Campo Grande

Projeto usa tecnologia para evitar racionamento de água na Capital

Circuito MS

10:46 15/05/2023

Bacia do Córrego Lageado terá monitoramento hidrológico para controlar secas em Campo Grande - Foto: Gerson Oliveira

Iniciativa é uma parceria do Laboratório HEroS com a empresa Águas Guariroba para o monitoramento das secas e do abastecimento hídrico em Campo Grande

Pesquisadores do Laboratório de Hidrologia, Erosão e Sedimentos (HEroS) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) têm parceria com a empresa Águas Guariroba para realizar o monitoramento da bacia dos córregos Guariroba e Lageado, que abastecem Campo Grande.

Atualmente, o laboratório monitora rios e reservatórios de água para verificar os níveis de abastecimento da população no período da seca. Apesar de a parceria ter sido efetivada no fim do ano passado, o HEroS realiza desde 2011 o acompanhamento da Bacia do Córrego Guariroba.

“Nós estamos monitorando os rios do Lageado e do Guariroba e também os reservatórios, para a partir desses dados ajustarmos os modelos hidrológicos e também usarmos as previsões meteorológicas para termos os níveis de vasão no futuro. E aí saberemos, daqui a uma semana, três ou quatro dias, a quantidade de água disponível para a população”, explicou Paulo Tarso, professor em Engenharia Hidráulica e Saneamento e coordenador do projeto.

A concessionária informa que o projeto surgiu do interesse em desenvolver uma cooperação técnico-científica na universidade, que já realiza estudos na área de disponibilidade hídrica.

“O objetivo é desenvolver um projeto de pesquisa que auxilie na segurança operacional e no monitoramento da disponibilidade hídrica das bacias hidrográficas que abastecem a região urbana de Campo Grande”, declarou a Águas Guariroba.

Dessa forma, a empresa comenta que a parceria visa também investigar a dinâmica e o funcionamento das bacias hidrográficas que fazem parte do abastecimento da Capital.

“Serão analisadas primeiramente a dinâmica das bacias, os fluxos de água e a estimativa de vazão em pontos não monitorados. Além disso, as bacias hidrográficas serão avaliadas em como a dinâmica pode variar nos períodos de secas, cheias e com cenários de mudanças do clima e de uso e cobertura do solo”, relata a concessionária.

Para o professor, a iniciativa é importante por ser uma pesquisa aplicada, que consegue gerar um resultado para a sociedade de forma direta. Os pesquisadores costumam realizar dois tipos de trabalho, a pesquisa aplicada, que é o caso do monitoramento, e o trabalho científico de base, de geração de conhecimento, que só será usado anos depois.

“Muitas vezes a gente tem todo o background científico, mas isso acaba não sendo utilizado na prática pelos tomadores de decisão. A gente vê que o monitoramento vai auxiliar e dar informação diretamente para a população. Esse tipo de convênio, de trabalho prático, é extremamente importante justamente por ajudar quem mais precisa, que é a população”, comenta o professor.

Segundo a Águas Guariroba, o projeto tem como principal análise os cenários de mudanças climáticas e de uso e ocupação do solo.

A partir dos resultados desse monitoramento, serão desenvolvidos novos conceitos e inclusões, com o objetivo de auxiliar nas ações de uso e cobertura do solo e na segurança hídrica da Capital.

“A gente instalou mais sensores de nível no Córrego Lageado, colocamos uma estação meteorológica no Guariroba e agora nós estamos fazendo esse trabalho de modelagem hidrológica nas duas bacias”, afirma Tarso.

CRISE HÍDRICA

A Capital passou por situações de racionamento hídrico em 2020 e 2021, quando alguns bairros ficaram sem o abastecimento de água durante o período de seca, e a empresa de abastecimento teve de usar o Balneário Atlântico como fonte hídrica para ajudar na distribuição de água no município.

Em setembro de 2020, Campo Grande chegou a vivenciar um dos momentos mais críticos de seca. A empresa Águas Guariroba foi oficiada pela Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos (Agereg) por falta de água em alguns bairros da Capital, como Vila Bandeirantes, Taquarussu, Amambaí, Caiçara, Jardim Aero Rancho, Centenário, Coophasul, Santa Carmélia, Manoel Taveira, entre outros.

Em outubro de 2021, a situação se repetiu e alguns bairros, como Cidade Jardim, Mansur, Vila Progresso, Coophatrabalho, Coophamat, Rita Vieira, Carandá Bosque, Santa Fé, Autonomista, Jardim dos Estados, Jardim Canguru e Mário Covas, registraram falta de abastecimento hídrico.

O monitoramento, além de alertar sobre os níveis dos reservatórios, também visa auxiliar em outras iniciativas que garantem o abastecimento de água, como implantação de novos poços, para evitar que situações como as de 2020 e 2021 ocorram novamente.

Mesmo antes da parceria com a universidade, a concessionária informa que já fazia monitoramento constante das bacias do sistema de abastecimento de Campo Grande, que é realizado pelo Centro de Controle de Operações (CCO) da Águas Guariroba.

Em razão desse monitoramento, a empresa furou nove poços de água em 2020 e três neste ano.

O acordo entre o laboratório e a empresa é feito em termos de convênio, no qual a concessionária envia recursos para bolsas de professores e alunos e compras de equipamentos e os pesquisadores realizam os estudos.

A Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura (Fapec) também participa da parceria e é responsável por encaminhar os recursos da Águas Guariroba para o grupo de pesquisa.

O coordenador do projeto alega que apenas os estudos não bastam, o resultado desses levantamentos precisa chegar à população, que é a principal afetada com as alterações no nível da água. Tarso afirma que tem proposto que todos os trabalhos do laboratório possam ser disponibilizados por meio de uma plataforma digital.

Apesar de não haver indícios de falta de água em Campo Grande neste ano, em razão do grande volume de chuvas registrado desde o início de 2023, a empresa e os pesquisadores da UFMS frisam que é importante o uso consciente da água, e esta é uma das maneiras de se evitar situações críticas de racionamento no futuro.

Só nos quatro primeiros meses deste ano, choveu um total de 923,6 mm, enquanto de janeiro a abril de 2022 choveu 489,2 mm.

 

Via Correio do Estado

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