Sem violência e rótulos, escritora fala de modo simples sobre como educar filhos
9:15 09/06/2018
[Via Campo Grande News]
“Eu não quero educar os meus filhos assim”, afirma Elisama Santos, escritora e consultora de Educação Não Violenta, durante uma palestra sobre o tema, em Campo Grande. Em tempos de pais cada vez mais agressivos, principalmente, quando se trata do sentimento, torna-se necessário esse tipo de estudo, que ensina à família como se relacionar com a criança sem bater e humilhar.
Como mãe, Elisama foi buscar esse conhecimento há 6 anos na Bahia. Iniciou uma série de estudos sobre Disciplina Positiva que aposta na demonstração de limites com gentileza na hora de educar os filhos. Ensina a desenvolver, primeiramente, o autoconhecimento para que o adulto aprenda a dominar o próprio sentimento e só depois, com paciência e gentileza, possa lidar com as fases naturais de uma criança como o choro, a birra, o se jogar no chão e a dificuldade de entender o não.
Não é tornar pais calmos, pacientes e amorosos o tempo todo, garante a especialista. Como baiana cheia de energia, Elisama garante que também não se encaixa em nenhum desses perfis. “Não sou uma pessoa calma, tranquila e paciente. Nunca fui, sempre fui intitulada como uma menina brava. Quando alguém me irritava caia no soco. Mas quando estava grávida do meu filho, vi uma criança apanhando no supermercado. O olhinho dela pedia socorro e chorei muito. Eu não queria educar os meus filhos daquela maneira, foi quando descobri que dessa forma ninguém educa”.
Elisama passou por uma jornada de autoconhecimento. “A primeira constatação é que ninguém estuda para ser pai ou mãe, e a nossa educação deixa muita marcas emocionais eternas nessas crianças. E somos pessoas que que não sabem manejar os sentimentos, principalmente a própria raiva e com isso deixa de ter compaixão com o outro. Essa é a primeira mudança”.
De um jeito ou de outro, os pais acreditam que estão fazendo o melhor para os filhos, embora saibam dos reflexos e marcas deixadas pela educação que tiveram. Na visão de Elisama, a violência tornou-se normatizada dentro de casa, poucos compreendem que o problema não está apenas em bater. “Violência é também esperar que o outro seja motivado pela culpa, criticar de uma forma que a pessoa se sinta a pior do mundo e humilhar. Porque o roxo que você deixa no braço de uma criança some, mas a dor da humilhação e as palavras influenciam diretamente na interação dela com o mundo”.
Mas como educar? – Certamente a pergunta valeria mais de um milhão de reais garante uma das mães da plateia. Mas sem nenhum pagamento, os passos podem ser mais simples com acolhimento e amor, garante a especialista.
“Quando o filho está difícil de amar é quando ele mais precisa de amor”, resume Elisama. “É nesse momento que você precisa entender que ele está precisando de você, que alguma coisa nesse percurso está prejudicando os sentimentos dele e maneira dele agir, tudo é uma resposta ao que ele está vendo ou vivenciando”.
De maneira resumida, Elisama explica que a educação não violenta consiste em observar, analisar a situação antes de agir e propor uma solução para o problema. “Não espere que uma criança entenda o seu não. Mostre com gentileza que o que ela está sentindo naquele momento do não é uma frustração. Dê nomes aos sentimentos das crianças, ensine que terão inúmeros sentimentos como esse na vida e que há ferramentas de superar todos os desafios”.
Um exemplo clássico de educação violenta, analisando uma rotina comum entre família, é quando o filho esquece o brinquedo preferido em casa ao ir para um passeio. “Normalmente a criança chora, faz birra e na primeira oportunidade os pais gritam. Ameaçam nunca mais sair com o filho, diz que toda vez a situação acontece e em algumas vezes voltam em casa para buscar o brinquedo”, descreve.
Nem violentar e nem ser permissimo demais, é nessa hora que os pais tem o poder de encontrar o equilíbrio e fazer o filho compreender aquela frustração de ter deixado o brinquedo preferido em casa. “Veja como é mais simples: Sente com a criança e diga que você entende o quanto ela está triste. Nesse momento perceba que você acolhe o sentimento dela e automaticamente a criança se sente compreendida. Em seguida você propõe alternativas a ela, uma nova brincadeira, uma nova conversa e quando você menos espera o brinquedo esquecido em casa é o menor dos problemas dela”.
A atitude também pode ser efetiva quando um filho pede um sorvete, por exemplo, ainda quando está gripado. “Normalmente os pais gritam, se irritam e dizem que não pode em tom agressivo”, ao invés de dizer. “Poxa, filho. Eu também. E assim tratar a situação com mais leveza. As vezes ele só quer um sorvete, ele não exige de você”.
Segundo Elisama é preciso exercícios simples para agir diferente nas milhares de situações. Uma delas diz respeito a desculpa. “Em tudo a família ensina que a criança precisa pedir desculpa. Ao invés de fixar essa palavra na cabeça da criança que continua errando, mostre a ela que é preciso sempre pensar no que ela pode fazer para reverter o problema ou então refletir sobre as consequências do próprio erro”.
Na plateia uma das mães questiona como agir quando o filho de três anos dá tapas em seu rosto. E a especialista explica que antes de tudo, é preciso olhar para o outro. “Sem culpar, bater e humilhar, segure a mãozinha dele e observe. Mostre que a mãozinha está machucando alguém e que só ele tem o poder de não deixar isso acontecer. Acredite, ele vai aprender a lidar com a própria raiva e o sentimento que está dentro de si”, diz.
Para que isso e tantos outros exemplos citados pela especialista dê certo, é preciso ter consciência de tempo. “Os filhos precisam de atenção e carinho. Se ele está tocando o terror em casa, é porque tem algo que precisa ser mudado nessa relação. Ele está precisando de você”.
A solução? Um simples carinho, mas verdadeiro. “Dê atenção ao seu filho, nem que seja 20 minutos por dia. Dê uma atenção exclusiva, sem olhar no celular, a televisão ou panela que está no fogo. Converse, olhe nos olhos, conheça a risada da sua criança e escute o que ele tem a dizer sem interrompê-lo. Nesse momento ele vai saber que você pai ou mãe, está do lado dele”.
É preciso também entender os sentimentos e deixar de rotular a criança como alguém que deve ser perfeita. “Entenda, o filho que você idealizou não existe. Criança chora, sente, pede e conquista. Dentro disso tudo é preciso mostrar a ela que ela vai sentir muito mais do que apenas felicidade ou tristeza. Mas que há ferramentas para cada passo na vida”.
Informações – A palestra “Educação Não Violenta” foi um dos temas da roda de conversa que ocorre mensalmente e é realizada pela clínica Nascitá, em Campo Grande. A última conversa foi na quarta-feira, dia 06 de junho. As próximas datas serão divulgadas no Facebook da clínica.
Já quem tiver interesse pela palestra de Elisama Santos, a escritora voltará a Campo Grande em julho para um worshop de cinco horas sobre Educação Não Violenta e capacitação na Disciplina positiva. A programação será também divulgada pela Nascitá.
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