Expectativas dos consumidores

O crescimento salarial mais rápido, em parte, reflete as expectativas mais altas do público para futuros aumentos de preços – a segunda razão para se preocupar que a inflação possa se mostrar difícil. Nos EUA, as expectativas de curto prazo estão aumentando depressa. Os canadenses dizem estar se preparando para uma inflação de 7% no próximo ano, o maior número de qualquer país rico.

Até mesmo no Japão, lugar onde os preços raramente sofrem alterações, as crenças estão mudando. Um ano atrás, uma pesquisa do banco central japonês descobriu que apenas 8% das pessoas acreditavam que os preços subiriam “significativamente” ao longo do próximo ano (os preços ao consumidor, de fato, aumentaram apenas 2,5% no ano até abril). Agora, no entanto, 20% das pessoas supõem que isso vai acontecer.

Expectativas das empresas

O terceiro fator diz respeito às expectativas das empresas. No setor de varejo, elas estão em uma máxima histórica em um terço dos países da União Europeia. Uma pesquisa do Bank of England sugere que os preços das roupas para as coleções de outono e inverno da Grã-Bretanha serão de 7% a 10% maiores que há um ano.

O Fed de Dallas encontrou evidências preliminares de que os consumidores estão menos dispostos a tolerar aumentos de preços do que antes. Um entrevistado do setor de aluguel e leasing reclamou que “está ficando mais difícil repassar os aumentos de preços de 20% a 30% que recebemos dos fabricantes”. Mas isso apenas aponta para um nível mais baixo de inflação alta.

A grande esperança de uma inflação mais baixa está relacionada ao preço dos bens. Aumentos rápidos nos preços de carros, geladeiras e itens semelhantes, ligados em parte aos transtornos nas cadeias de suprimentos, motivaram o aumento inflacionário inicial no ano passado. Agora há alguns indícios de uma mudança.

O custo para enviar algo de Xangai para Los Angeles caiu 25% desde o início de março. Nos últimos meses, diversos varejistas gastaram muito com estoques para manter suas prateleiras cheias. Vários agora estão reduzindo os preços para atualizar o estoque. Nos EUA, a produção de automóveis está finalmente melhorando, o que poderia reverter alguns dos aumentos de preços ultrajantes para veículos usados vistos no ano passado.

Em teoria, a queda dos preços dos bens poderia ajudar a apagar as chamas inflacionárias no mundo rico, aliviando a crise de custo de vida, dando aos bancos centrais espaço para respirar e não deixando os mercados financeiros afundarem. Mas, com indicadores suficientes de preços futuros apontando para a direção contrária, as chances de isso acontecer aumentaram. Não se surpreenda se a inflação continuar feroz durante um tempo ainda.

Via Estadão