Saúde

Casos de violência obstétrica apontam desinformação e quebra da legislação

Circuito MS

10:20 18/07/2022

Segundo a Defensoria Pública do Estado, as mulheres precisam ter acesso aos seus direitos o quanto antes

A maioria dos casos de violência obstétrica ocorre sem que a mulher saiba que foi vítima de algum tipo de violência, é o que explica a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul. A violência obstétrica pode ocorrer durante a gestação, no parto e pós-parto.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) define a violência obstétrica como uma “apropriação do corpo da mulher por profissionais de saúde, na forma de um tratamento desumanizado, medicação abusiva, reduzindo a autonomia da paciente e a capacidade de tomar suas próprias decisões livremente sobre seu corpo e sua sexualidade”.

O assunto sobre violência obstétrica veio à tona após o médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra ser preso em flagrante, no dia 11 de julho, depois de estuprar uma mulher durante uma cesariana em São João de Meriti, no Rio de Janeiro.

O jornal O Estado entrevistou a defensora pública Edmeiry Silara Broch Festi, coordenadora do Nudem (Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher), em substituição legal, que explicou que a melhor forma de coibir qualquer tipo de violência é a mulher conhecer os seus direitos.

Violência Obstetrica

Foto: Nilson Figueiredo

“O que é muito importante é que a mulher seja informada pelo profissional da saúde de tudo antes de ocorrer o procedimento do parto. E não chegar lá como uma boneca, que vai ser manipulada, porque essa é a nossa cultura, a gente não sabe da área de saúde. Nós vamos chegar lá e o corpo da mulher fica totalmente entregue”, ponderou a defensora Edmeiry.

Ao conhecer os seus direitos e como deve ser realizado o parto, seja ele natural ou por meio de uma cesárea, a mulher fica menos vulnerável a práticas violentas, abusivas e ilegais.

“Se a mulher tiver acesso ao plano de parto, conhecimento de todas as manobras e procedimentos que não são cientificamente mais legais [ou indicados], ter um acompanhante e, se puder, um doula, a violência obstétrica, com certeza, ela quase que não tem como acontecer. A mulher estará cercada de todas as precauções”, esclareceu a defensora.

Em entrevista ao jornal O Estado, a doula Thais Idalgo contou como foi ‘vítima sem saber’ de violência obstétrica no pré-natal, parto e também no pós-parto. “Com seis meses tive um sangramento e me desesperei. Fui até o consultório da minha médica na época e ela me perguntou o que eu tinha feito, se eu tinha tido relações sexuais e me deitou na maca. Não explicou o que estava acontecendo, não explicou o que faria, apenas saiu fazendo o exame de toque. Ela bem grosseira. Me passou um monte de remédio, repouso e não explicou o que era”, relembrou.

Thais explicou que depois de fazer os exames de ultrassom e constatar que estava tudo bem ficou mais tranquila, porém ao ler a bula dos remédios receitados o medo voltou a assombra-la. “O remédio falava que era para quem estava em processo de abortamento, eu desesperei de novo”, contou.

Depois disso, Thais ainda foi coibida pela antiga médica. “Eu e meu marido éramos muito leigos, troquei de obstetra e a médica anterior ficou revoltada. Mandou mensagem até para minha doula falando que eu estava me colocando em risco, quebrando a lei do sigilo médico”, relatou.

Atualmente, Thais Idalgo, atua como doula e afirmou que a violência sofrida a motivou a conhecer os direitos das mulheres e assim ajudar outras gestantes, no momento mais delicado de suas vidas.

“Depois de tudo isso, quando eu engravidei do meu segundo filho eu fui atrás de um curso de doula. Entendi que o que eu passei faz parte de um dos cinco tipos de violência obstétricas elencados até pela ONU e pela Organização Mundial de Saúde”, constatou.

Iniciativa premiada

O Projeto “Capacitação e Informação no Combate à Violência Obstétrica”, desenvolvido pelo Nudem, promove palestras e capacitações.

O projeto é vencedor do prêmio Innovare 2019. “Esse projeto tem como objetivo principal disseminar o conhecimento as mulheres e capacitar a rede para acolher as gestantes. Já atingimos 1.547 profissionais de 2017 até 2021, que trabalharam com 866 mulheres gestantes” apontou a Defensora pública Edmeiry.

Como denunciar

As denúncias podem ser realizadas junto à ouvidoria do hospital, ao Ministério Público, à Defensoria Pública de MS, à Secretaria de Saúde ou pelos números 180 e Disque Saúde 136.

Via O Estado Online

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