córrego, por isso, criou-se a praça”, detalha.
Apesar das coincidências ao longo do tempo, a rua e o bairro ainda trazem a Carlos uma mistura de saudades. “Saudade da minha mãe que era uma pessoa maravilhosa, que sempre será incrível para nós e saudade do bairro, afinal, hoje os tempos são outros, eu vou me mudar para um apartamento, mas os bons momentos aconteceram ali, naquela região”, conclui o engenheiro, já com os olhos marejados de lembrar da mãe.
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